*por Luísa Giraldo
Laura Pace quebra com a absurda ditadura velada que ainda existe de que toda influenciadora digital tem um corpo inalcançável. A criadora de conteúdo de 22 anos tem um trabalho focado na desconstrução de velhos e preconceituosos padrões de forma a tocar os internautas e despertar um olhar de gentileza para eles e o mundo. Ícone da autoaceitação, a loura procura trabalhar o tópico com leveza, carinho e humor, mas lida constantemente com o hate do público. Ao site, Laura abre o coração sobre o tema da autoestima, dos padrões inspirados nos anos 2000, e a relação com o próprio corpo ao longo do tempo.
A influencer detalha que tenta trabalhar o tópico da autoaceitação a partir da identificação e do humor do público. “Abordo esse assunto de uma maneira muito descontraída e fazer brincadeiras. Gosto de levar a sério até certo ponto, já que é um assunto sério, mas não acredito que o caminho do autoaceitação precisa ser tão sofrido quanto já é. A gente pode ver esse processo com mais leveza. Não precisa ser tão dolorido. Faço isso quando produzo um conteúdo que estou trocando de roupa e aperto a minha barriga, como forma de carinho”.
Ao abordar o tema com humor, Laura descreve que normaliza a ideia de que o tipo de corpo não magro existe e que ele é lindo. Para tal, a creator “interpreta” com ironia nos vídeos nutricionistas gordofóbicas, coachs de emagrecimento e entre outros personagens que costumam criticar corpos diferentes do padrão.
Em relação aos haters: a influenciadora confessou não ligar. Em um primeiro momento, ela sentiu o impacto de uma grande visibilidade com milhares de conteúdos bodyshaming. Tranquila com o assunto, Laura entende que está bem resolvida com seu corpo, trabalho e aparência. Quando possível, a loura ainda desdobra os comentários em conteúdos para o perfil.
“Não levo para o lado pessoal porque a pessoa não me conhece e não sabe nada da minha vida. Geralmente, ela fala que eu não faço exercício e que eu não me exercito bem. Mas sei que eu faço exercício e me alimento direito. É um conteúdo interessante de ser mostrado para as pessoas para que elas percebam que não necessariamente você vai se exercitar e se alimentar de maneira saudável para alcançar a magreza estética, mas o autocuidado”, afirma ela, que começou a produzir conteúdo em 2019.
Atenta às trends do momento, Laura identifica um perigo na hipervalorização da magreza, advinda da moda dos anos 2000. Ela compreende que o público se influência facilmente com os conteúdos que eles passam a consumir. Outro ponto a ser refletido, pontua ela, é a normalização das cirurgias plásticas.
“É muito perigosa a ideia de que somos bem-visto apenas se estivermos seguindo uma determinada tendência. Ainda mais quando estávamos falando de plásticas e mudanças permanentes no corpo. A gente tem que pensar e repensar urgentemente sobre as nossas influências nas redes porque muito da forma como a gente se enxerga hoje está relacionada aos conteúdos que a gente consome na internet. Óbvio que tem também o aspecto da criação: nós fomos criados em uma situação que cultua a magreza. Então, o processo de desconstrução desse ideal é muito complexo”.
Como dica, Laura alerta que o público precisa ter controle de escolher quais pessoas podem influenciar seus gostos e comportamentos. Afinal, ela pondera que as trends e modas do momento da magreza só fazem com que as mulheres se enxerguem de forma a desvalorizar o próprio corpo.
A partir do momento que você entende a indústria da magreza e compreende que foi tudo criado para fazer com que as mulheres apenas gastem dinheiro e muito energia em algo inalcançável, que elas não vão conseguir, é fácil de enxergar que a intenção é que a gente fique infeliz com o próprio corpo. A ideia ‘só vou ser feliz quando for magra’ é errada. As coisas não funcionam dessa maneira, ainda mais pela presença de tudo aquilo que colocaram na nossa cabeça ao longo da vida – Laura Pace
Autoaceitação
Com pesar, Laura relembra que sempre desejou emagrecer ao longo da vida. A erronia ideia de que ela seria mais amada e desejada prevalecia na cabeça. A criadora de conteúdo desabafa sempre ter sido “gordinha e baixinha”, aspetos físicos que fogem do corpo patrão imposto socialmente .
“A relação que eu tinha com o meu corpo até os 18 anos foi bem complicada, mas com o tempo ela foi melhorando. Aos 20 e 21, fui mudando a forma que eu me enxergava. O elemento que me fez mudar o olhar foi a maturidade. A minha autoestima estava condicionada ao meu físico e a ideia de que eu seria desejada ou não por ele. Entendi que tenho hábitos saudáveis e que me exercito e esse é o meu corpo e está tudo bem. Após a pandemia especialmente, percebi que há muitos aspectos da vida que importam mais do que o corpo e a beleza”, recorda.
Atualmente, não há nada no corpo de Laura que “tire o sono” dela. No entanto, ela não esconde que tem seus dias mais frágeis, quando acorda não se sentindo bonita. Para ela, trata-se mais da forma na qual ela acorda naquele dia e do próprio momento do que algo relacionado ao corpo.
Laura compartilha o ponto de vista sobre como exercitar um olhar mais carinhoso para o corpo. “Cada pessoa tem a sua própria história e o próprio de jeito de lidar com o corpo. A gente deve se perguntar ‘por que considero isso uma imperfeição?’ ou ‘quem disse que esse aspecto é imperfeito?’. Entender a origem de todos esses pensamentos ajuda bastante a melhorar a relação autoestima-corpo”, disse ela, ao lembrar da própria barriga, um elemento constantemente destacado nos seus vídeos.
Finalmente entender que a autoestima não deve ser centrada na aparência libertou Laura de uma cruel prisão estética. A visão crítica acerca da indústria e do lucro incessante com as inseguranças femininas, sobretudo relacionadas à aparência, a auxiliou na quebra de paradigma.
“Trata-se de um exercício diário, não é do dia para a noite. Demora. Tem muita coisa para ser entendida. O segredo é reconhecer as imperfeições e abraçá-las. A beleza parte de um olhar muito mais para si mesmo do que por parte do outro”.
Obesidade versus Autoaceitação
Laura distingue os tópicos “obesidade” e “autoaceitação de um corpo não magro”, de forma a pontuar que a primeira é uma doença complexa e que envolve diversos aspectos da saúde que precisam ser monitorados com frequência.
“São dois temas completamente diferentes. Procuro trabalhar isso no meu perfil. Para abordar o tópico com os meus seguidores, mostro a minha rotina saudável e de exercícios. A ideia é achar um equilíbrio e se comprometer com ele. Então, ter um olhar gentil é entender que nós fomos ensinados a olhar para o corpo de uma forma negativa, como ele não é. E não tenho uma rotina e nem condições de tê-lo daquela forma. Eu posso ser saudável, ter uma relação boa com os exercícios e não ser magra. Está tudo bem. Balancear é falar sobre a saúde.
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