Com a palavra, as mães: Titi Müller faz relato emocionante da maternidade e escreve carta para filho ler no futuro


Em nossa nova série ‘Tudo o que eu queria te dizer’, convidadas compartilham os desafios e delícias da maternidade, experiências e reflexões, e falam diretamente para seus filhos, através de cartas escritas para o futuro das crianças e publicadas aqui a nosso pedido. Em entrevista exclusiva, homenageiam os que as fizeram mães, abrindo o coração e deixando um registro amoroso eternizado. A apresentadora, mãe do pequeno Benjamin de 3 anos, divide sua jornada de aprendizados, alegrias, dificuldades e se declara: “Meu filho é extremamente sensível, inteligente, esperto, sagaz, engraçado, é uma figura, meu companheirinho, meu parceiro da vida. Eu passei a acreditar em outras encarnações depois que virei mãe”

*Por Brunna Condini

Estavam sentindo falta de uma série de matérias por aqui? Nós também! E como domingo, dia 12, é comemorado o Dia das Mães, e neste mês muito se fala em maternidade, passamos a palavra a elas, as mães. Porque a data vai muito além de celebrações comerciais. É sobre esse amor imenso e o serviço incomparável que prestam à humanidade, em muitos âmbitos. E aqui na série, ‘Tudo o que eu queria te dizer’, nossas convidadas falam diretamente para seus filhos, através de cartas escritas exclusivamente para as matérias. Nestes textos, homenageiam os que as fizeram mães, abrindo o coração e deixando um registro amoroso para o futuro. Dando início à série especial, temos Titi Müller, mãe de Benjamin, que completa 4 anos em 11 de junho. Titi vive a intensa maternidade solo do pequeno, que nasceu em plena pandemia.

“Me tornei mãe no pico da primeira onda da Covid, fui da geração das primeiras mulheres que pariram sem ter a mínima ideia do que o vírus poderia causar, tanto para mãe quanto para o bebê. Acabou que o Brasil entrou numa estatística muito triste, a do país que mais teve mortes maternas e gestacionais por Covid, proporcionalmente. Essas notícias vinham chegando do mundo inteiro, enquanto eu ainda estava grávida, no último semestre da gestação, e pari com um hospital colapsado. Fui para casa com um sentimento de gratidão muito forte, de coragem e de medo, em uma ambivalência louca. Com o peito jorrando amor e grata por ter tanta vida acontecendo dentro da minha casa”, recorda a apresentadora, que está em pré-produção da terceira temporada do videocast ‘Acessíveis’, ao lado de Marimoon.

Com Benjamin: “O maior desafio está em realmente criar um ser humaninho. Entregar para a sociedade um homem diferente do que nos foi entregue na nossa geração" (Acervo pessoal)

Com Benjamin: “O maior desafio está em realmente criar um ser humaninho. Entregar para a sociedade um homem diferente do que nos foi entregue na nossa geração” (Acervo pessoal)

Neste período, vivi o momento mais importante da minha vida e um puerpério que foi marcado por muita solidão, sem uma rede de apoio que fizesse parte do meu círculo mais próximo, mas também experimentei uma conexão absurda com meu filho. Parei por um ano para me dedicar praticamente exclusivamente à maternidade. Continuei trabalhando remotamente, de casa, mas sempre priorizando muito a minha conexão com Benjamin – Titi Müller

Titi também avalia as transformações desde que o filho nasceu. “Ao longo da minha jornada como mãe, fui tendo cada vez mais certeza do meu caminho, sabe? Lógico que eu cometo, todos os dias, muitos erros. A gente que é mãe sabe que vamos ser o assunto principal da terapia dos nossos filhos. Mas mesmo com todos os erros, hoje tenho mais certeza do que eu estou fazendo. No início da minha maternidade fui muito questionada, colocada em cheque em relação à minha capacidade de maternar. A minha autoestima ficou muito abalada e hoje sou uma mãe muito mais segura. Cada pintinha do meu filho, cada dobrinha do corpo dele, eu conheço. Também seu lê-lo muito bem”.

"Fui muito questionada, colocada em cheque em relação à minha capacidade de maternar. Minha autoestima ficou muito abalada e hoje eu sou uma mãe muito mais segura" (Acervo pessoal)

“Fui muito questionada, colocada em cheque em relação à minha capacidade de maternar. Minha autoestima ficou muito abalada e hoje eu sou uma mãe muito mais segura” (Acervo pessoal)

Benjamin é uma criança extremamente sensível, empática e  tem um senso de cuidado comigo que nunca vi em uma criança tão pequena. Acabei de perguntar o que gostaria de ser quando crescer, e ele disse que deseja ser médico para poder cuidar de mim quando eu ficar ‘dodói’. Estou em um pós-operatório, da quinta cirurgia na coluna que faço após um acidente que sofri em 2018 (quando foi atingida por um balanço e arremessada do palco de uma festa). E ele ficou meio preocupado, quando fui para o hospital e tudo mais. Meu filho é uma doçura de criança. Extremamente sensível, inteligente, esperto, sagaz, engraçado, é uma figura, meu companheirinho, meu parceiro da vida. Eu passei a acreditar em outras encarnações depois que virei mãe – Titi Müller

