* Por Thaís Amormino, direto de Roma
Esqueça tudo aquilo que você sabe sobre a Gay Pride made in BR. Sim, por aqui a festa do dia do orgulho GBLT – Gays, Bisexuais , Lésbicas e Trans. é totalmente diferente em Roma, principalmente no quesito político da questão. Claro que rolam muitos beijos, muita música e drags “meravigliosas”, mas, antes de tudo, é uma verdadeira passeata pacífica com várias associações envolvidas na luta pelos direitos de igualdade. Entre a fina flor dos integrantes dessa fauna, rola de tudo: crianças, cachorros, famílias héteros e muitas bees , tudo junto misturado, na maior paz. E olha que fazia uns 35 graus na sombra , um calor africano (ou será romano?) e, o mais incrível : a Protezione Civile Romana distribuía garrafinhas de água a todos – no meio da multidão e com vários postos ao longo do trajeto. Demais!
Este ano a Gay Pride Roma celebrou 20 anos, não é pouca coisa, e a discussão maior do evento é que o casamento, adoção, paternidade e outros direitos civis ainda são negados as pessoas LGBT na Itália. Ah, Evento ! Sim , em Roma não temos somente a parada /desfile em um dia. Durante a semana de 28 de maio a sete de junho, aconteceu a Pride Park, no Circolo degli Artisti, onde, além filmes e espetáculos, rolaram várias palestras e muitos debates.
Mas vamos entrar na parte política. Afinal, estamos no país da máfia, da corrupção , dos políticos a la Berlusconi, do Vaticano, da moral, dos bons costumes e que renega seu passado: a capital de um império totalmente livre, cheio de libertinagem , peace & love, se é que você me entende…O documento político da Gay Pride Roma 2014 clama socorro ao espírito de StoneWall – o movimento precursor, em 1969, contra a discriminação e violência aos LGBT – e, exige uma cidadania plena e igualitária a todos os seres, principalmente neste momento de crise deste lado do Atlântico. É também, digamos, um forte “chamado” para todos saírem do armário sem medo e afirmarem sua identidade, pois quando tudo parecia caminhar bem com possíveis mudanças no parlamento italiano , logo após a nomeação de Matteo Renzi para Prémier, toda a estratégia nacional contra a discriminação baseada na homofobia e transfobia sofreu um revés e está sendo questionada. Voltaram quase a estaca zero.
Gay Pride em Roma
Em tempo: tivemos um carro funerário no meio do desfile com caixão, flores um cortejo funébre. Quem? Renzi. Fiquei tão “Oh, Ah” que perdi o clique, scusa. Outro momento importante foi a parada estratégica em frente ao Coliseu e um grito em massa de “Va…ffanculo” com nomes e sobrenomes do cenário político. E uma nova descoberta ? A rádio DeeGay.it ! Para quem não sabe a rádio – e também canal de televisão super acessado na Itália – se chama DeeJay. Ah, tá! Recomendo uma Roma Gay Pride para você também, meu amor.
Fotos: Bruno Epifania
No mais, fique por dentro:
1- O mês de Junho é considerado mundialmente o mês do Orgulho Gay!
2- As primeiras manifestações GLBT iniciaram nos anos 1950 e 1960
3- Stonewall Inn, um bar gay de New York, é considerado palco do primeiro protesto contra a discriminalização e divisor de águas no movimento moderno dos direitos LGBT. Conta-se que na manhã do dia 28 de junho de 1969 as pessoas se revoltaram contra uma batida policial no bar e daí surgiram, com “força na peruca e salto-agulha”, organizações e associações. Nascia assim o Gay Pride a nível mundial.
4- Já na década de 1980 houve uma mudança cultural nas celebrações style Stonewall, e o lance era liberation e freedom
5- Brenda Howard, ativista lésbica, é considerada a “Mãe do Gay Pride” por seu trabalho na organização da primeira Marcha do Orgulho LGBT
* Thaís Amormino sabe que se entregar ao dolce far niente é tudo nessa vida. Borboleta mezzo brasiliana, mezzo italana, certo dia deu uma banana para o Brasil PT e se mudou de mala e cuia para Europa, onde hoje edita o www.italyluxe.com e dá expediente nas altas rodas. Mas, como não perde o hábito do basfond, costuma aparecer de surpresa no Rio, tipo pegadinha, e ainda freqüenta as noites babadeiras e Lisboa e da Cidade Eterna
Artigos relacionados