*Por Bruno Muratori
Com a crise na Europa e as lojas em Lisboa fechando aos borbotões, negócios em expansão se tornam raridade. Entre os poucos empreendedores de sucesso atualmente, é possível afirmar que o brasileiro Marcio Honorato é chapa-quente. Literalmente. Explica-se: na terra do bacalhau, o vício por carne picada tem se revelado uma ótima pedida e um novo tipo de hambúrguer tem feito sucesso na capital portuguesa, bem de acordo com a recessão. E o empresário brazuca, instalado na cidade há mais de 11 anos, descobriu sua galinha dos ovos de ouro. Ou melhor, o bife de ouro. Desde 2011, seu negócio não para de crescer e o olho gordo em cima da Honorato Hambúrgueres Antesanais pode acabar virando regra, com a necessidade de importação de uma mãe de santo para benzer o restaurante com muita arruda e catchup.
Seus hambúrgueres têm cara de american diner de filme de cinema e viraram febre em uma metrópole que se orgulha da sua tradição culinária, anti-americanófila e cheia de peixes grelhados, aletria e doces à base de gema de ovo. Agora, o burburinho é tão grande que, na esteira do seu trabalho, surgem a cada dia novas opções. E, com a concorrência acirrada, é possível dizer até que há uma “guerra gourmet” no segmento. No passado, quando Honorato abriu sua minúscula casa de hambúrgueres no Príncipe Real, o espaço logo ficou badalado, com direito a fila na porta e todo aquele boca a boca. “Para evitarmos filas de espera, por favor, não espalhe que comeu aqui o melhor hambúrguer de Lisboa”, lia-se em um cartaz à entrada, ideia do próprio dono. Foi assim que o cara com jeitinho de cativar conseguiu arrebanhar a clientela e amealhar sorrisos até hoje.
E, já que português adora novela brasileira e em toda boa história de sucesso é sempre preciso alguma pitada de emoção forte para apimentar as cenas do próximo capitulo, comenta-se, à boca miúda, que foi por conta de desentendimentos de Honorato com o proprietário do local, por causa de uma nova lei de arrendamento, que o comerciante-gourmand foi buscar um novo espaço. Um perigo para negócios estabelecidos, mas tudo acabou dando até mais certo. Com a mudança, os seus hambúrgueres ganharam upgrade, e agora já não são os melhores de Lisboa, mas sim “os melhores do país”, como se lê agora em um quadro de giz. E talvez até mereçam tal título – somente alguém que os prove é capaz de confirmar, mas não faltam entusiastas ferrenhos.
De lá para cá, pipocaram novas hamburguerias em Lisboa, quase todas com sucesso de público, porém é a do Honorato que costuma ser cultuada pelos lisboetas, com aquela idolatria boêmia de casas como o Cervantes e o Braseiro, no Rio, e o Padoca em São Paulo. Sim, os lisboetas ainda são fieis à originalidade (para eles) e transformam esta coqueluche tardia em neo-tradição. E hambúrguer agora é assunto de honra na metrópole, daqueles que kamicase defende com katana no pescoço do opositor, exterminando quem discorda. Como o caso do grupo musical Capitão Fausto, cujos integrantes eram tão fãs de carterinha que, de prêmio, tiveram seu nome dado a um dos itens no cardápio, eleito por muitos como o melhor da casa. “Dado o caráter viciante dos nossos hambúrgueres, recomendamos que não passe dos três por dia”, avisa o cartaz, em reclame com cara de propaganda antiguinha. Mas em Portugal tudo ainda é assim. Antigamente havia uma sorveteria no Shopping das Amoreiras, na capital, onde era possível vislumbrar o aviso no cardápio: “Temos também geladinhos (sorvetes) muito gostosos”. Fofo.
Hoje, quem passa à porta da segunda hamburgueria Honorato não pode se queixar de não ter sido avisado. As filas dos recém-viciados na calórica iguaria são cada vez mais compridas, mesmo sendo este novo espaço bem maior do que o pequeno restaurante do Príncipe Real, com capacidade para mais de 100 pessoas. Sim, na vibe do cosmopolitismo que agora domina a cidade, a “honorotização” agora é mais frenética! E, embora estes afamados hambúrgueres pertençam agora ao Grupo Multifood, que comprou o negócio, o antigo dono Márcio Honorato continua a ser a verdadeira alma por trás da cozinha e de todas as decisões que envolvam o menu. Tudo ainda continua a ser escrito em um enome quadro de giz, como manda a tradicional gastronomia lusa. Para a alegria geral da nação de comensais, as 14 receitas de sempre permanecem imexíveis, desde o hambúrguer de picanha ao famoso Capitão Fausto com agrião, pickles, molho barbecue e cheddar, tudo de dar água na boca. E até mesmo o Troika, uma versão low cost apenas com carne e pão que sai a módicos 5,50 euros, sucesso absoluto para a turma da caderneta de poupança. Sinceramente, com toda a crise, a boa sacada do “brasilêiro” veio bem a calhar, e, seja para quem é português ou para quem deseja economizar em uma viagem turística, o Honorato Hambúrgueres Artesanais faz parte do roteiro.
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*Carioca da gema e produtor de eventos, Bruno Muratori é uma espécie de fênix pronta a se reinventar dia após dia. No meio da década passada, cansou da vida de ator e migrou para a Europa, onde foi estudar jornalismo. Tendo a França como ponto de partida, acabou parando na terra do fado, onde se deslumbrou com a incrível luz de Lisboa e com o paladar dos famosos pasteis de Belém, um vício. Agora, de volta ao Rio, faz a exata ponte entre o pastel de Belém e a manjubinha.
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