Gabriela Duarte: atriz celebra 50 anos, fala sobre a autobiografia, reflete sobre envelhecimento e faz revelações


A atriz experimenta a sensação única de uma autoentrevista, inspirada por curiosidades do público que a acompanha. Aqui, ela conta a decisão de escrever uma autobiografia somente agora e com foco no tema identidade. E também revisita a Maria Eduarda de ‘Por Amor’, personagem que marcou sua carreira e se faz presente até hoje. A atriz responde de onde veio a fama de mimada, revela que remakes gostaria ou não de fazer, detalha sua relação com a mãe, Regina Duarte, e conta se tem planos de trabalhar com ela novamente. Sobre amadurecimento, diz: “Me vejo envelhecendo numa boa e é óbvio que vou usar todos os recursos possíveis para me manter saudável, ativa, autônoma. Não me refiro apenas a procedimentos estéticos, os faço também. Uso botox e acho um recurso incrível para prevenção. Mas não quero ficar diferente do que sou. Não quero ter uma boca que não tenho, uma bunda que não tenho e nem mudar minha identidade física. Desejo ter tudo o que tenho, da melhor forma possível. E sempre me cuidei, me exercito, me alimento saudável, mas gosto de comer, de beber, de viver bem a vida que tenho, só que há muito tempo venho perseguindo o equilíbrio das coisas. Opto por um caminho de envelhecimento consciente”

*Por Brunna Condini 

Gabriela Duarte fez aniversário de 50 anos nesta segunda-feira, 15 de abril. Nós do site HT, acompanhamos a carreira e a vida da atriz, que já soma mais de 40 anos de trajetória, se contarmos suas primeiras participações, ainda criança, nos filmes ‘O Cangaceiro Trapalhão’  e ‘O Trapalhão na Arca de Noé’ (ambos de 1983). Eternizada em papéis como a controversa Maria Eduarda de ‘Por amor‘ (1997), a despudorada e irreverente Jéssica de ‘Passione‘ (2010) e a potente Julieta de ‘Orgulho e Paixão‘ (2018), Gabriela vem buscando caminhos com mais autoralidade, mesmo antes de sair do quadro fixo de atores da Globo, em 2023, após 35 anos. Tanto, que nos últimos anos, concentrou seus mergulhos na construção de uma autobiografia, que escreve a quatro mãos, com esta jornalista que vos fala. Nela, Gabriela que precisou refletir sobre a própria identidade desde muito cedo instiga o leitor. É a construção de um documento afetivo, que revisita sua história, carreira e acontecimentos marcantes, entre eles uma separação, a saída da Globo e a passagem de sua mãe, Regina Duarte, pela política.

Convidamos Gabriela para exercer por um dia a experiência de fazer uma autoentrevista. O resultado, leitor, você confere abaixo. Gabriela abre o coração, pergunta a si mesma e responde, entre tantos temas potentes, “de onde veio a fama de mimada?”; “Fico triste por estar fora da TV, após 35 anos na Globo?”; “Voltando à Eduarda de ‘Por Amor‘, tenho me questionado, se pudesse voltar no tempo, se a faria diferente, sabendo que me jogar nela tão sem paraquedas, como fiz, me faria ser ‘cancelada’, quando nem havia o tal ‘cancelamento’ ainda…” e muito mais, incluindo a relação com a mãe, Regina Duarte, se voltaria a atuar em um remake de “Vale Tudo” em 2025. Dá uma amostra do que está a caminho com o livro que tem previsão de lançamento no segundo semestre. Ela também comemora meio século de uma existência bem vivida, acreditando que o melhor ainda está por vir. “Aos 50 anos, me sinto à vontade para fazer isso, com mais propriedade para expor a minha história, desejando estimular que as pessoas pensem a respeito de suas identidades e trajetórias”, frisa.

*Por Gabriela Duarte

Quando o Site HT propôs que eu me entrevistasse, achei inusitado. Que perguntas poderia fazer? E me ocorreu: existem respostas que talvez só hoje eu tenha elaborado o suficiente para dar. E, sim, existem perguntas que ainda não foram feitas a mim. Então, aqui pensei em curiosidades que o público que me acompanha gostaria de saber e também fiz revelações. Celebro os 50 anos que chegam, compartilhando, com muita honestidade sempre, mais um pouco de mim.

Gabriela Duarte faz 50 anos e presenteia o leitor uma autoentrevista exclusiva (Foto: @trumpas_)

Gabriela Duarte faz 50 anos e presenteia o leitor uma autoentrevista exclusiva (Foto: @trumpas_)

Gabriela Duarte: De onde vem a fama de mimada?

