*por Vítor Antunes
Em junho de 2024, a atriz Jacqueline Laurence (1932-2024) faleceu, marcando o fim de uma carreira notável no teatro, cinema e televisão brasileiros. Dois meses após sua morte, parte significativa de seu acervo pessoal começou a ser leiloada. Entre os itens, encontram-se livros, convites para peças, documentos e revistas, muitos dos quais foram acumulados ao longo de sua vida. O leilão inclui livros raros e peças únicas, com preços iniciais variando entre 100 e 300 reais, todos identificados como pertencentes ao acervo da atriz. Alguns desses itens estão sendo vendidos em lotes, mas sem uma identificação clara de sua origem, apenas com a inscrição de “uma coleção interessante de teatro provinda de uma atriz atuante”. Esses itens foram reconhecidos por um pesquisador especialista em história do teatro, consultado pelo site Heloisa Tolipan, como parte da coleção de Jacqueline Laurence. O leilão foi organizado por Fábio Pereira e teve como leiloeiro Pedro Sérgio Silva.
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O leilão inclui uma variedade de documentos e fotografias, livros autografados por figuras como Nelson Rodrigues (1912-1980) e Vinicius de Moraes (1913-1980), cartas e cartazes de espetáculos raros. Entre os manuscritos e autógrafos, destacam-se uma fotografia com uma extensa dedicatória da cantora Bidu Sayão (1902-1999) e uma carta manuscrita e assinada por Lindolpho Collor (1890-1942), avô do ex-Presidente da República Fernando Collor de Mello. Além disso, o acervo conta com documentos assinados por ex-Presidentes brasileiros, como Washington Luiz (1869-1957), Getúlio Vargas (1882-1954), Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), Café Filho (1899-1970) e Castelo Branco (1897-1967).
A memorabilia inclui um convite do restaurante La Fiorentina para um jantar em comemoração aos 80 anos da atriz Tônia Carrero (1922-2018), um livro intitulado Os Anos de Silêncio: Leituras Dramáticas 1964/1980, datado da década de 1980, sem edição e sem autoria especificada, e o livro Piquenique em Xanadu, autografado por Geraldo Carneiro. Programas de peças como A Moratória, de Jorge Andrade (1922-1984), e Meu Querido Mentiroso, de Jerome Kilty (1922-2012), também estão entre os itens, assim como a peça A Sinistra Comédia, de Harold Pinter (1930-2008). O acervo inclui ainda programas de teatro internacionais e documentos, como uma carta assinada pelos atores Othon Bastos e Martha Overbeck, dirigida ao elenco do espetáculo Disse me Disse, e uma autorização de Jacqueline Laurence, datada de 24 de abril de 1998, para a inclusão de seu nome no elenco da peça. Até o momento, este lote não atraiu interessados.
QUEM ERA JACQUELINE LAURENCE?
Jacqueline Laurence era uma atriz veterana, com inúmeros trabalhos no teatro, cinema e televisão. Em janeiro de 2024, ela falou ao site HT sobre os impactos da maturidade na falta de convites para novos trabalhos. Desde 2012, estava afastada das novelas e há alguns anos não subia aos palcos, “esperando o telefone tocar”. Em uma conversa sincera, comentou sobre os novos rumos da profissão de ator e abordou temas que nunca havia discutido em profundidade, como sua decisão de não ter dupla nacionalidade, casar ou ter filhos.
Seu nome é de grande relevância na arte dramática brasileira, especialmente por seu papel no movimento teatral conhecido como Besteirol, no Rio de Janeiro dos anos 1980, que projetou artistas como Miguel Falabella, Guilherme Karam (1957-2006) e Mauro Rasi (1949-2003). Aos 91 anos, a atriz, que estava afastada dos palcos e da televisão, desabafou: “Não vou fazer planos para 2024. Eles são mais difíceis. Estou numa idade em que não somos mais procurados. Estou no mercado a quem se interessar, mas é difícil”.
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