Em papo exclusivo com HT, Janie Bryant, responsável pelo absoluto sucesso fashion de “Mad Men”, fala sobre o papel da moda no seriado!


Figurinista badalada no mundinho atual da TV já venceu um Emmy está na Cidade-Maravilha por conta do Rio Market e Festival do Rio

*Por João Ker

A figurinista norteamericana Janie Bryant pode ser considerada como uma das mais importantes no meio televisivo. Através de séries como “Deadwood”, pela qual ganhou um Emmy em 2005, e “Mad Men”, a americana já foi indicada seis vezes ao prêmio na categoria ‘Excelência em um Figurino de Série’. Em rápida passagem pela capital fluminense, por ocasião do Rio Market, a feira de negócios que acontece na Zona Portuária em paralelo ao Festival do Rio, a costume designer abriu sua agenda para uma conversa com HT durante a tarde desta sexta-feira (26/9).

Mais importante do que as láureas e projeção conquistadas, é a maneira com que Janie consegue construir um universo sessentista tão verídico em “Mad Men” que chama atenção, sobretudo na hora de retratar uma década em que a estética teria tudo para ficar caricata . A série mostra o mundo dos magnatas da publicidade na Nova York dos early sixties, com algumas aparições de personagens emblemáticos reais da cultura e da sociedade norte-americanas, como Philip Kotler, um dos pais das teorias de marketing e Conrad Hilton, dono do famoso império de hotéis, contando até com a presença ilustre da McCann Erickson, uma das agências de publicidade mais importantes do mundo, desde seus primórdios até os dias de hoje.

Mas, bem mais do que os trâmites daquilo que acontece no traiçoeiro mundo da propaganda, o programa revela uma pegada comportamental que é sua marca registrada, mostrando os costumes e a sociedade da época, servindo como um precioso relato sócio-comportamental do período. E, claro, o figurino desempenha um papel fundamental no storytelling de cada personagem, refletindo postura, classe econômica e a sua conformidade ou não com os padrões vigentes.

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Fotos: Divulgação

Seja pelos ternos alinhados de Don Draper (Jon Hamm), o estilo diva do cinema de Megan Draper (Jessica Paré), os vestidinhos “new look” de Betty Draper (January Jones), ou a voluptuosidade nos tubinhos da bombshell Joan Harris (Christina Hendricks), a figurinista consegue deixar a sua marca na série e potencializar ainda mais as ótimas performances do elenco. Mais impressionante ainda é o apelo que alguns looks montados por ela conseguem imprimir para as consumidoras dos dias atuais. Algumas vezes, seu trabalho na telinha virou febre de consumo. Ainda assim, ela diz que o que se vê na TV tem essa marca por conta da riqueza de estilos nos anos 1960: “Eu sempre considerei essa década como a dos ‘clássicos e icônicos modelos americanos’, porque nós usamos aquelas silhuetas até hoje, que vão e voltam. Os homens de hoje ainda vestem terno e gravata, assim como os homens de “Mad Men”. Eles podem ter um caimento diferente ou o design ser diferente, mas a silhueta é o que as pessoas entendem até hoje como terno e seus shapes volta e meia podem ser indicado como contemporâneos, já que o estilo dos ternos também se renova olhando para o passado”.

E Janie ainda reitera que o mesmo acontece com a moda feminina: “Quer dizer, isso também vale para o time de mulheres. A maioria dos vestidos criados nos anos 1960 são usados até hoje, principalmente o modelo “shift”. Então, eu acho que esse é o motivo pelo qual a série é tão relevante em um sentido fashion“, explica.

De acordo com a figurinista, a relevância de “Mad Men” na moda é tão forte que, mais cedo durante sua palestra no evento, Janie disse que grifes como Michael Kors, Prada e Louis Vuitton começaram a se inspirar no programa para suas coleções. Este ano, ela também lança um livro chamado “The Fashion File: Advice, tips and inspiration from the costume designer of Mad Men” (“O Arquivo Fashion: Conselhos, dicas e inspiração da figurinista de Mad Men”, em tradução livre), escrito em parceria com a jornalista Monica Corcoran Harel e que contém vários croquis e looks do seriado, além de um prefácio assinado por January Jones.

Aliás, sobre a atriz, ela enfatiza: “Ela é uma pessoa tão fácil de trabalhar e nunca reclama de nada. Eu me lembro de, na 2ª ou 3ª temporada, nós fazermos as escolhas para Betty e haver uma cena em particular onde ela estava recostada em uma poltrona, enquanto fantasiava sobre Henry [o amante da personagem]. E havia esse vestido que era provavelmente dez vezes do tamanho dela, não tinha o estilo certo nem nada, mas eu simplesmente amei a estampa e o tecido, e queria ver como ele ficaria no corpo dela . Então, na hora da prova de roupas com a January, pedi para ela usar o tal vestido, que ficou parecendo um saco enorme. Ela pensou que eu estava ficando louca, sabe? ‘Janie, o que você está fazendo?’ (risos). Ela voltou no dia seguinte e eu havia refeito a peça inteira. Cortei as mangas e o comprimento, o transformando nesse maravilhoso vestido de verão que foi acabar no ar”.

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Fotos: Divulgação

Em janeiro de 2015, a última parte da série vai ao ar pela AMC, mas as gravações já foram finalizadas. Depois de desenhar uma linha para a Banana Republic e lançar sua própria coleção de legwear, a Janie Bryant Leg Couture, a designer diz que nunca foi sua intenção escolher outfits da moda para o elenco, mas sim reforçar suas personalidades. E que, para tal trabalho, ela nunca encontrou dificuldade com nenhum ator, porque todos compreendiam bem o processo de “entrar no corpo” do personagem.

Ainda assim, Janie confessa que algumas partes do roteiro eram mais desafiadoras: “São tantos personagens para cada cena específica, que às vezes fica mais difícil quando as cenas são gigantes e nós temos todos os personagens ao mesmo tempo, com centenas de fundos diferentes.  Jantares, festas, idas ao supermercado, reuniões na agência… A parte difícil mesmo é ter que pensar em vestir todas essas pessoas juntas da cabeça aos pés, e ainda fazer com que cada um se destaque individualmente. Isso pode ser bem estressante”, confessa.

Cena de festa em Mad Men (Reprodução)

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