GD: “Gostaria de saber também (risos). Mas acho que tenho essa resposta. A TV tem muita força e acredito que a Eduarda, minha personagem de ‘Por Amor‘, trouxe isso para o imaginário das pessoas. Uma personagem completamente diferente de mim, que nunca fui super protegida ou esperei a condescendência das pessoas. A Eduarda entrou na minha vida como um furacão. Na época da novela, eu tinha 21 anos, era uma menina e estava seguindo um script criado lindamente pelo Manoel Carlos. E como nunca fui de me expor muito, sempre fui mais discreta, as pessoas não tinham tanto contato com a pessoa física. Hoje sou uma mulher de 50 anos, com dois filhos, mas a imagem da Eduarda ficou. O que acho bom também, afinal ela é o sonho de qualquer intérprete, uma personagem marcante, com seus ônus e bônus. Quem me conhece sabe que eu sou zero mimada, pelo contrário, sou do tipo que arregaça as mangas. Não quero ser paparicada, gosto de ser tratada como qualquer pessoa. Sei que esse paparico muitas vezes é demonstração de carinho e também está tudo certo. Mas meus pés estão bem no chão e isso tem me mantido sã na vida e na profissão”.

"Sou uma mulher de 50 anos, mas a imagem da Eduarda ficou. O que acho bom também, afinal ela é o sonho de qualquer intérprete, uma personagem marcante" (Foto: @trumpas)

“Sou uma mulher de 50 anos, mas a imagem da Eduarda ficou. O que acho bom também, afinal ela é o sonho de qualquer intérprete, uma personagem marcante” (Foto: @trumpas)

Gabriela Duarte: Não aparentar a idade que tenho, dificulta de alguma forma o meu processo de envelhecimento, como lido com isso?

GD: “Existe um preconceito com quem está envelhecendo, principalmente com nós, mulheres. Dizer que uma mulher não aparenta a idade que tem, pode parecer um elogio, mas no fundo, não é. E nem percebemos isso. O fato de não aparentar a idade que tenho, me diz o quê? Como acham que eu deveria estar? Uma mulher de 50 anos pode ter muitas caras, inclusive a minha. Na indústria da qual faço parte, as mulheres ou são jovens ou são velhas? Não podem se sentir bem na idade que têm? Isso me incomoda. É etarista. Me vejo envelhecendo numa boa e é óbvio que vou usar todos os recursos possíveis para me manter saudável, ativa, autônoma. Não me refiro apenas a procedimentos estéticos, os faço também. Uso botox e acho um recurso incrível para prevenção. Mas sempre me cuidei, me exercito, me alimento saudável, mas gosto de comer, de beber, de viver bem a vida que tenho, só que há muito tempo venho perseguindo o equilíbrio das coisas. Isso se estende a tudo na minha vida. Inclusive ao que faço em termos de intervenções estéticas, é sempre tudo com muito cuidado. Não quero ficar diferente do que sou. Não quero ter uma boca que não tenho, uma bunda que não tenho e nem mudar minha identidade física. Desejo ter tudo o que tenho, da melhor forma possível. Opto por um caminho de envelhecimento consciente, sem querer o lugar do excesso e nem o da falta. Existe um lugar que te traz mais bem-estar, mas não te coloca à parte de coisas boas da vida. Esse é o meu lugar”.

Não sou escrava da juventude. Pior que envelhecer, é não envelhecer. Não tenho medo disso, quero envelhecer com dignidade e orgulho – Gabriela Duarte

"Uma mulher de 50 anos pode ter muitas caras, inclusive a minha. Na indústria da qual faço parte, as mulheres ou são jovens ou são velhas? Não podem se sentir bem na idade que têm? " (Foto: @trumpas)

“Uma mulher de 50 anos pode ter muitas caras, inclusive a minha. Na indústria da qual faço parte, as mulheres ou são jovens ou são velhas? Não podem se sentir bem na idade que têm? ” (Foto: @trumpas)

Gabriela Duarte: Fico triste por estar fora da TV, após 35 anos na Globo?

