Gabriela Duarte: celebrando 35 anos de carreira, a atriz diz: ‘Toda busca pela minha identidade não foi em vão’


A atriz fala da carreira, o desejo de cursar Psicologia, beleza aos 47 anos revela se faria intervenções cirúrgicas, e também o que diria para a Gabriela de 20 anos, se pudesse. A atriz comenta ainda, a polêmica criada em torno das últimas escolhas da mãe, Regina Duarte, e a importância da construção da própria identidade. Cada vez mais atuante nas redes sociais, ela diverte-se com a ‘cobrança’ de produtividade dos tempos atuais: “A maturidade te mostra como não cair mais nisso. A cilada de achar que eu preciso ser o que eu não sou, forçar a barra. Não vou agora virar uma Tik Toker, com todo respeito à essa geração que está toda envolvida nisso”

*Por Brunna Condini

Gabriela Duarte não é de dar muitas entrevistas, mas é fã de um bom papo e mostrou isso por aqui: “No trabalho dou tudo, sou mais reservada na vida. Adoro trocar com as pessoas, inclusive nas redes sociais. Tenho essa curiosidade humana, me alimenta. Dou limites quando isso viola os meus direitos, o que sou essencialmente. Amo uma vida menos barulhenta, a contemplação, mas também amo as relações, as boas conversas, os aprendizados na troca”.

Filha de um dos ícones da TV brasileira, Regina Duarte, com o engenheiro Marcos Franco, nesta entrevista ela fala da jornada vida adentro em busca da sua própria identidade. Além de celebrar os 35 anos de carreira, falar do mergulho na maternidade, sobre os projetos e sonhos, Gabriela também salienta que tem espantado qualquer polêmica para a qual tentem atraí-la, principalmente em relação à mãe. Ela viveu nos últimos tempos, como todos os brasileiros, as turbulências da pandemia, com o adicional de ver sua vida familiar exposta, quando Regina assumiu e deixou em dois meses, a Secretaria Especial de Cultura do governo do presidente Jair Bolsonaro. Entre manifestações de apoio e críticas que respingaram nela, o que ficou foi a coragem para lidar com qualquer ‘tsumani’. “A vida estava de um jeito e, de repente, fez um plot twist louco e tive que lidar com tudo isso. E você aprende. Dói, mas aprende. Hoje, estou em paz. Estou blindadíssima para o que vier”.

"Amo uma vida menos barulhenta, a contemplação, mas também amo as relações, as boas conversas, os aprendizados na troca" (Foto: Arthur Germano)

“Amo uma vida menos barulhenta, a contemplação, mas também amo as relações, as boas conversas, os aprendizados na troca” (Foto: Arthur Germano)

E completa sobre o assunto: “Não me sinto cobrada pelas opiniões e atitudes da minha mãe. Não somos a mesma pessoa, não pensamos igual. Hoje posso dizer que nada me abala mais. Amadurecemos todos em família. Limites foram reafirmados: cada um pensa o que quiser. E esse respeito, limite, precisam estar muito claros. Em casa tivemos essa criação, só colocamos em prática. E o melhor de tudo, é que isso não muda o meu amor pela minha mãe e o dela por mim. O que dá para tirar de bom de tudo isso, é que toda a minha busca pela identidade profissional, pessoal, não foi em vão. Estava ali quando eu precisei determinar quem é uma e quem é outra. E também tenho muito orgulho da nossa relação, dos trabalhos que fizemos juntas, foram trabalhos incríveis, então sou super grata”.

"São muitos ingredientes que te levam até essa inteligência emocional, de querer saber como me sinto mais confortável vivendo, como é melhor transitar pela vida” (Foto: Arthur Germano)

“São muitos ingredientes que te levam até essa inteligência emocional, de querer saber como me sinto mais confortável vivendo, como é melhor transitar pela vida” (Foto: Arthur Germano)

Não sucumbir às pressões exteriores é fruto do investimento em autoconhecimento. “Também tem a ver com a minha essência. E muito com terapia, que fiz a vida toda e faço até hoje. Não abro mão. Tem uma busca espiritual de certa forma nisso, de conexão comigo mesma. No final, são muitos ingredientes que te levam até essa inteligência emocional, de querer saber como me sinto mais confortável vivendo, como é melhor transitar pela vida”, divide. “Quando algo te faz mal, te coloca em situações de estresse, ansiedade, é bom parar e perceber que não está bom. Puxar mesmo o freio de mão e observar. Sempre tive essa tendência a olhar para dentro, buscar o que me fazia feliz. Precisa ter coragem, a vida requer bastante coragem”.

Arriscar-se é viver

Essa potência está clara em Gabriela. Mas sem perder a ternura. E no seu timing. E isso inclui os projetos dos quais participa. Longe das novelas desde ‘Orgulho e Paixão‘ (2018), na Globo, emissora da qual é contratada, a atriz tem aproveitado esse tempo para se abastecer de livros e sonhos. “Novela pra mim é algo intenso, então acabo sempre tendo um tempo entre uma e outra. Até para ter algo para dar como atriz. Mas aí veio a pandemia e muitas produções foram sendo adiadas, estão cumprindo uma certa ‘fila’ de projetos que ficaram acumulados. E até agora ainda não tenho nada definido por eles, mas tenho projetos pessoais”, conta. “Ando pensando em projetos que possam unir o entretenimento à educação”.

