*Por Karina Kuperman
O rostinho de Giullia Buscacio ficou conhecido dos brasileiros em 2015, quando interpretou a personagem Bruna em “I Love Paraisópolis”. De lá para cá, a atriz emendou sucessos. No seu currículo, há produções como “Velho Chico”, “Novo mundo” e, agora, “O sétimo guardião”. E, aos 22 anos, já tem muito a dizer. Giullia é filha de Julio César Gouveia Filho, o Julinho, ex-jogador do Botafogo, e, por conta da profissão do pai, não só aprendeu a lidar com a mídia desde cedo como teve oportunidade de morar em outros países como Portugal, onde nasceu, Hungria e Coreia do Sul.
“Foi lá na Coreia, inclusive, assistindo novelas coreanas que eu comecei a pegar gosto por esse trabalho. Elas faziam muito parte da minha realidade lá e eu nem sabia como seria o start, porque não tínhamos muitas informações sobre cursos de teatro. Mas, quando voltamos ao Brasi,l minha mãe me inscreveu em um curso”, lembra ela, que acha fundamental a experiência de vida em sua atuação. “Isso de mudar de país contribuiu muito para a minha profissão. Me adaptar, aprender uma nova língua, lidar com todos os tipos de pessoa…. é enriquecedor”, conta ela, que sempre trocou figurinhas sobre a vida midiática com o pai famoso. “Ele sempre lidou muito bem com assédio, então, eu aprendi a lição. Sou bem tranquila e separo bem a vida pessoal”, analisa.
Um dos motivos, de acordo com ela, foi a oportunidade de, logo no começo da carreira, estar em cena com nomes como Domingos Montagner, Antonio Fagundes, Camila Pitanga, Tarcísio Meira e outros medalhões do ramo. “Eu comecei na televisão com uma base muito legal, tive contato com gente que já está na profissão há muitos anos, então aprendi muito com eles em todos os sentidos. Seja na atuação, na forma como eles lidavam com a mídia. Afinal, eu estava cercada de profissionais que admiro muito”, diz.
“Velho Chico”, aliás, foi marcado por uma grande tragédia: a precoce morte de Domingos Montagner, com quem Giullia dividia muitas cenas. Isso fez com que ela amadurecesse ainda mais rápido. “Eu mudei bastante. Na verdade, cada trabalho afeta profissional e pessoal também, em tudo. Nós passamos por situações que talvez nunca imaginaríamos se não fosse pelo amor à arte. Tenho 22 anos e talvez nunca tivesse lidado com emoções que já vivi no trabalho. Além disso, me vejo muito mais madura do que quando comecei na televisão. Tudo que eu vivenciei proporcionou uma base emocional muito forte. Me sinto mais calma, segura e tranquila. Não tenho mais a agonia do início”, reflete.
Com a maturidade, veio também a coragem de se posicionar, mesmo nos assuntos difíceis. Quem passa pelas redes sociais de Giullia, volta e meia encontra posts feministas e sua opinião sobre os mais variados temas. “A verdade é que eu dou sorte de ganhar personagens mulheres muito fortes e elas me ensinam muito. Além disso, as minhas amigas e mulheres à volta também são assim. Por isso é tão natural falar sobre empoderamento. É parte da minha realidade. Na realidade, me vejo muito mais agindo do que falando em prol do que acredito. Eu procuro demonstrar no dia a dia com atitudes. Às vezes é em uma situação próxima que percebemos onde entra feminismo e sororidade. Falamos tanto, mas é ainda mais importante colocar em prática, se policiar nas nossas próprias atitudes. Estamos tão impregnadas no machismo que, muitas vezes, não nos damos conta de atitudes que temos e acabam indo contra o que lutamos. Presto muita atenção no que faço porque acho que a mudança começa comigo”.
E feminismo não é a única pauta na qual ela se arrisca. “Quando sinto o impulso de falar sobre algo eu não me blindo, mas antes procuro ouvir muito, todos os lados. Acho até que é da profissão isso de se colocar no lugar do outro, ainda mais nesses momentos que é importante se posicionar. É uma responsabilidade muito grande porque quem a admira vai até você saber sua opinião sobre determinado assunto, então procuro prestar bastante atenção antes de falar. Nem por isso vou estar sempre certa. É humano se precipitar, tenho consciência disso”, diz. “Já teve vezes de eu não falar porque não me achava embasada suficiente. Se não for para contribuir, só para causar barulho, prefiro ficar na minha. Acho importante ter essa consciência de que não sabemos tudo sobre tudo”, explica.
Mas de uma opinião, ela falou com certeza: política – isso quando as eleições do ano passado estavam a todo fervor na internet. “Eu me posicionei porque foi muito claro para mim em relação aos meus princípios, ao que eu acredito, então foi realmente natural. Mas não acho saudável que isso seja motivo de briga, acredito que todos queriam o melhor e discordar é normal, ainda vai acontecer muito”, arrisca.
Em “O Sétimo Guardião“, Giullia vive Elisa, que cresceu no universo religioso do pai, um homem católico que cria a menina rigorosamente. O oposto da liberdade de Jacira, a índia que protagonizou em “Novo mundo”, que exigiu da atriz cenas de nudez. “Eu fico muito feliz com a oportunidade de personagens tão diferentes. Nas cenas mais quentes da Jacira o mais legal que percebi é a parceria com o colega de cena, isso faz total diferença. Já tive pares românticos muito bacanas que viraram amigos, com uma troca ótima dentro e fora de cena”, conta ela, que não tem medo de confusões entre a profissão e a vida pessoal. “Quando confundem o casal com a vida acho incrível. É sinal que estamos transmitindo o que queremos. É um belo retorno”, diz ela, que, ao fim da trama de Aguinaldo Silva, não terá muito tempo de descansar. “Só breves férias e já volto em um projeto na televisão”, concluiu.
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