Na reta final de Outro Lado do Paraíso, Giovana Cordeiro se despede de seu primeiro papel em uma novela das 9 da TV Globo. A atriz chegou há pouco tempo na emissora, mas já está mostrando a que veio ao interpretar grandes papéis de destaque. Dessa vez, ela teve a responsabilidade de comunicar algo muito sério que acontece no nosso país na figura de uma garota de programa. A sua personagem é uma menina simples que acabou sendo atraída para este mundo visando todo o ganho monetário imediato que poderia ter. “Pesquisei muito sobre prostituição, li relatos, e vi filmes, e o que mais me assustou foi a quantidade de propostas para menores de idade. Estas jovens não têm uma visão muito esclarecida sobre o sexo, mas vão para este mundo por causa do dinheiro e do luxo. A Cleo é uma representatividade para estas meninas. Espero que as pessoas não vejam esta colocação da trama como uma ficção, somente, mas como um alerta”, afirmou. Empoderada, a atriz se mostrou totalmente a favor da regularização da prostituição no Brasil. “É muito complicado falar disso, porque estamos em um país em desenvolvimento, mas esta é a profissão mais antiga da humanidade e estas mulheres devem ser respeitadas. É um trabalho como qualquer outro. As pessoas têm uma visão de que elas levam uma vida fácil, mas é longe disto. Além disso, a legalização não vai interferir na vida de ninguém, somente na dos cidadãos que vivem disto, porque vai dar mais segurança para eles”, comentou. A artista ressaltou, ainda, que toma muito cuidado para não passar uma ideia fantasiosa da rotina destas mulheres.
Além da importância da mensagem de sua personagem, a jovem precisou contrancenar com ninguém menos do que Fernanda Montenegro, já que o seu personagem é a neta de Mercedes. Este fato tornou a trama significativa em sua carreira. No meio da novela, o clima no set de gravações já era bem familiar, porém Giovana comentou que o início foi complicado devido ao nervosismo por falar com uma rainha da interpretação. “Ela é a história do teatro, é uma figura muito importante, é uma entidade, então é impossível não ficar nervosa. A primeira cena que gravei de Outro Lado, que é a minha primeira trama das 9, foi com a Fernanda e o Lima Duarte e aquele momento foi uma realização. Existe uma responsabilidade e expectativa enormes, porque também queria mostrar o meu potencial de atriz. Ao mesmo tempo, ela me acalmava, porque é uma pessoa muito acessível, gosta de opinar e conversar, sempre respeitando o outro. Como somos de gerações muito diferentes, adoro falar sobre temas polêmicos como feminismo e política”, relembrou.
A carreira de Giovana Cordeiro na televisão, aliás, não começou agora. Ela deslanchou com o seu personagem em Rock Story, novela das 7 do ano passado. O destaque nesta trama foi tão grande acabou mudando o futuro de outros atores na narrativa. “Rock Story foi o marco inicial da minha carreira. Foi uma ambição muito grande que eu tive a partir de uma percepção de que aquele era o meu momento. Recebi o papel sabendo que eram nove capítulos, uma passagem com início meio e fim, mas desconsiderei isso e busquei dar o meu melhor. Isto reverberou de uma forma tão bacana que acabei voltando. O meu segredo foi a minha dedicação, não fiquei nervosa”, afirmou.
A atriz é formada em artes cênicas pela Casa de Artes de Laranjeiras, a CAL. Ela decidiu apostar na carreira um pouco mais tarde que o comum, com 17, mas desde então tem se dedicado exclusivamente a isto. “A vontade sempre existiu, mas nunca tive oportunidade antes, porque não tinha como os meus pais pagarem um curso para mim. Então, quando terminei a escola entrei para a CAL”, informou. Giovana começou a fazer testes para o cinema, teatro e TV a partir do momento que tomou esta decisão, sem se importar se estava pronta ainda ou não. Ainda no início desta trajetória, a musa fez uma participação na minissérie Dois Irmãos.
Além de seu talento, a atriz também chama atenção pela sua beleza natural, com seus olhos expressivos e cabelos de dar inveja. Mesmo assim, ela comentou em uma entrevista que não se achava muito bonita quando era mais nova. “Não era uma grande questão na minha vida, mas meu cabelo era muito cheio e, na época, não tínhamos tantas propagandas e produtos para lidar com o cacheado. Todo mundo começou a alisar, vi que era uma vida mais ‘fácil’ e também fiz. Na escola, as pessoas sempre diziam que a minha boca era muito grande e não entendia se aquilo era bom ou ruim. Quando estamos na puberdade, tudo começa a crescer rápido e meio desproporcional, mas cabe a nós entender. Hoje, gosto destes detalhes e sei como usá-los”, explicou. Giovana deixou claro que apenas não sabia lidar com a sua aparência.
Apesar de não ter crescido com complexos, ela afirmou que tudo seria mais fácil se tivessem mais mulheres negras protagonistas, seja em novelas, filmes ou desenhos. “Lembro que todas as personagens da minha infância eram diferentes de mim. Algumas mulheres mais velhas até tinham cabelos cacheados, mas parecia ser algo antigo. Na minha pré-adolescência, todas as minhas referências tinham as madeixas lisas como as minhas irmãs. Sinto um pouco desta falta de representatividade. Tenho uma sobrinha de cinco anos, que se parece comigo, e ela me inspirou a fazer a transição e voltar ao natural, porque quero ser esta figura para ela”, comentou.
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