Juíz proíbe atores mirins de atuarem em peça de Miguel Falabella, que manda recado: “se a sua intenção era a fama, pois que seja feita a sua vontade”


Uma decisão de Flavio Bretas Soares, juiz da Infância e Juventude do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, impediu a participação de Matheus Braga, de 13 anos, e Kaleb Figueiredo, de 10, na estreia da peça “Memórias de um gigolô”

A estreia do musical “Memórias de um gigolô” na noite desta segunda-feira (13) no teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, começou com um desabafo-protesto de Miguel Falabella, o diretor do espetáculo. O motivo? Uma decisão de Flavio Bretas Soares, juiz da Infância e Juventude do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, impediu a participação de Matheus Braga, de 13 anos, e Kaleb Figueiredo, de 10, na estreia na peça. Segundo a produção, o argumento para a proibição foi a presença de suposta linguagem inadequada – o termo “masturbação”. Com a decisão, Falabella teve de reestruturar todo o musical horas antes das cortinas abrirem. As mudanças atingiram principalmente o primeiro ato, que é onde Matheus cantava, para se ter ideia, 14 canções – que foram retiradas.

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Antes do espetáculo começar, Falabella subiu ao palco com os dois atores mirins ao seu lado. Cada um tinha uma fita isolante na boca em formato de “X” e ficaram ao lado do diretor durante um desabafo ao público presente. “Ainda celebraremos essa noite, mesmo que por causa da decisão do juiz Flavio Bretas Soares, Matheus Braga e Kaleb Figueiredo, os dois atores alternantes do personagem jovem Mariano, não possam se apresentar  nesse espetáculo. Uma das razões alegadas foi  é  que o personagem usava a palavra ‘masturbação’ no texto, e que isso poderia prejudicar o desenvolvimento psíquico dos menores”, disse.

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Para Falabella, o teatro ensina os dois jovens talentos “a dominar a língua,  a se expressar com clareza, a aguçar o raciocínio e a olhar o mundo com os olhos da poesia. E o teatro musical ainda por cima lhes ensina a música”. E completou: “Além disso,  ambos jovens atores têm longo currículo e foram acompanhados pelos pais durante todo o processo de ensaio. É  lamentável que o juiz desconheça que a justiça e o teatro  são filhos do mesmo berço e é perigoso quando abaixamos a cabeça para esse tipo de atitude arbitrária e retrógrada”.

O diretor, sob aplausos, aproveitou para lembrar do seu tempo, já que começou a carreira no ramo na virada dos anos 70 para 80. “Vi o que o regime autoritário é capaz de fazer com o teatro. Sua decisão é  assustadora excelentíssimo juiz. O teatro é, antes de mais nada, o espelho de uma civilização. Se a sua intenção era a fama, pois que seja feita a sua vontade. O senhor ganhou uma patética e tristonha citação na história do teatro brasileiro, mas tomando emprestado as palavras de Darcy Ribeiro, eu lhe diria que não gostaria de estar no lugar quem lhe venceu. Um agradecimento especial a esse maravilhoso elenco,  que lutou com afinco para o ensaio de última hora”, discursou.

Com Mariana Rios , Marcelo Serrado e Leonardo Miggiorin nos papéis principais, “Memórias de um gigolô” fala do órfão Mariano, criado por uma cartomante e adotado pela dona de um bordel após a morte de sua protetora inicial. Por lá, ele começa a escrever cartas e se transforma no rei da noite dos anos 30. Inspirado num livro de Marcos Rey, o musical já virou filme e programa de televisão nas décadas de 70. Nessa versão teatral, Falabella contou com a ajuda de  Josimar Carneiro (de “Império”) no roteiro.

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Na plateia, ouvindo tudo e aplaudindo: Ary Fontoura, Fiuk, Sandro Pedroso, Nany People, Brunete Fraccaroli, Rubens Ewald Filho, Fernando Torquatto e Tiago Abravanel. Siga os cliques de Léo Franco na seta.

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