Pedro Tourinho tem clientes como Criolo, Bruno Gagliasso e Gil diz: “O gap de profissionalismo e a falta de boas práticas abre espaço para oportunistas”


Ele é referência para quem se interessa pelos mais diversos temas: desde o mercado do entretenimento, em especial o de música, passando pelo universo das redes sociais, o Carnaval baiano e a luta pelos direitos autorais no Brasil

*Por Junior de Paula

A primeira vez que ouvimos falar do publicitário Pedro Tourinho foi há cerca de cinco anos, quando ele morava em Los Angeles e passou a ser a principal fonte de informação brasileira in loco na porta do hospital onde Michael Jackson morreu. Tudo, claro, registrado em seu perfil no Twitter, que via sua popularidade crescer no Brasil e no mundo e se transformava na rede social mais importante da época. Pedro, por sua vez, saiu daquela experiência como um nome a ser seguido, acompanhado de perto e a promessa de que muito se ouviria falar sobre aquele minigênio baiano. Hoje, ele é mais do que uma realidade. É uma referência para quem se interessa pelos mais diversos temas: desde o mercado do entretenimento, em especial o de música, passando pelo universo das redes sociais, o carnaval baiano e a luta pelos direitos autorais no Brasil.

Amenidades também são bem-vindas, assim como palavras de incentivo, delicadeza e generosidade direcionada aos – muitos – amigos que ele vem acumulando desde que nasceu em Salvador e as muitas cidades pelas quais já passou. Atualmente morando no Rio, depois de uma temporada em São Paulo e passagem de sucesso pelo grupo ABC, Rede Record e a extinta empresa de eventos das organizações Globo, a GEO, Pedro está pronto para invadir o mercado com sua agência NoPlanB. “A idéia desta agência surgiu a partir de um problema que vi e vejo no mercado: a falta de profissionalização na gestão de carreiras e nas relações entre artistas e o mercado publicitário e com a mídia em geral. É um problema que persiste. O gap de profissionalismo e a falta de boas práticas estabelecidas abre espaço para oportunistas de todos os tamanhos. Meu objetivo com a NoPlanB é construir uma empresa integra, forte e lucrativa a ponto de estabelecer novos padrões no mercado. Não é audacioso, nossa intenção não é dominar o mundo, nem ser a maior, mas apenas e, simplesmente, trabalhar direito”, contou Pedro, com exclusividade ao site sobre sua nova empreitada que já nasce com status de gente grande com clientes como Criolo, Bruno Gagliasso e Gilberto Gil.

Entre uma ponte-aérea e outra, uma reunião aqui e outra acolá, conseguimos um tempinho para um papo sobre a vida, renovação carnavalesca, espiritual, profissional e os próximos passos deste que é um dos profissionais mais respeitados da indústria do entretenimento no Brasil.

1) Conta um pouco da sua trajetória resumidamente, se é que dá pra resumir. Onde se formou, onde trabalhou e quais os cargos que ocupou.

– Sou baiano, minha formação é em comunicação social e no carnaval. Minhas grandes escolas foram as ruas, ensaios, palcos e camarotes. Sempre tive muito claro que minha presença seria no backstage, e lá me coloquei. No backstage das festas e da vida. Sempre por ali, me preocupando mais em fazer acontecer do que em acontecer em si, e tudo foi acontecendo. Há quase 15 anos, abri uma agência de promoção, a primeira da região. Queria profissionalizar aquela feira que era o mercado de eventos em Salvador, e acho que deixei ali meus vintens nessa causa. Mudei para São Paulo já publicitário, e lá, trabalhando com o maior do Brasil decidi largar a propaganda e me profissionalizar no entretenimento. Foi aí que surgiu a idéia de passar uma temporada em Los Angeles, para aprender como essa indústria funciona quando já está desenvolvida e entender o que falta para a gente chegar lá. E foi lá que vocês me entrevistaram pela primeira vez há 5 anos, por causa da minha atuação nas redes sociais, era o boom do Twitter.

2) Qual a diferença do Pedro Tourinho que entrevistamos há 5 anos para o de hoje?

– De lá pra cá pude colocar em prática quase tudo que sonhei, dando espaço para novos sonhos. O desafio que me levou a Los Angeles foi o mesmo que me trouxe de volta. Poder trabalhar o mercado do entretenimento de forma profissional, capacitada, qualificada, e mais do que isso, fazer minha parte para  colocar o mercado de entretenimento no Brasil em outro patamar, alinhado com as melhores práticas do mundo. Voltei para fazer uma grande experiência multiplataforma na TV brasileira, que foi o Legendários. Nós fizemos na Record há 4 anos um projeto transmídia completo, tínhamos a segunda e terceira tela quando ainda só se falava da primeira, interatividade com programas ao vivo e simultâneo exclusivamente para web, conteúdo feito exclusivamente para internautas, coisas que a Globo só começou a fazer agora. Mas era na Record, e Record por mais que tenha audiência, não tem a mesma relevância. Fiz palestras na Europa para especialistas de TV do mundo inteiro sobre o case Legendários, mas, aqui no Brasi,l só os poucos especialistas reconhecem o pioneirismo dessa característica do programa. Saindo da Record, fui me aprofundar em projetos de branded content na New Content, maior agência do segmento, e trabalhar como diretor de marketing na GEO, empresa de eventos ao vivo das Organizações Globo, que foi a realização do sonho antigo de poder realizar grandes eventos e de forma profissional no Brasil. Fechou um ciclo que começou no início de minha carreira, lá na Bahia.

