Você tem acompanhado aqui no site HT toda a sabedoria que uma das jornalistas e editoras de moda mais respeitadas do Brasil: Regina Guerreiro. Ela tem destilado através da websérie “Enjoy”, feita em parceria com a Cavalera, as “pílulas de sabedoria de Regina”. As doses já chegaram à segunda temporada este ano, com estreia marcada por receita de Roger Vergé e, desde ontem, está no ar um novo episódio batizado “Tá na mão? Ou não?”.
Regina, conhecida pela opinião singular e certeira, já passou pelas redações de revistas como a Harper’s Bazaar e a Vogue, onde foi diretora por 14 anos. HT bateu um papo com a autoridade em moda para falar sobre a série que tem sido um sucesso, a situação atual da indústria fashion, o que ela acha que mudou ao longo desses anos e como ela encara o “casamento” com a Cavalera e Alberto Hiar. Leia abaixo:
HT: Qual a proposta inicial da websérie “Enjoy” e qual mensagem você deseja passar ao público?
RG: Acho que o papel da imprensa está requerendo algo mais atual e moderno, como uma plataforma online. Eu não faço mais jornalismo de moda. O meu intuito nessa série é ter uma conversa com as pessoas que não estão grudadinhas comigo no meu dia-adia. É sempre um bate-papo sobre os mais diversos assuntos. As pessoas me perguntam como eu escolho os assuntos, mas o santo desce e eu falo tudo na hora. Gosto de amarrar assuntos variados, como figurino com cinema, cozinha, arte e tudo. Não são vídeos de lifestyle. É uma conversa com Regina Guerreiro, a qual acho que todos os jovens na moda adorariam ter.
HT: A sua carreira foi muito voltada para o impresso e o jornalismo escrito. Como está sendo a adaptação em frente às câmera?
RG: Eu estou adorando, viu? Não sabia que tinha um DNA de atriz e, na hora, o texto sai, sabe? Na realidade, eu escrevo o que vou falar, mas quando gravo sempre sai uma frase on e outra off, e assim vai.
HT: Como encara a atual situação da moda com a crise econômica que tem assolado o país?
RG: O que acontece é o seguinte: a crise não é só do Brasil, é do mundo. A economia está muito delicada, existe muito sangue e pouca água. É uma hora em que a moda se transforma em um sintoma das ruas: se as ruas estão pobres, a moda se encolhe e as pessoas usam roupas mais básicas.
O futuro da moda não está em grandes transformações: ela já foi decotada, fechada, curta, longa, de todos os jeitos. O grande lance, agora, é a preocupação com a textura e a matéria-prima. Aí está a modernidade da roupa: a anti-frio, a de calor etc. Como a moda está muito uniformizada, com calça e camiseta, e as diferenças não são tão explícitas, o jeito é mudar por dentro.
HT: O que acha do cancelamento do Fashion Rio e da concentração dos desfiles na São Paulo Fashion Week?
RG: Em nenhum país existe duas semanas de moda. Não tem, é uma só! Embora eu adorasse ir para o Rio e todo aquele programão, além de eu também amar o espírito da moda carioca, acho bacana unificar tudo. É um bem, não um mal.
HT: Como você avalia a parceria com a Cavalera e o pioneirismo de Alberto Hiar nos desfiles, chegando até a trazer índios do Acre nesta temporada (saiba mais aqui)?
RG: O Alberto é uma pessoa que gosta de sacudir. Gosta de espantar, de fazer o olhar das pessoas ir para um lugar novo. Acho que, para a nossa parceria, ele se baseou na seriedade do meu conteúdo e sou muito agradecida por isso. Ele viu em mim algo que ainda posso oferecer às pessoas.
HT: Falando em seriedade de conteúdo, como você vê a nova forma de as informações de moda chegarem ao público?
RG: Eu vejo com tristeza. Sei que pode parecer nostalgia, ou dar a impressão de “ela é de época”, ou até fazer as pessoas acharem que blogueira não dá certo. Não é isso. É que tudo se liquidificou, se esfumaçou. Hoje, todo mundo diz que acha isso e aquilo e, nesse achismo, as pessoas ficam sem direção. As revistas, hoje, querem cobrir tudo e isso mostra que elas não têm uma linha editorial, que é saber dizer ‘não’ ou dizer ‘sim’. As pessoas vão no embalo de ‘não sei quem vestiu não sei o quê’ e assim o visual da humanidade vai ficando pior ainda.
HT: O que você não gosta no visual contemporâneo da humanidade?
RG: A vulgaridade. Eu prefiro a pessoa com uma calça simples, bem cortada e de um bom material. Prefiro isso, simples e básico, à peruice internacional. O recado que a mulher perua passa é melancólico: não tem nada dentro, precisa mostrar o bundão e o decote. Mas essas coisas todas passam.
No novo episódio “Tá na mão? Ou não?”, Regina Guerreiro assume seu lado poetisa e fala sobre o poder do toque. “Moda feita a mão, bordados complicados, perucas quilométricas, chapéus enlouquecidos, jóias faraônicas. Não, nunquinha mesmo máquina nenhuma vai conseguir fazer isso. A magia está na mão!! Clique ENJOY e…«sinta» isso!”.
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