Nos próximos 15 dias, o Rio de Janeiro mais uma vez consolida sua posição como principal pólo audiovisual do país e a carioquíssima Cinelândia, no Centro da cidade, ganha ares da lendária Croisette (a mítica promenade em Cannes), com direito a tapete vermelho na frente do tradicional Odeon, um dos poucos cinemas de rua que sobreviveu à especulação imobiliária e às investidas de igrejas evangélicas e lojas de quinquilharias.
O filme Amazônia, uma produção franco-brasileira dirigida pelo francês Thierry Ragobert, abriu o evento na noite de quinta-feira, seguido de concorrida festa no Armazém n° 6 do Píer Mauá. Nós fomos conferir o evento e, claro, aproveitar para conversar com o povo do cinema sobre a situação atual do país e da sétima arte. O filme de estreia, rodado inteiramente em 3D na selva amazônica com um elenco (literalmente!) animal, narra as peripécias de um diminuto e coquette macaco-prego criado entre humanos, que é o único sobrevivente de uma tragédia aérea, precisando aprender a sobreviver na selva longe do conforto. Obviamente, o périplo do pequeno primata ao longo do filme traça um paralelo subjetivo entre a confortável vida em cativeiro e as dificuldades da liberdade em ambiente hostil. O público considerou o resultado visual exuberante e o diretor francês recebeu os convidados junto com a diretora-executiva do festival, Walkíria Barbosa, e de Giovanna Antonelli, que foi a mestre-de-cerimônias da sessão de abertura. Giovanna, linda, vestia um Patrícia Bonaldi poderoso e todo bordado em pérolas, mas, óbvio, seu maior acessório é sempre o sorriso iluminado. E, dessa vez, ela estava mesmo um abuso, com batonzão e unhas vermelhas na cor do carpet.
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Fotos: Vinícius Pereira
Outra que causou no evento foi Sabrina Sato, arrasando no Vuitton. Sabrina, exuberante como sempre, era só simpatia e conversava com quem chegasse, sendo responsável por atenuar o único momento saia-lápis do evento: uma manifestação, na entrada do Odeon, a favor dos professores grevistas e contra a passividade da mídia no cenário político atual. Alguns convidados se irritaram e consideraram o protesto fora de hora, mas Sabrina contemporizou, afirmando apoiar qualquer manifestação que mostre indignação contra o mau aproveitamento de verbas públicas. Ela ainda lembrou os avanços resultantes da manifestação dos cara-pintadas vinte anos atrás, mas a organizadora do evento Walkíria Barbosa, acredita que os levantes populares devem existir, “mas com enfoque contra a corrupção desenfreada, e não contra a cultura”.
Após a sessão, e já refeitos do susto causado pelo protesto inesperado, os convidados seguiram firmes para o Píer Mauá, que lotou. Ao som do DJ Dodô, o público sacolejou na pista e, como a galera de cinema não costuma ter frescura alguma, a playlist navegou por ritmos e épocas variados. Rolou de tudo para todos os gostos, dos anos sessenta até os tempos atuais: Cely Campello e seu banho de lua, Secos & Molhados, Raul Seixas para a rapaziada riponga das antigas, hits oitentista de A-Ha e Madonna, que animaram ex-new wavers, Florence and the Machine para os moderninhos com jeito cool. E, como o povo, em festa de cinema, não respeita necessariamente o dress code doblack tie, a festa foi democrática, com a presença tanto da turma de jeans, blazer e camiseta como descolados de terno e All-Star (como o ator Sérgio Guindane) + os homens que investem em smoking e as mulheres, em longos.
Ingra Liberatto saracoteou no estilo Great Gatsby, de curtinho todo bordado e pernocas de fora. A produtora francesa Soizic Gelbard brincou de jet setter com longo branco e, sem cerimônias, encarou uma estola de pele negra capaz de arrepiar os ativistas da Peta. Leona Cavalli incorporou a femme fatale com longo em teia de renda negra. Dira Paes apostou em cores que valorizam sua morenice brejeira. Gisele Itié, più bella, encantou a todos com o jeitão de diva latina. E houve aquelas que escolheram as marcas internacionais, como Maria Flor, de tubinho Diane Von Furstenberg, ou Christiane Torloni em um arrasa-quarteirão Alexander McQueen. Aliás, só uma Torloni bem humorada é capaz de brincar consigo própria com tanta propriedade. Disse que espera que o público faça bom uso da arte que o cinema é, enquanto difusor da cultura. E terminou em uma espécie de auto-homenagem: “Hoje é dia de cinema, bebê!”.
O diretor Andrucha Waddington e os atores Murilo Rosa e Fernando Alves Pinto optaram pelo visual descontraído, mas, em geral, predominou o pretinho nada básico para os convidados. Até a super light Letícia Sabatella preferiu essa cor, vestindo o minimalismo chique de Mara Mac, apesar da echarpe vinho envolvendo o pescoço. Chega a ser curioso: enquanto o filme de estréia explorava o colorido exuberante da fauna e flora amazônicas, filmadas com recursos digitais de ponta, o público presente elegeu o preto como (falta de) cor. Tudo, quem sabe, para evidenciar o visual deslumbrante da película. Aliás, perguntada sobre a questão do uso do 3D emAmazônia, a engajada La Sabatella foi categórica: “A nossa selva tropical, dada a sua importância no cenário global, precisa ser revelada com todos os recursos cabíveis para valorizá-la. Esse recurso é muito bem colocado nesse filme”, afirmou. Faz sentido e vale mesmo conferir.
No mais, as comidinhas do evento fizeram bastante sucesso. Destaques para o bobozinho de camarão com farofa de coco, servido em mini porções, e o gaspacho de frutos do mar com pimentões coloridos, com jeitão de acepipe servido em filme de Almodóvar. Mas, segundo Nicolau Barbosa, responsável pelo menu, o povo do audiovisual também aprovou o camarão ao curry e as caipirinhas coloridas. Sem dúvida, em muito pouco tempo o público começou a ficar soltinho e as conversas animadas sobre a sétima arte se intensificaram. O queridíssimo cineasta Luiz Carlos Lacerda era um dos que, bem animados, cumprimentava amigos com efusão e alegria. Foi eleito como um dos mais chiques, em smoking cuja bow-tie sublinhava o famoso bigode que lhe vale o apelido. “O Festival do Rio é o mais importante do Brasil’, disse ele. E completou: “Lancei muitos filmes meus aqui no evento, mas fico triste com a política atual do governo, que prestigia o cinema comercial, mas não apóia as produções independentes”. O hairstylist Neandro Ferreira parece concordar com Bigode, pois acentua a questão da visibilidade da produção comercial nacional no mercado internacional. Acostumado a viver entre o Rio e Londres, Neandro cita a época em que circulou com o ator Jonathan Haagensen na capital londrina após o sucesso retumbante de Cidade de Deus: “Jonathan era abordado o tempo todo pelos ingleses, que reconheciam ele como um dos protagonistas do filme”. E completa: “O Rio é nossa Hollywood”!
O Festival do Rio vai até 10 de outubro e tem extensa programação que pode ser conferida no próprio site do festival. Nesta edição, são esperadas as presenças de atores como Dakota Fanning e John Turturro e a mostra em homenagem ao cineasta e roteirista Paul Schrader – incensado pela mídia por ter escrito o clássico Taxi Driver, de Martin Scorsese, estrelado por Robert de Niro e Jodie Foster, e diretor de extensa filmografia que incluí Gigolô Americano, o filme que catapultou Richard Gere ao estrelato –, que também deverá comparecer ao evento.
* Por Alexandre Schnabl
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