* Por Carlos Lima Costa
Paralelo a profissão de ator, há dez anos, o também apresentador Hugo Bonemer desenvolve ações dentro do ativismo sócio ambiental, participando de movimentos em prol de instituições como a CasaNem, lugar de acolhida a pessoas LGBTs em situação de vulnerabilidade social, e a Casa Ronald McDonald, que acolhe crianças com câncer. “É um processo de humanização. Uso a voz que me foi dada nas mídias para potencializar esse trabalho que já existia e para isso consigo parcerias. Acredito na força das empresas para promover a transformação de que necessitamos. Faço palestras com contrapartidas sociais, por exemplo, já desafiei a Malwee a fazer uma doação de 200 moletons novinhos e eles toparam. Assim, consegui ajudar várias instituições em uma época que as temperaturas estavam baixas”, ressalta ele, que utiliza sua rede social com esse intuito.
Dentro desse movimento, Hugo vai participar no próximo sábado, dia 25, da 3ª edição do CRE8 Experience, no Studio Arte, em Nova York. O evento conta com painéis para debater variados temas que impactam a vida no mundo digital. “Este ano, a conferência vai apresentar painéis que ensinam a usar o Instagram. No meu, acho relevante falar sobre como podemos usar o espaço que temos nas mídias para fazer algo que tenha valor para todo mundo. Procuro influenciar de forma positiva as pessoas que estão produzindo conteúdo na internet, então, estes painéis servem para trocarmos informações. Se as pessoas que estão assistindo sentirem que podem incluir no cardápio de opções que elas dão para os seus influenciados algo relacionado ao que eu acredito, vai ser ótimo. Esse é o meu objetivo. Também receberei informações que eu nem imaginava. O papel desse evento é trazer trocas edificantes em relação a como se produz conteúdo para a internet”, ressalta ele, que na primeira edição abordou a ética na produção de conteúdo no marketing digital, e em 2020, sem evento presencial, optou por ressaltar uma das causas que defende.
Hugo aponta que através de pequenos sinais é possível obter mudanças no comportamento. “Assim, será que é bacana um influenciador usar uma sacola ou um copo plástico enquanto ele está produzindo um conteúdo? Em vez disso, ele pode utilizar uma sacola retornável e um copo retrátil. Através desses detalhes, vamos conseguindo que as pessoas normalizem determinadas atitudes no cotidiano. Podemos também pensar um pouco mais sobre até onde podemos ir e cobrar das pessoas que podem ir além. Hoje, incentivo as pessoas a cobrarem empresas, em direct, que investem em discurso de ódio, por exemplo. Que questionem o motivo delas patrocinarem um programa ou uma pessoa que fale coisas que deponham contra conceitos humanitários básicos. A gente precisa de pautas urgentes para avançar”, explica.
Esse é o comportamento que Hugo já reproduz em sua rede social, onde gosta de postar conteúdo informativo. “A internet hoje é uma forma da gente trocar em relação as pessoas ainda mais em um momento pandêmico em que estamos tentando flexibilizar com segurança algumas atividades. Me preocupo bastante com o que posto na rede social, mas sem polemizar com o que os outros estão fazendo. Esse não é o meu papel”, acrescenta.
Hugo vive hoje como ator e apresentador. “Realizo as palestras para empresas de uma forma realmente que me faz bem. Elas me dão essa voz para poder dialogar com outros produtores de conteúdo e me ajudam a transformar o que é preciso”, diz.
Defensor da causa LGBT, Hugo, que em 2018, falou pela primeira vez sobre sua orientação sexual minimiza qualquer obstáculo que isso possa ter lhe trazido à carreira. “Existiu um processo tão natural de abertura da minha orientação afetiva para as pessoas, que passou a ser algo que já não penso mais tanto sobre. Quando falo sobre esse assunto, procuro não focar mais no que me causa, porque não é mais sobre mim. A minha parte está muito bem resolvida, a paz que eu sinto hoje não seria trocada por qualquer outra situação profissional, mesmo que isso significasse uma outra colocação dentro do mercado profissional”, pontua.
No momento, Hugo não está no Brasil. No dia 7, ele embarcou para a Costa Rica, e fez quarentena de 15 dias antes de ingressar nos Estados Unidos. Além do CRE8, ele vai aproveitar a viagem para realizar gravações para o canal transmídia Like, onde é um dos apresentadores. “Nesse ponto, a viagem vai ser bem produtiva”, diz ele, que já foi imunizado com as duas doses da vacina contra a Covid-19 e retorna ao Brasil no começo de outubro.
