Exclusivo! Prestes a estrear a série “Amazônia S/A”, o diretor Estevão Ciavatta diz: “O grande vilão da Amazônia é a ilegalidade”


O marido e parceiro de Regina Casé fala sobre a nova empreitada que passará no Fantástico, seus projetos futuros, consciência ecológica e sua relação com a natureza

Há quase 15 anos rodando estradas mil com Regina Casé para apresentar ao público brasileiro as mais diferentes de árvores através do programa “Um pé de quê?”, exibido no Canal Futura, foi recentemente que o diretor Estevão Ciavatta enfrentou seu maior desafio com a natureza: uma imersão de 45 dias na Floresta Amazônica para gravar a série documental “Amazônia S/A”, que será exibida em cinco episódio durante o “Fantástico”, com estreia no próximo domingo (22/3).

Co-produzida pela Pindora Filmes e narrada por ninguém mais, ninguém menos do que Fernanda Montenegro, a série se divide em cinco temas referentes à floresta, passando desde o início de sua ocupação até as operações especiais da Polícia Florestal na área contra o desmatamento. Tudo isso culminará em um estudo que evidenciará o papel fundamental que a área poderá desempenhar no futuro econômico e ambiental do país.

O Site HT bateu um papo com Estevão sobre seu tempo mergulhado na imensidão da Amazônia, sua relação de longa data com a natureza, os desafios da filmagem e os projetos futuros na carreira. Isso tudo você lê abaixo:

Cacique Munduruku Juarez e o neto Léo e Estevão Ciavatta durante as gravações de Amazônia S/A (Foto: Reprodução)

Cacique Munduruku Juarez com o neto Léo e Estevão Ciavatta durante as gravações de Amazônia S/A (Foto: Reprodução)

HT: Quando você começou a pensar no projeto e o que despertou seu interesse?

EC: Há mais de dez anos, eu filmo na Amazônia e isso foi me trazendo para a região. Percebi que nesse tempo foram ocorrendo profundas transformações. Então, comecei a registrar detalhes que muitos não sabiam – o público comum não é tão ligado nesses assuntos relacionados à Amazônia.

HT: O que mais chamou a sua atenção durante o período de pesquisa e de filmagens?

EC: Principalmente, os serviços ambientais que a Amazônia está prestando para o Brasil, sobretudo para a crise hídrica. Outro ponto foi que o Brasil precisa entender o papel da Amazônia na economia: a carne que serve para comer domingo na laje, veio dali. E ainda há a madeira, a energia elétrica, o minério, a plantação de soja, o algodão etc… Quisemos mostrar que a Amazônia está mais presente no cotidiano do que se imagina.

HT: Qual foi o maior desafio de produzir a série?

EC: Nós temos um episódio exatamente sobre a madeira que envolve essa história das quadrilhas e da Operação Castanheira [uma ação da Polícia Federal, Ibama, Receita Federal e Ministério Público Federal que prendeu seis pessoas no interior do Pará, acusadas de praticarem um dano ambiental de mais de R$ 500 milhões]. Foi um dos momentos mais tensos, porque nós estávamos no meio do Pará, em uma cidade dominada por essa quadrilha – que acabou sendo presa. O mais desafiador foi conseguir fazer essas pessoas falarem. E, claro, teve também todo o esforço físico de filmar na região.

HT: Baseado na sua experiência, qual  é o assunto mais negligenciado em relação à Amazônia?

EC: Seriam dois: a Amazônia estar dentro da nossa vida de forma tão presente; e o segundo é que essa Amazônia que nós imaginamos como algo puro e natural tem uma história enorme. Só o homem já está ali há mais 15 mil anos. É algo que precisa ser respeitado.

Estevão Ciavatta (esq.) subindo o Rio Tapajós com a equipe do Amazônia S/A (Foto: Reprodução)

Estevão Ciavatta (esq.) subindo o Rio Tapajós com a equipe do “Amazônia S/A” (Foto: Reprodução)

HT: Qual problema atual você consideraria como o maior inimigo da Amazônia?

EC: O grande vilão na Amazônia é a ilegalidade, tanto nacional quanto internacional. O que nós mais precisamos nesse momento é que as ações sejam feitas de forma correta e transparente. O brasileiro depende dessa região! Eu sou muito pessimista, mas acho que ainda dá tempo. A Amazônia é o berço da ocupação humana de um novo Brasil.

HT: Qual a reação que você pretende gerar no público com a exibição da série?

EC: Aumentar o debate é prioritário. Que as pessoas se surpreendam com os mesmos pontos que eu, quando aprendi. Eu um nível mais político, gostaria que fizessem um plano – tipo o Plano Marshall – para daqui a 20 ou 30 anos. Pouca gente sabe disso, mas é a Amazônia que umedece o Sudeste e o Centro-Oeste do país. Imagine seus netos com sete anos vivendo em um clima semi-árido!

HT: Considerando a sua trajetória ao lado da Regina no “Um Pé de quê?”, você já tem essa ligação com a natureza há bastante tempo, algo que nem todo carioca tem. De onde vem isso?

EC: Meu pai é maranhense, por isso eu me sinto confortável de ser assim, andar descalço, entrar na mata, essas coisas… Eu também fui diretor do Grêmio Ecológico do Colégio São Vicente, em 1981, mais ou menos. Acho que, agora, eu estou entendendo que esses projetos da vida e da natureza, internos ou externos, são muitos mais complexos do que qualquer máquina ou tecnologia inventada pelos humanos. Estou maravilhado e com a certeza de que precisamos entender melhor esses processos.

Olha, vou dar um exemplo do primeiro episódio: a Amazônia evapora em um dia – e não fui eu que fiz essa conta (risos) – 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera.  Para fazermos isso, precisaríamos de Itaipu – a maior hidrelétrica do mundo – funcionando a todo vapor por 145 anos!  Entendeu?

HT: E depois que a série acabar quais são seus projetos futuros?

EC: Estou finalizando um webdocumentário sobre o ativismo digital e como essas ferramentas da internet estão facilitando a participação política. E, em junho ou julho, começo a gravar uma série de esportes para o Globo Espetacular. E ainda estou escrevendo um filme e uma série.