Ela reflete ainda, sobre os desafios da maternidade hoje. “Acho que está em entregar para a sociedade não só um ser humano, mas um homem diferente do que nos foi entregue em nossa geração. Se fala muito do empoderamento, mas precisamos criar homens que estejam aí do nosso lado da trincheira. Benjamin é muito pequeno ainda, mas acredito que todo mundo aprende por observação e por exemplo. Ele tem na sua vida referenciais femininos muito positivos, potentes e a gente sempre conversa sobre tudo. É bem questionador, então eu sempre explico para ele da forma mais didática e doce possível, como o mundo funciona. Acho que um dos grandes desafios também é pensar em como vai ser o futuro dele, com a perspectiva que a gente tem de mundo, em escala global e enquanto civilização, para onde caminhamos. E o meu maior objetivo ao longo da vida dele é proporcionar o maior número de momentos gostosos e memórias afetivas, para que lembre o resto da sua vidinha”‘.

"Eu passei a acreditar em outras encarnações depois que virei mãe" (Acervo pessoal)

“Eu passei a acreditar em outras encarnações depois que virei mãe” (Acervo pessoal)

A apresentadora aproveita para falar de novos trabalhos, que a potencializam como mulher e profissional. “Estou pilotando um projeto para TV que ainda não posso falar muito, mas é um ‘vem aí’ que estou louca para poder falar. Também faço parte da organização do Festival Coma, em Brasília, que vai acontecer no início de agosto. Convido todos a irem para esse festival, que é uma catarse, um momento que passamos até deslocados do tempo-espaço, porque pensamos como conviver de uma nova forma. É um festival totalmente inclusivo, com o político muito forte, e é muito emblemático o fato dele ser em Brasília. Vou apresentar e trabalho também na parte artística. Estou muito feliz com essa sociedade, e agora posso falar que sou parte de um festival de uma ponta até a outra. Um festival que tem um lugar muito, muito gostoso no meu coração”, anuncia.

Carta para Benjamin

“Filho,

Desde que você chegou, já gravamos juntos sob fortes enjoos uma temporada do ‘Anota Aí’ na África do Sul, e tivemos que readaptar todos os nossos planos com a chegada da pandemia. E então você nasceu, há quase 4 anos, no pico daquele vírus que era totalmente desconhecido, mas já lotava hospitais enquanto você enchia meu peito de leite e coragem.

Juntos enfrentamos sozinhos um puerpério pandêmico. Você viu sua mãe chorar de amor, de dor e de solidão, incontáveis vezes. E sempre esteve lá para me acolher. E eu a você, um sempre dando colo para o outro. Aguentou firme quando precisei voltar a trabalhar e me acalmou quando achei que não daria conta de encerrar um ciclo que não estava legal para mim, portanto também não estava para você. Seguimos.

Mudamos de casa, tomamos uma vacina importante, conhecemos novos lugares e pessoas. Nadamos no rio, no mar, na piscina e na banheira. Você aprendeu a andar, a ler, a demonstrar afeto por seus amiguinhos e isso enche o meu peito de orgulho todos os dias. Mas o que mais me emociona, é o ser humaninho sensível, empático, doce e corajoso que você é. Eu amo descobrir o universo que habita em você, com todas as potências e dificuldades.

De todas as conquistas que tive ao longo da vida, nenhuma se compara ao privilégio que é ser sua mãe. Conhecemos dezenas de parquinhos juntos e eu conheci dezenas de cidades sozinha. Decidi, então, mudar o prumo da vida quando percebi que não é possível viajar pelo mundo sem você, metade do meu coração.

Balançamos e dormimos na rede tardes inteiras. E nesse balancê balancê, vou estar sempre com você. A mamãe vai e a mamãe volta, como a nossa rede, mas nada é mais sólido do que esse amor que cresce, gargalha, transborda e invade cada parte de mim. Os dias podem não ser fáceis por aqui, precisamos equilibrar mil pratinhos quando a vida vai jogando mais e mais. Mas você me faz feliz em todos eles. E em todas as vezes que erro, é pensando em acertar, e sempre para que você tenha o melhor de mim e tudo ao seu entorno.

Todos os dias, antes de dormir, te falo o quanto amo ser sua mamãe e você diz que ama ser meu filhinho. Sempre me emociono com isso. Você sabe que as coisas na vida podem ser bem complexas e às vezes fico sem chão. Mas você me segura para que eu não caia, Benjamin. É um deslumbramento, emula o canto de um querubim, curumim. Eu nunca tinha visto nada assim…”.

"Meu maior objetivo ao longo da vida dele é proporcionar o maior número de momentos gostosos e memórias afetivas, para que ele lembre o resto da sua vidinha" (Acervo pessoal)

“Meu maior objetivo ao longo da vida dele é proporcionar o maior número de momentos gostosos e memórias afetivas, para que ele lembre o resto da sua vidinha” (Acervo pessoal)