Hugo deixa claro que a pandemia tem sido uma fase de altos e baixos. “Consegui manter a sanidade, cercado de muitos privilégios. Continuei tendo entrada de dinheiro trabalhando de casa, tanto com dublagem quanto com o Like. A pandemia não acabou porque a gente encheu o saco dela. Eu perdi pessoas também, por sorte ninguém na família. Tem dias que parece que a gente vai enlouquecer, tem dias que parece que dá para viver mais um tempo assim…”, relata ele, que no final de 2020, fez participações como ator nos filmes Me Tira da Mira e Fora de Cena.
Nos últimos tempos, tem se dedicado mais à dublagem e apresentação no Canal Like, onde fala sobre cinema. “A equipe focou em criar um novo canal que fala especificamente sobre cinema dentro da grade da TV a cabo. Entrevisto atores, mas também as pessoas que fazem tudo acontecer e que a gente não vê. É um canal realmente focado na ideia do que é fazer cinema com uma pegada de indicação de filmes”, ressalta.
Na dublagem, é dele a voz do personagem Tronco nos filmes da saga de animação Trolls, que no original tem a voz de Justin Timberlake, e também na série da Netflix até a quinta temporada. É dele também a voz do ator Rami Malek, no filme Bohemian Rhapsody, onde ele interpreta o cantor Freddie Mercury (1946-1991), e no longa-metragem do agente secreto James Bond, 007 – Sem Tempo Para Morrer.
Hugo conta que durante a crise sanitária teve tempo o suficiente para pensar como melhorar o conteúdo que produz para as pessoas. “Mas não estou no Instagram para ditar regras e dizer que está todo mundo errado”, assegura ele que anda com saudade de atuar mais no audiovisual e no palco. “Espero que a gente possa abrir os teatros com toda capacidade de público”. Nesse momento de maior introspecção, ele tem focado mais no ativismo. Além de palestras, por exemplo, ele já viajou com a família Schurmann para retirar plástico no meio do mar.
“Vejo uma abertura gigantesca das pessoas. Sinto que quando converso com elas, me dão ouvidos ao que eu tenho a dizer e se sentem motivadas a fazer algo. Isso reforça a minha crença em falar mais sobre determinados assuntos. E sinto que outras pessoas vão falar também dessas pautas. Dessa forma, a gente tende a ter um resultado muito positivo. Só consigo fazer o que eu estou fazendo, porque também tenho uma rede de pessoas que me estimulam a falar. Este é um dos pontos que eu levo para falar lá em Nova York: A seleção do que a gente segue nas redes e como a gente se alimenta delas para transformar quem somos. Tem muitas contas hoje falando dessa questão do plástico, da gordofobia, de pessoas LGBTs, que nos estimulam a refletir sobre tudo de forma humana, concreta e nada preconceituosa”, observa.
Hugo, por exemplo, questiona empresas que produzem carne sobre quando elas vão criar uma alternativa vegetal para pessoas que pensam como ele. “Eu sou consumidor, quero poder comprar um produto que não tenha sofrimento animal e quero que entendam que é mais lucrativo para eles trabalhar dessa forma com produtos que podem nos dar o paladar e toda nutrição de que precisamos sem acabar com o planeta. Nessa questão, já estou abordando questões ambientais”, explica Hugo, que é vegano e não come nada de origem animal como os queijos.
“Eu consumo as carnes e os queijos que tem origem vegetal. Hoje, a gente vive um momento incrível. Temos queijos novos criados com base vegetal com novos sabores, texturas, que derretem e são ótimos para comer com sanduíche, para acompanhar um vinho”, afirma.
Ele entende que muitas pessoas deixam de consumir esses produtos por acreditar que sejam mais caros. “Esse é outro mito que eu quebro. Os vegetais são mais baratos, ainda mais com o Brasil vivendo um momento tão complicado. É uma oportunidade muito grande desse mercado que está crescendo bastante e que os produtos estão ficando cada vez mais baratos. Nas grandes capitais, por exemplo, os preços dos queijos vegetais já se equiparam ou batem os de origem animal. E seja mussarela, gorgonzola ou brie, as pessoas vão pagar o mesmo preço. Não tem diferença. Existe uma conta que eu sigo, a Vegano Periférico, que fala justamente sobre isso. Ela deixa claro que o veganismo não é um movimento elitista, não é feito de produtos caros que ninguém tem acesso. Aqui no Brasil, vejo novas marcas surgindo e a competição é muito saudável. Antigamente pegava queijo vegano e tinha gosto de iogurte de morango. Hoje, os caras estão arrasando muito. Ainda tem supermercado vendendo queijo vegano a um valor absurdo. Mas tem lugares onde esse produto é mais barato”, finaliza.
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