GD: “Não, de forma alguma. Não sou diferente de ninguém que também passou por esse processo de mudança natural do mercado. A gente está falando de uma grande empresa de comunicação que de tempos em tempos precisa rever o seu modelo e acho isso extremamente saudável. Sou a favor das mudanças, mas claro que tem sempre os dois lados da moeda. Tem o lado que assusta de cara, afinal havia a segurança de um contrato, mas agora consigo andar com mais autonomia na carreira que eu construí. Tenho uma imagem nacional que alcancei através desses anos todos lá na TV Globo, só que agora eu consigo olhar para o mercado e direcionar o desejo do meu trabalho com mais liberdade. Acredito que as portas da emissora não vão se fechar, não deveriam se fechar, porque foi ali que cresci. Sempre fui uma profissional impecável, quanto a isso coloco minha cabeça no travesseiro e durmo, foram anos de uma história muito bonita. E essa é a minha história, é pelo o que respondo. Está tudo certo, vida é movimento e nossa profissão é eterna, podemos nos reinventar, trabalhar até o último suspiro. Nunca tinha conseguido colocar os meus desejos autorais em prática e agora isso está acontecendo, então o saldo é positivo. Vivo o hoje”.

"Agora eu consigo olhar para o mercado e direcionar o desejo do meu trabalho com mais liberdade" (Foto: @trumpas)

“Consigo olhar para o mercado e direcionar o desejo do meu trabalho com mais liberdade” (Foto: @trumpas)

Gabriela Duarte: Mas aqui faço o exercício de passear pelo presente e pelo passado que também me constitui. Voltando à Eduarda de ‘Por Amor‘, tenho me questionado, se pudesse voltar no tempo, se a faria diferente, sabendo que me jogar nela tão sem paraquedas, como fiz, me faria ser ‘cancelada’, quando nem havia o tal ‘cancelamento’ ainda…

GD: “Talvez escolhesse me proteger mais, não entregasse tudo tão ao pé da letra. Era guiada pela intuição, então ia com tudo quando Eduarda precisava ser impulsiva, agressiva e até desagradável muitas vezes. Era o que eu tinha para entregar. E quer saber? Na verdade, não me arrependo. Porque quando o ator se resguarda muito, ele está usando uma psiquê que diz: “Goste de mim, da minha personagem, me aceite”. Quando faz isso,  o ator está a favor dele e não da trama. Entreguei a Eduarda como o Maneco esperava, crua, intensa. E quem a redimiu na mesma história, foi ele próprio, porque eu continuei entregando a mesma coisa. Isso tem uma beleza também. Cair nas mãos de um autor maravilhoso, ainda sem muitos recursos para me preservar como atriz, fazendo uma personagem como a Eduarda, tão visceral. Faria alguma coisa diferente hoje? Acho que sim, porque com a experiência você fica mais atenta, malandra. Talvez lidasse diferente com a criança, a Sandrinha (Cecilia Dassi), ou com o pai alcoólatra (Orestes, feito pelo brilhante Paulo José, que não está mais entre nós). Acho que levaria mais para o lado dos sentimentos e menos para a agressividade. Fora isso, tudo foi como deveria ser. A relação com a mãe, por exemplo, com altos e baixos, é bem assim mesmo. Hoje vivo com minha filha de 17 anos (Manuela, também sou mãe de Frederico, de 12) muito disso, faz parte das relações de mãe e filha”.

Gabriela Duarte, Fábio Assunção e Paulo José em cena inesquecível da novela 'Por Amor' (Acervo/Globo)

Gabriela Duarte, Fábio Assunção e Paulo José em cena inesquecível da novela ‘Por Amor’ (Acervo/Globo)

Gabriela Duarte: Pensando nessa onda de remakes, como apareço muito com a Manu nas redes sociais, o público tem me perguntado, se caso tivesse uma nova versão de ‘Por Amor‘, se eu gostaria de fazer a Helena e que minha filha fizesse a Eduarda. E aí?

GD: “Amo essa pergunta, esse ‘desejo’, que muita gente expõe nessa troca na internet. Até acho divertida a ideia, as idades são perfeitas, existe a semelhança física. Mas colocar a minha filha fazendo a Eduarda nesse momento da vida, seria de uma crueldade absurda… a personagem é difícil e Manu por não ser atriz, faria do jeito dela, iria entregar o que seria possível, imagina o nível de comparação. A Eduarda é uma personagem com tintas muito fortes, nesse lugar do que o público rejeita. Acho a pergunta em si muito curiosa e entendo que a façam, mas isso jamais, sem chance. Não é algo que seria interessante repetir, mesmo se Manu fosse atriz”.