“Gostaria de ensinar o que sei fazer, o que fiz a minha vida inteira e está quase osmótico, afinal são 35 anos de carreira" (Foto: Arthur Germano)

“Gostaria de ensinar o que sei fazer, o que fiz a minha vida inteira e está quase osmótico, afinal são 35 anos de carreira” (Foto: Arthur Germano)

E revela: “Estou em um projeto de literatura com a Tatiana Vela, uma amiga querida. Sempre nos conectamos através da paixão pela leitura e criamos o Afinidades Literárias, que começou como uma página no Instagram, mas está se transformando em um projeto maior, de incentivo à leitura, educação, conhecimento de autores. Para mostrar que ler não é um bicho de sete cabeças. Ler é importante, estimula mentes reflexivas. Estamos oferecendo coisas simples para isso, desmistificando, mas com profundidade”.

Se tivesse uma única ‘ficha’ hoje, o que de novo arriscaria fazer? “Gostaria de ensinar o que sei fazer, o que fiz a minha vida inteira e está quase osmótico, afinal são 35 anos de carreira, mas unindo à psicologia. Não descarto a possibilidade inclusive de fazer uma faculdade de psicologia para ter base. Poderia me ver em uma sala de aula ou como uma espécie de coaching, por exemplo. Não tenho nada concreto ainda, é uma vontade, um desejo. Algo hipotético sobre arriscar, se colocar à prova. Acho saudável pensar sobre isso”.

“Seria muito bobo da minha parte dizer que minha aparência é só a genética. Gosto de me cuidar, me dá prazer. Gosto da endorfina” (Foto: Arthur Germano)

“Seria muito bobo da minha parte dizer que minha aparência é só a genética. Gosto de me cuidar, me dá prazer. Gosto da endorfina” (Foto: Arthur Germano)

Maternidade

Ela não faz nada pela metade, assim tem sido com os projetos que abraça e a maternidade. Mãe de Manuela, de 15 anos, e Frederico, 9, do seu casamento de quase 20 anos com o fotógrafo Jairo Goldfuss,a atriz reflete sobre essa versão. “Mergulhei. Você está criando seres humanos, é uma responsabilidade grande. A maternidade ocupa um tamanho gigante na minha vida e foi uma escolha. Desde sempre. Sabia que precisaria desacelerar, mudar, adaptar. Antes de ser mãe não tinha residência fixa, ia onde o trabalho estava. A maternidade virou minha prioridade e continua sendo. Esse conceito vai mudando à medida que eles crescem e vão precisando menos da gente. Vai dando uma sensação de dever cumprido”, analisa.

“A Manu é uma adolescente, vivendo todas as questões da adolescência, em um momento difícil como a pandemia. Acho até que ela tem ido muito bem. Tem muita personalidade, é uma líder, com colocações impressionantemente assertivas para a idade dela. Já o menor, é um crianção ainda. Com ele é só brincadeira, meu elo com a infância. É um privilégio ser mãe, uma coisa de evoluir como ser humano”.

Gabriela entre os filhos Manuela e Frederico: "A maternidade virou minha prioridade e continua sendo" (Reprodução Instagram)

Gabriela entre os filhos Manuela e Frederico: “A maternidade virou minha prioridade e continua sendo” (Reprodução Instagram)

Maturidade

Cada vez mais atuante nas redes sociais, Gabriela diverte-se com a ‘cobrança’ de produtividade dos tempos atuais. “A maturidade te mostra como não cair mais nisso. A cilada de achar que eu preciso ser o que eu não sou, forçar a barra. Não vou agora virar uma Tik Toker, com todo respeito à essa geração que está toda envolvida nisso. Faz parte, está ligado a este momento, essas pessoas que vivenciam isso. Mas não serei uma blogueira, não está na minha natureza. Até já me passou pela cabeça, mas não dá (risos)”.

"Diria para a Gabriela de 20 anos, aquela frase que ouvimos bastante: se tiver medo, vai com medo sempre (risos). Se arrisque!" (Foto: Arthur Germano)

“Diria para a Gabriela de 20 anos, aquela frase que ouvimos bastante: se tiver medo, vai com medo sempre (risos). Se arrisque!” (Foto: Arthur Germano)

Elogiada pela beleza e forma física, ela comenta: “Seria muito bobo da minha parte dizer que é só a genética. Faço ginástica, sou disciplinada. Gosto de me cuidar, me dá prazer. Gosto da endorfina”, diz. “Também tenho uma dermatologista maravilhosa, que confio. Acho que é por aí que vou mantendo o bem-estar. Também não quero parecer uma adolescente com 47 anos. Não faço grandes movimentos para que as pessoas achem que eu tenho 20”. E completa: “Nunca fiz intervenção cirúrgica no rosto, mas faria se tivesse vontade. Algo leve. Não tenho problemas com isso. Só não gostaria de ficar diferente do que sou. Não faria harmonização facial, por exemplo. Não curto. Quero preservar minha identidade no rosto também”.

Se a Gabriela de 47 anos pudesse falar com a de 20, o que ela diria? “Diria que não precisa ter tanto medo. Nada é tão absoluto. O medo é nosso aliado se não for exacerbado. Mas se for, te coloca num lugar de vaidade, ego, que pode te impedir de fazer coisas. Diria aquela frase que ouvimos bastante: se tiver medo, vai com medo sempre (risos). Se arrisque!”.