Festival do Rio: dos olhos violetas de Liz Taylor ao sorriso de Goldie Hawn, Hollywood investe na cura da Aids


Top star Goldie Hawn e o estilista americano Kenneth Cole recebem o público em celebrado documentário sobre a doença

“E aí, cadela, o que você vai fazer a respeito?!?” Com essa frase, proferida pelos lábios carnudos de Elizabeth Taylor, começou, ontem à noite,  a exibição do documentário A Batalha de AmfAR em première no Festival do Rio, que contou com as presenças ilustre da atriz Goldie Hawn e do estilista Kenneth Cole, ambos ativistas na causa da pesquisa para a cura da AIDS. A máxima, famosíssima e bem conhecida dos fãs que acompanharam a trajetória estelar da diva, pôde ser conferida pela plateia presente, entre eles o stylist Felipe Veloso, o beauty artist e fotógrafo Fernando Torquatto e o RP Cláudio Gomes. No filme é narrada a participação ativa de Liz Taylor e da socialite e cientista Mathilde Krim na conscientização da doença, desde o seu assombroso início, há trinta anos, até os dias atuais. Como se sabe, Taylor abraçou arduamente a causa da pesquisa da doença logo nos primeiros anos, quando o seu amigo e igualmente all star, Rock Hudson, faleceu vitimado pela doença. Liz, que estrelou com o ator o clássico Assim caminha a Humanidade (Giants, de George Stevens,1956) era grande amiga do astro e os dois praticamente inseparáveis.

O documentário, leve e muito bem editado, mostra como Liz e Mathilde Krim fundaram com amigos a AmfAR – American Foundation for Aids Research – e perseguiram estoicamente verbas para pesquisa e o reconhecimento do governo americano de que a questão era mundialmente relevante e não “apenas uma doença das minorias”, cabível de ser ignorada. A Dra. Krim precisava de uma personalidade hollywoodiana que imprimisse visibilidade ao assunto e, através do marido (um executivo da companhia cinematográfica United Artists), chegou até Elizabeth Taylor, que prontamente abraçou a causa. Entre outros atributos da atriz, contava sua relação próxima com o casal Reagan nesta época, quando o caubói Ronald era presidente americano.

O filme, apesar da seriedade do assunto, é conduzido de maneira suave trazendo, em várias passagens, sequências memoráveis que levam a platéia ao delírio, como na cena em que Liz rememora o período em que ia às ruas conversar com dependentes químicos sobre o perigo de compartilhar seringas e sofria ataques de instituições conservadoras que viam a atitude da estrela como apologia ao uso das drogas. No documentário, é relatado o fato de que a atriz, em meio a assuntos tão sérios, acabava invariavelmente conversando com excluídos sobre mundanices como delineadores de olhos. Obviamente, os olhos carregados de kajal e sombra, marca da estrela em Cleópatra, fizeram a alegria dos fãs durante décadas e nunca poderiam passar incólumes!

A própria Liz comenta, em determinado momento do filme, que o ativismo a favor da pesquisa para a cura da AIDS a reconciliou com a fama. Acerca disso, nosso site entrevistou o coordenador do curso de cinema da Universidade Estácio de Sá, Flávio Di Cola, um estudioso da carreira da atriz e presente ao lançamento. Flávio afirma que essa impressão da atriz é absolutamente correta e que não é possível esquecer a viagem de Taylor na virada dos anos 1990 com o magnata Forbes pela Ásia para que este pudesse constatar in loco o descaso como alguns governos lidavam com a epidemia. Segundo ele, “a atriz pretendia que Forbes doasse uma polpuda verba para a AmfAR, ele mesmo infeccionado pela doença, enquanto a imprensa, que desconhecia a doença do bilionário e a razão da turnê, acreditava que se tratava de mais um affair amoroso da diva.”

Após a exibição, o público participou de debate com Kenneth Cole, presidente do Conselho da AmfAr,  mediado pela jornalista Marília Martins. A loura Goldie Hawn, aplaudida pelo público e também uma ativista ferrenha da causa, usava um vestido esvoaçante combinado com pashimina branca e rasterinhas, e respondeu a apenas uma pergunta, saindo para outro compromisso em seguida. Ela disse que o objetivo final é sempre encontrar a cura da AIDS e que, como disseram Liz e a Dra Krim no filme, somente a pesquisa pode alcançar esse resultado. Segundo Hawn, “as duas compartilharam a dor de perder vários amigos para o vírus e que a ideia de patrocinar pesquisas de curto prazo é a solução pela qual a trama do filme, situada na década de oitenta, se desenvolve.” Após a coletiva, perguntamos a Cole em um tetê-a-tête o que ele achava do engajamento dos brasileiros na pesquisa da cura da AIDS. Ele foi categórico: “Os brasileiros preservam um espírito altruísta e se envolvem na causa que for para o bem de todos e do ecossistema.” E, como o assunto é serio, mas a noite era leve, aproveitamos para descontrair e ver o que ele pensa sobre ser o sapato ideal para ativistas. Afinal, Kenneth Cole também é super conhecido pelas linhas de calçados e acessórios que desenvolve. Ele respondeu de bom humor: “Um sapato confortável, of course!” E completou: “Impossível errar com um sapato preto”.

Na coletiva, Kenneth Cole reiterou a opinião de Taylor de que “uma só pessoa pode fazer toda a diferença”. Em certo momento do filme, inclusive, são mostradas cenas em que a estrela convence o Senado americano sobre a importância de liberar fundos para a pesquisa de forma contundente. Ele ainda comentou sobre a necessidade da causa apelar para grandes nomes do show business, como a própria Goldie Hawn, Sharon Stone ou Woody Allen (ambos no filme), para arrecadar fundos para as pesquisas, ressaltando sobre a gala com leilão beneficente que acontecerá hoje à noite no Copacabana Palace com a presença de Goldie, das übber models Alessandra Ambrosio e Linda Evangelista (que não pôde comparecer ontem à noite à estréia) e um punhado de celebs brasileiras como Carolina Dieckmann, Cauã Reymond, Grazi Massafera, Fernanda Torres e Preta Gil, entre outros.

 

Fotos: Leandro de Oliveira e César França

Após a estréia do filme, alguns convidados seguiram para um coquetel na casa de Ricardo Rique, em Ipanema, praticamente um esquenta para a gala que acontecerá hoje à noite. Entre os presentes, Adriana Domenico, Gisela Amaral, Ana Maria Tornaghi, Bel Augusta, Jackie de Botton, Candé Salles, Marcelo Boldrini, Narcisa Tamborindeguy, Gilda Amado, Cássia Ávila e Jack Vartanian, Felipe Veloso, Claudio Gomes, Chris Pitanguy, Fernando Torquatto e Daniela Oliveira. Com sua política sobre a AIDS, o Brasil já se destacava no combate à doença e, pelo visto, agora o Rio mais ainda!

Desde 1985, a fundação investiu em mais de 810 milhões em seus programas e concedeu bolsas para mais de 2 mil grupos de pesquisa em todo o mundo. Para Cole, não importa de qual país vem o dinheiro arrecadado já que a epidemia é global, mas fez a ressalva de que “o Brasil definiu uma nova moral em relação à doença quando instituiu o programa de governo pára tratamento da doença”. Em todo o mundo, mais de 30 milhões de pessoas já morreram vitimadas pela AIDS e outras 34 milhões encontram-se infectadas atualmente.

* Por Alexandre Schnabl