Regina e Gabriela Duarte em 'Por amor', clássico de Manoel Carlos (Acervo/Globo)

Regina e Gabriela Duarte em ‘Por amor’, clássico de Manoel Carlos (Acervo/Globo)

Gabriela Duarte: Ainda sobre remakes versus expectativas. Com a previsão de uma releitura de ‘Vale Tudo‘ para 2025, tem gente me perguntando se eu fiquei com vontade de fazer o mesmo papel que foi da minha mãe em 1988 (Raquel Accioli). E mais uma vez, entendo a curiosidade…

GD: “Teoricamente seria uma possibilidade. Estou dentro dos requisitos da personagem, poderia ter uma filha de 20 anos, enfim. Essa é uma das novelas que mais amo, uma obra-prima do Gilberto Braga (1945-2021) , com uma protagonista feita de forma majestosa pela Regina Duarte, minha mãe, então eu estaria me colocando em um lugar muito delicado, que nunca curti muito: o de tentar superar o que foi feito ou de fazer completamente diferente. Obviamente, eu gostaria de estar nessa novela, por amar a obra, mas com outra personagem”.

Olha, ‘Vale Tudo’ tem personagens icônicas, como a Heleninha Roitman (feita pela Renata Sorrah na primeira versão), e a Leila (Cassia Kis), ente outros que também teriam compatibilidade com a minha idade. Seria interessante, por que não? – Gabriela Duarte

"Não quero ter uma boca que não tenho, uma bunda que não tenho e nem mudar minha identidade física. Desejo ter tudo o que tenho, da melhor forma possível" (Foto: @trumpas)

“Não quero ter uma boca que não tenho, uma bunda que não tenho e nem mudar minha identidade física. Desejo ter tudo o que tenho, da melhor forma possível” (Foto: @trumpas)

Gabriela Duarte: Existe também muito interesse em saber como ficou exatamente a minha relação com a minha mãe após a passagem dela pela política e toda exposição por conta disso que tivemos. Vamos lá:

GD: “Acho que a atenção para isso ainda existe e aumenta devido a continuarem cruzando informações em nossas redes sociais, para o bem e para o mal. Já deixei claro que embora tenhamos visões diferentes em vários aspectos, e não estou nem falando só do político, mas nos movimentamos na vida de formas diferentes, o que eu acho absolutamente saudável, nos respeitamos verdadeiramente. Falo sobre isso no livro de uma forma mais profunda e detalhada. Cada identidade é única e muito particular. E acaba regendo nossas escolhas. Não é porque somos família, que precisamos concordar em tudo, ora. Não existe isso. Acho também que a imprensa tem bastante responsabilidade em ter talvez criado factóides, que sempre colocavam em dúvida se a gente realmente tinha rompido ou não, o que acabava dando notícia. Mas o que me interessa é a relação real de duas mulheres maduras, mãe e filha, que se amam, que se respeitam, que têm uma história profissional e pessoal ilibada, super bonita, sabe, de muito carinho, de muita troca, de muito afeto e compreensão. Outros detalhes sobre essa relação e tudo o que aconteceu, só lendo o livro mesmo, que já, já estará aí”.

Não rompemos e posso dizer que somos muito ligadas, temos laços muito fortes e graças a Deus, isso para mim é uma bênção. Existe muita admiração uma pela outra e posso revelar que desejo voltar a trabalhar com ela. Tenho muita vontade de estar no palco novamente com minha mãe. Isso vai acontecer, esperem e verão – Gabriela Duarte

"Aos 50, me sinto com mais propriedade para expor a minha história e fazer com que as pessoas pensem a respeito de si próprias" (Foto: @trumpas)

“Aos 50, me sinto com mais propriedade para expor a minha história e fazer com que as pessoas pensem a respeito de si próprias” (Foto: @trumpas)

Gabriela Duarte: Por que estou escrevendo um livro agora?

GD: “Porque as coisas transbordam. E acho que isso chegou a um ponto em que eu precisava colocar para fora, dividir com as pessoas. São coisas que eu considero importantes que aconteceram na minha vida e na minha trajetória. Até mais do que só dividir a minha experiência com as pessoas, acho que é, de certa forma, criar uma conexão com quem tiver interesse e se identificar com a minha vivência e aprendizados. E espero de verdade, acho que isso é o que eu mais quero, que as pessoas se inspirem com esse movimento e consigam olhar para si próprias, através desse meu derramamento, digamos. Aos 50 anos, me sinto à vontade para fazer isso, com mais propriedade para expor a minha história, desejando estimular que as pessoas pensem a respeito de suas identidades e trajetórias”.

Gabriela Duarte 50 anos: "Acredito que o melhor ainda está por vir" (Foto: @trumpas)

Gabriela Duarte 50 anos: “Acredito que o melhor ainda está por vir” (Foto: @trumpas)

Créditos fotos

Estúdio: @cena.creators

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