3) Que análise você faz do mercado do entretenimento no Brasil hoje em dia? Estamos evoluindo, involuindo ou no Brasil se anda em círculos?

– O cenário do mercado de entretenimento no Brasil hoje é meio confuso. Os dois maiores investimentos recentes em entretenimento ao vivo, a GEO e a XYZ, deram errado. A Globo segue merecidamente na liderança isolada, e assim deve continuar, mas com a abertura e fortalecimento dos canais de TV fechada, e exemplos cada vez mais frequentes de iniciativas auto-suficientes baseadas na internet, como Porta dos Fundos, o mercado tende a abrir para outros formatos e outras possibilidades. Isso é muito bom e animador, mas precisaremos ser mais profissionais, mais criativos, independentes e proativos. E é aí que entra a NoPlanB.

4) Você é baiano e um apaixonado pelo Carnaval. Seus mais recentes comentários sobre este tema vêm demonstrando uma certa dose de otimismo com os movimentos mais democráticos e originais dentro do Carnaval de Salvador e uma resignação com o que a festa se transformou nos últimos tempos. Agora que a poeira baixou, o copo está mais cheio ou mais vazio?

– Estou otimista. O problema do Carnaval da Bahia é que a industria tornou-se maior do que a música. Há mais empresários do que artistas, e a ignorância e insistência em repetir modelos que deram certo há 15 ou 20 anos atrás, acabou matando qualquer espaço para criatividade. Mas, agora, que o formato se esgotou, que todo mundo está quebrando ou se aposentando, começa a surgir espaço para novos ritmos e novas ocupações no carnaval. O futuro da música na Bahia está surgindo na madrugada, fora das cordas e longe das câmeras, mas quem já viu sabe que o que está vindo vem com uma força surpreendente.

5) Você é um membro bastante ativo do movimento Procure Saber, que ficou bastante conhecido no ano passado por conta das brigas que comprou. Ele segue com força para novas brigas, ou as porradas iniciais arrefeceram os ânimos? Como você avalia este primeiro momento de atuação? Quais os próximos passos?

– O Procure Saber comprou brigas necessárias. A busca por mais transparência na gestão coletiva e no ECAD foi uma discussão fundamental que não poderia partir de outra ponta que não fosse a dos autores e artistas da música. Ganhamos essa. A aprovação da PEC da música é uma das leis mais importante já aprovadas para o setor, pois vai dar um novo fôlego e tornar os negócios musicais mais viáveis. Já a discussão das biografias foi bem frustrante, perdemos a chance de aprofundar uma discussão importante que é onde começa e onde termina o direito à privacidade, mas aprendemos bastante tudo. No fim do dia, o Procure Saber é um marco na união de artistas e empresários, e, para mim, novo na turma, é um privilégio poder participar. Seguimos fortes e trabalhando em questões relacionadas à música.

6) Você é de Salvador, apaixonado pela Bahia, morou em São Paulo, onde se adaptou muito bem também, e, agora, mora – e parece feliz –  no Rio. O que você se identifica mais com cada uma destas cidades e o que elas te trouxeram de melhor?

– Salvador é minha raiz, minha religião. Lá entro num estado constante de abstração e conexão, único lugar onde consigo de fato recarregar minhas baterias. São Paulo é o ritmo que escolhi para minha vida. Trabalho, trabalho e lazer. Amo São Paulo e vou quase todas as semanas. Rio de Janeiro é minha casa, onde relaxo, crio e me divirto despretensiosamente, é também a cidade que fez com que eu me cuidasse mais, fisicamente e espiritualmente. Fico nessa vida, circulando entre essas 3 cidades, e meu equilíbrio está nesse triângulo.

7) O que você mais tem ouvido, visto e lido recentemente que mais tem o feito feliz?

– Tenho ouvido de tudo. Muita música gringa, The Temper Trap, Toro y Moi, Little Dragon e The Black Keys, sempre. Muita música brasileira também. Sempre descobrindo e redescobrindo Gil e Caetano. Rap brasileiro tem sido para mim uma inspiração como música e como negócio. Tenho visto mais séries do que filmes, o formato mais curto me dá mais liberdade para administrar meu tempo. E, recentemente, tenho lido muito Antônio Risério, que mata minha sede de Bahia.

8) Quem são os nomes da nova safra da música brasileira  que você aposta que tem potencial para uma carreira longeva e constante? Aliás, o que acha da nossa geração musical?

– Criolo, Tulipa Ruiz, Emicida, Russo Passapusso, são apostas e são realidade. A nova geração musical me parece bem consistente e inovadora ao mesmo tempo. Surgiu num tempo em que as gravadoras não tem tanta força e que o único caminho é a independência. São integros e inventaram uma nova forma de jogar no mercado. Não renegam nem o passado e nem o futuro. São bem resolvidos. É uma geração que já surge com uma maturidade que ao que me parece nenhuma outra teve.

9) Que pergunta você gostaria de responder que nunca ninguém te fez? Faça e responda!

– Se sou feliz. E a resposta é que sim.

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Fotos: Arquivo Pessoal

 

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura