*Por Brunna Condini
Apesar das tristezas e das perdas, a vida continua. Precisa continuar. A pandemia do novo coronavírus nos impõe isso diariamente. Fernanda Lima vem vivenciando um misto desta força que nos move, apesar de tudo, com o sentimento de luto, desde a perda recente do pai, Cleomar Lima, em julho de 2020, que morreu por complicações da Covid-19. E foi tirando força do amor e do desejo de compartilhar experiências entre as pessoas, que ela investiu no programa ‘Bem Juntinhos’ ao lado de Rodrigo Hilbert. A atração estreou na última quinta-feira no GNT, tornando visível ao público a vontade do casal de valorizar a vida, os encontros e a troca. Fernanda e Rodrigo estavam confortáveis e conseguiram colocar em prática a escuta, mais valorizada do que nunca, com humor e leveza. Nestes tempos duros que vivemos é bom ver gente levando aquele papo que parece acontecer na cozinha de casa.
Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert estrearam o ‘Bem Juntinhos‘, levando o espectador para dentro da intimidade do casal. Fernanda nos deu uma entrevista exclusiva pouco antes da estreia da atração, que contou com Claudia Raia e Dudu Bertholini no primeiro episódio, sobre casamento. “Neste trabalho tivemos bons encontros de pessoas que não se conheciam, mas se combinaram muito bem. Tem também teve o meu encontro com Rodrigo, em cena, discutindo a vida como ela é”, diz a apresentadora, sobre o formato que tem 15 episódios e coloca na roda assuntos como ansiedade, traumas e medos, motivações que levam à separação, sexualidade e o envelhecimento sem tabus.
“Também me interessa falar de consumo, economia colaborativa, falar sobre tirar o peso de alguns valores culturais que não se fazem mais necessários, mas que de alguma forma ainda carregamos. Tem muito assunto que me interessa falar no momento e acho que os episódios transitam bem por temas que estão no meu radar. As maiores reflexões do momento estão em debater nossas dores mais profundas, aquelas que vêm lá da infância e se refletem no comportamento cotidiano com nossos filhos, maridos, amigos e colegas de trabalho”.
Nos próximos programas, o casal recebe Bela Gil, Gaby Amarantos, Maria Bopp, Silvio Almeida, Stephanie Ribeiro, Tulio Custódio, Manoel Soares, Dani Calabresa, Helena Rizzo, Djamila Ribeiro, entre outros convidados, escolhidos de acordo com o tema da vez no roteiro, que também leva a assinatura de Fernanda.
Você costuma se envolver nos roteiros dos programas que faz. É uma escolha? “Estar à frente do roteiro não é exatamente uma escolha, pois não sou roteirista e minha forma de chegar em um texto final se dá de forma muito sofrida e tortuosa. Claro que não estou sozinha nessa, mas como quem vai falar o texto sou eu, se tornou impossível não fazer parte do processo. Felizmente, porém, até o material chegar a mim, ele já passou por meses de muita pesquisa e estudos, então eu apenas direciono os temas e acrescento ‘pitadas’. Sofremos muito para finalmente chegar no que consideramos ideal, mas prefiro que seja assim para me sentir tranquila, plena e segura”.
Por um respiro
O clima é de gratidão e satisfação por conseguir compartilhar algo positivo com as pessoas no momento. Aliás, a apresentadora vem fazendo muito isso também através das suas redes sociais: desde ensinar técnicas de respiração, da yoga, que pratica há anos e que foi instrumento de restauração para que ela atravessasse o período; até divulgar movimentos e campanhas, também se envolvendo nelas. “Em se tratando de uma época em que lidamos com a tragédia de uma pandemia isso tudo se torna ainda mais importante, já que o sofrimento está muito presente na vida de quase todos. E, ainda assim, precisamos tocar a vida, trabalhar e dar esperanças aos nossos pequenos”.
Fernanda anda visivelmente à flor da pele, como tantas outras pessoas que atravessam esse momento e perderam quem amam, e tem visto na troca, quase que um processo terapêutico. Para a estreia do ‘Bem Juntinhos’, ela fez um post emocionado sobre o ‘nascimento’ do projeto e o cenário em que ele foi ‘gestado’:
“Esse programa foi criado e gravado em meio a uma pandemia respeitando todos os protocolos de saúde.
Ele foi criado num momento muito triste da minha vida.
Nasceu meses depois que eu perdi o meu pai para Covid.
Durante o meu luto eu me perguntava, como continuar? Amamentava minha caçula, me agarrava à ela, mas também assistia aos noticiários e com isso percebi que a vida sempre pode piorar. Outras famílias viviam seus lutos, mas muitas delas sequer podiam sentar e chorar.
A panela vazia, a falta de emprego, o choro das crianças, não permitem o luto.
Nesse triste momento, percebi mais uma vez meus privilégios. Por vezes até me senti constrangida de sofrer e chorar, mas a vida seguiu, a vida segue.
Comecei a pensar como eu poderia compartilhar um pouco do que aprendi e do que eu vinha fazendo para me manter sã. Fiz pequenos vídeos de respiração, falei sobre meditação e yoga. Também ouvi e aprendi mais sobre maternidade, alimentação, e assim fui me nutrindo.
Foi desse sentimento que brotou o “Bem juntinhos”. Ele surgiu de uma necessidade de dar e receber afeto, surgiu da saudade de um abraço.
Daqui a 5 minutos ele vai estrear.
E as coisas no Brasil pioraram. A vacina não chega a tempo de salvar todas as vidas, 3 crianças seguem desaparecidas na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, os hospitais ainda estão muito lotados.
Muitas ações precisam ser tomadas a tempo e agora para o país caminhar.
Esperamos que o “Bem juntinhos” seja uma pausa, uma suspensão, um descanso momentâneo, um respiro pra gente continuar lutando pela vida.
Tomara que vocês gostem”.
Legado
O pai de Fernanda ficou quase quatro meses internado lutando bravamente contra a Covid-19 e também contra todas as consequências da doença. Ele ter falecido por esse vírus te faz ter ainda mais vontade de levar consciência para as pessoas se preservarem? “A perda do meu pai aconteceu logo na primeira onda da Covid-19, quando muitas pessoas não levavam a sério a gravidade do problema. Eu tentei, expondo minha dor e a situação pela qual passei, mostrar para quem me lia que o assunto era sério e as pessoas estavam de fato morrendo do vírus. Foi tudo muito triste e intenso, mas acredito que um testemunho como aquele fosse tão importante quanto dizer para as pessoas ficarem em casa. Também ajudo com doações as campanhas de compra de alimentos para comunidades. Hoje meu foco está mais nesse sentido: ajudar a tornar esses movimentos vivos para colaborar com quem está passando fome”.
Qual foi o legado dele para você e seus filhos? “Meu pai foi um grande homem. Ele me ajudou muito a ser quem eu sou, me ensinou sobre ética, verdade, transparência e luta. Me ensinou também sobre amor, a olhar para o próximo e a se preocupar com a dor do outro. Ele me ensinou também a vibrar e celebrar a vida. Era um homem que expressava seus sentimentos para fora, aos gritos, sempre de alegria. Passou por muita dificuldade na vida, desde a pobreza até a distância dos pais, mas lutou, venceu e nunca se colocou como vítima do mundo. Eu amo muito meu pai e tudo que aprendi com ele, que foi muito presente em minha vida. Mas não consigo falar tudo isso sem falar também da minha mãe, Maria Tereza, que fez parte dessa dobradinha, está vivíssima e vai ler essa matéria. Obrigada, mãe!”
Fernanda conclui nossa conversa sem querer pensar ou revelar outros planos para os próximos meses: “Está sendo mais um ano difícil com tantas dificuldades que estamos passando. Um dia de cada vez”. No entanto, ela até ‘ousa’ sonhar como gostaria de estar daqui há 20 anos: “Me vejo desfrutando a vida em um lugar em meio à natureza, colhendo alimentos da terra, recebendo a visita dos meus filhos e netos, lendo os livros que ainda não li, fazendo a sesta depois do almoço e assistindo ao pôr do sol todos os dias. Se possível, pretendo estar ainda trabalhando um pouco e de vez em quando frequentando alguma festa de amigos”.
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