O badalo todo lembrava o emblemático Baile da Ilha Fiscal, o último do Império, ocorrido poucos dias antes da proclamação da República, no Rio, quando o grand monde da época pôs os bofes para fora como forma de extravasar aquele período que chegava ao fim. Houve certa semelhança entre a festa desta noite de sábado (12/7) e o derradeiro evento do Brasil Imperial, com os convidados chegando à imponente mansão da família Monteiro de Carvalho, em Santa Teresa, cujos jardins foram decorados pela Hublot para comemorar o final da Copa do Mundo. Como se sabe, durante a confraternização esportiva, a marca de relógios suíços tomou posse de um hotel inteiro, na orla de Copacabana, repaginado para o evento como Hublot Palace e pronto para receber seus convidados.
Fotos: Cesar França
A grife tem parceria bacana com ícones do esporte nacional, como Pelé e Gustavo Kuerten, e o CEO da marca Ricardo Guadalupe aproveitou o ensejo para organizar a festa “Hublot Loves Football” na cinematográfica propriedade. E, diante de mais uma derrota da seleção brasileira ocorrida nesta mesma tarde de sábado na partida que decidiu o terceiro lugar, o grito de guerra era expurgar o momento e, como em um filme de 007, “Viver e deixar morrer” (Live and let die). Sim, os convidados lavaram a alma com o show exclusivérrimo de Wyclef Jean, o badalado produtor musical haitiano que fez carreira no The Fugees, ao lado de Lauryn Hill.
Os lounges e bares espalhavam-se pelo deslumbrante jardim, a noite estava bonita, o friozinho permitiu que todo mundo – entre os seletíssimos convidados – pudesse caprichar na montagem, ainda que se tratasse do Rio de Janeiro, onde a tônica é o excesso de informalidade. E o champanhe farto da Moet & Chandon e a vodca Belvedere ainda possibilitavam que todo mundo pudesse exorcizar o técnico Luiz Felipe Scolari e sua seleção de canarinhos trapalhões, esquecendo de uma vez por todas o fiasco nessa Copa e se preparando para o ano tardio que se inicia nesta segunda-feira (14/7). Afinal assim como o Século XX adentrou apenas após a 1ª Guerra Mundial, 2014 começa agora. Quer dizer, isso se as eleições presidenciais de outubro permitirem e a politicada não atrasar a vida da brasileirada.
Fotos: Zeca Santos
Wyclef incendiou o palco, montado na varanda do palazzo, com pista de dança em frente. E parecia estar com o diabo no corpo. Como o moço nasceu no Haiti, não seria surpresa se até chegasse a convidar todos para participar de um ritual de vudu, pronto para espetar alfinetes no bonequinho de pano com a cara de Felipão. Mas ele mostrou logo quais são suas preferências futebolísticas. Quase em transe, o músico gritou várias vezes durante seu show: “Argentina, Argentina, Argentina! Maradona!”, revelando que torce pela seleção latina na final do Maracanã. E ainda fez de tudo em cena. Cantou versões hip hop de “Guantanamera” e “Staying Alive“, dos Bee Gees, pôs todo mundo para pular na pista, colocou convidado japa no cangote, deu piruetas e abriu rodinha para dançar com duas passistas de escola de samba, na hora em que um grupo de percussionistas garimpados em várias escolas de samba adentrou o espaço. Sim, era festa também para gringo, e havia uma infinidade de estrangeiros no badalo.
Pelé chegou escoltado pelos guarda-costas suíços contratados pelo evento. E ficou o tempo todo no cercadinho com Ricardo Guadalupe, posando para fazer fotos e, quando ia dar uma entrevista para um ou outro dos poucos jornalistas convidados, era cercado pelos seguranças, que não permitiam. HT aproveitou para dar uma circulada e perguntar aos presentes o que acharam do desempenho mico da seleção brasileira nesta Copa, qual seria o porquê e como será daqui para frente. Confira nas fotos de Zeca Santos!
Para o artista plástico Romero Brito, um ícone do Brasil no mundo, assim como o futebol, “O Brasil já ganhou cinco Copas e uma hora vem outra. Esse é o momento, o desfalque do Neymar foi um problema e é preciso lidar com isso. Tudo vem e passa, até futuras e novas vitórias da seleção brasileira”, filosofa.
Para Helcius Pitanguy, o resultado dessa Copa não importa e é passageiro: “O país como um todo suplante o futebol, e o evento é ótimo para mostrar o Brasil lá fora”.Já sua amiga Narcisa Tamborindeguy, torcedora passional, é enfática: “Achei o time uma @*&#@”!
A bela atriz Letícia Birkheuer, linda como sempre, faz parte do coro que se decepciou com o Brasil. Jogadora de basquete na adolescência, se limitou a balançar a cabeça com ar de reprovação e dizer: “Tsc, tsc, tsc…”
O DJ, videomaker e ex-modelo Walter Rosa resume o que faltou à seleção brasileira em três palavras: “Humildade, organização e método”.
O ás da fotografia gastronômica, Sergio Pagano, acredita que o Brasil tem coisas boas e ruins, o futebol tem altos e baixos e o importante é olhar adiante.
Para a atriz e cantora Surama de Castro, maranhense que ganhou o mundo, casou com conde italiano, morou na Europa, mas ama o Brasil: “O país é incrível e o importante agora é olhar para as questões relevantes que o futebol eclipsa. Eleições com responsabilidade, educação, mais escolas, hospitais, infra-estrutura”.
A extravagante shoe designer argentina Concepcíon Cochrane Blaquier, que volta e meia está por aqui, também olha o Brasil pós-derrota na Copa das Copas com visão de Debret e Rugendas: “El país és increible!”
O holandês Edgar Davids, natural de Paramaribo e atualmente técnico do Barnet, seu último time como jogador profissional, relata com expertise sobre aquilo que aconteceu com a nossa seleção canarinho: “Faltou um planejamento melhor, não houve estratégia. Os brasileiros pareciam estar jogando ao léu”.
Andrea Natal, gerente geral do Copacabana Palace, icônico como o nosso futebol nacional, acredita que o saldo, apesar da derrota no campo, foi positivo: “O Brasil ganhou muito espaço na mídia, algumas melhorias foram feitas e nem posso me queixar. O saldo foi azul e nós mesmos, lá no hotel, ficamos felizes com os 33 dias com ocupação plena, com faturamente que suplanta até o Réveillon e carnaval. Agora, é preciso se organizar melhor, cada vez mais aliás, tanto no futebol quanto na vida, dizendo não ao oba-oba”. Sua amiga, a arquiteta Marinha Mascheroni, que mora em Lisboa há dez anos, completa que considera a Copa por aqui fundamental, Brasil ganhando ou não: “Lá na Europa, todos estão comentando que a Copa deveria ser aqui em nosso país todas as edições”.
Já para Rohan Marley, filho de Bob Marley e ex de Isabeli Fontana, “O importante é ser feliz e deixar a vida seguir seu rumo, com ou sem vitória no futebol”, confessa com certa sabedoria no ar, mesmo um pouco calibrado pelo champanhe.
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