Exclusivo! Pedro Baby lança carreira solo, fala sobre Novos Baianos e amadurecimento profissional: “Encontrei minha direção própria”


Depois de colaborações com Gal Costa, Bebel Gilberto, Ana Carolina e grandes nomes da MPB, o filho de Pepeu Gomes e Baby do Brasil se prepara para o lançamento de seu primeiro álbum como artista independente e fala com HT sobre o desenvolvimento pessoal e profissional que culminou na nova investida

Aos 37 anos, Pedro Baby está se preparando para o lançamento de seu primeiro disco, “Pedro Baby Vol. 1”, que ganhará um grande show de début na noite de hoje, sob a lona do Circo Voador, na Lapa. Mas não se engane: o músico, compositor e cantor não é nenhum novato na cena musical. Tocando guitarra profissionalmente desde os 16 anos, o artista já tem no currículo colaborações em shows de Marisa Monte, Ana Carolina, Bebel Gilberto e Gal Costa, isso sem falar na herança genética por ser filho de dois dos maiores nomes da música nacional: Pepeu Gomes e Baby do Brasil. “Após o Rock In Rio, eu comecei a ter uma visibilidade muito maior com o meu trabalho e senti a necessidade de me posicionar como artista solo. Foi por causa disso que corri para o estúdio e terminei a música que achei melhor para representar o álbum como um todo”, explica Pedro, em entrevista exclusiva ao Site HT.

O acontecimento no Rock In Rio ao qual o artista se refere é a volta da união musical entre Baby do Brasil e Pepeu Gomes, que há 27 anos não se apresentavam juntos. O encontro histórico no palco do festival foi dirigido pelo filho e, durante o show de hoje no Circo Voador, os fãs terão um revival ainda mais intenso da tropicália dos Novos Baianos: o tio Jorginho Gomes e Dadi, membros originais do grupo, também participam do show, que promete ser tão emocionante e histórico quanto o do RIR. “Há vários momentos em que estou ensaiando, que vejo meu tio e preciso me blindar emocionalmente para não deixar o menino aparecer e não conseguir cantar uma música no ensaio. Isso me emociona, obviamente: vê-los ali tocando com tanto amor e se dedicando”, nos confessou Pedro.

Pedro Baby se apresenta hoje no Circo Voador, com Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Dadi e Jorginho Gomes (Foto: Alessandra Marfisa | Divulgação)

Pedro Baby se apresenta hoje no Circo Voador, com Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Dadi e Jorginho Gomes (Foto: Alessandra Marfisa | Divulgação)

Ao longo da setlist, além dos sucessos dos Novos Baianos, o público pode esperar uma grande parcela do novo trabalho autoral do músico, que, lançado de forma independente, traz participações de nomes como Nação Zumbi, Edu Krieger, Daniel Jobim, Ari Moraes, Arnaldo Antunes e Betão Aguiar, esses dois últimos responsáveis pelo primeiro single do projeto, “Beija”.

Pedro Baby – “Beija”

Abaixo, você lê na íntegra o bate-papo de Pedro Baby com HT, no qual o músico fala sobre o período em que morou sozinho em Nova York, como foi juntar os pais no palco do Rock In Rio, o cenário independente da música brasileira, suas parcerias dos sonhos e seu desenvolvimento pessoal e profissional, que culminou no lançamento do primeiro álbum. Vem com a gente e se prepare: você ainda verá e ouvirá muito mais de Pedro Baby no futuro.

HT: Como foi o processo de gravação do seu primeiro álbum e como escolheu as participações que teria, como Arnaldo Antunes, Ari Moraes, Daniel Jobim etc?

PB: Ele ainda está sendo feito, mas 90% já está pronto. Minha previsão era lançá-lo só no ano que vem, mas, após o Rock In Rio, eu comecei a ter uma visibilidade muito maior com o meu trabalho e senti a necessidade de me posicionar como artista solo. Foi por causa disso que corri para o estúdio e terminei a música que achei melhor para representar o álbum como um todo.

Como a indústria toda está passando por reformulação e ainda não sabemos direito como agir, está tudo muito aberto. Resolvi experimentar isso de lançar o single, porque as pessoas estão começando a ter mais paciência para ouvir uma música e depois se interessar. O objetivo é lançar o disco mais para março e mais dois singles antes. O tempo das pessoas anda muito confuso.

Eu não estou sendo pioneiro nisso, mas eu me simpatizei com a ideia, porque vi que o resultado poderia ser mais justo e honesto. Quem realmente gostar, pode me seguir e, simultaneamente, me estimular. Fica com essa vontade de ouvir mais, e ainda mais quando você não tem uma história como artista solo. Eu acabo achando que, em um tempo, o disco será diluído por causa do formato físico.

HT: Você toca profissionalmente desde os 16 anos. Por quê demorou tanto para o seu primeiro álbum solo?

PB: A música é como uma fruta. Ela amadurece. Em 2004, tive a oportunidade de fazer o meu primeiro show e tive até a oportunidade de assinar com uma gravadora e gravar três discos. Na hora, percebi que não tinha nenhum álbum inteiro. Entendi com os anos que, ao ter um trabalho, é necessário alimentar o público para sempre, porque a pessoa quer envelhecer com você. Eu não me sentia preparado para decidir parceiros, infraestrutura e assumir uma posição com as minhas ideias na qual eu seria responsável por tudo. Logo depois, tive a proposta de fazer uma turnê mundial de 150 shows com a Bebel Gilberto, o que me ajudaria a crescer como músico, aprender e experimentar tudo. Então, vieram trabalhos com Marisa (Monte), Ana Carolina, Gal (Costa) e, depois, a possibilidade de, como produtor e diretor, mostrar minhas ideias para a Baby (do Brasil). Tudo convergiu nessa chance de me lançar, e não apenas com esse primeiro disco. Já estou pensando no próximo. Há algumas músicas escritas lá atrás, que fui guardando e maturando. Fiz a melodia de algumas que ficaram 10 ou 15, até a ter a dádiva de estar com alguém como Arnaldo (Antunes) ou Edu Krieger. Teve uma música do Ari (Moraes) que foi quase uma aula, de tão difícil.

Pedro Baby sobre período fora do Brasil: "Sabia que precisava sair e me livrar do mundo" (Foto: Alessandra Marfisa | Divulgação)

Pedro Baby sobre período fora do Brasil: “Sabia que precisava sair e me livrar do mundo” (Foto: Alessandra Marfisa | Divulgação)

HT: Como o seu período nos EUA ajudou a formar a sua personalidade artística?

PB: Isso foi fundamental para a minha formação. Quando estava prestes a completar 18 anos, principalmente por tocar o mesmo instrumento que meu pai, eu sentia uma pressão muito grande de já estar pronto. Quando apareceu a possibilidade de viajar, não sabia que ficaria quase 10 anos lá fora. Sabia que precisava sair e me livrar do mundo.

Quando adolescente, eu tocava em uma banda e nos presentamos em um festival no Circo Voador, e acabou que, na hora de fazermos a checagem do som, todos os guitarristas foram olhar como era o desempenho do filho do Pepeu. Senti um pouco de clima de competição na hora, e não gostei disso. Não acho que música seja assim. Ao sair do Brasil, pude me olhar de fora e começar a lidar com outros aspectos da vida adulta, aprendendo a me estruturar emocionalmente sem a família, trabalhar e me estabelecer como músico. Foi em Nova York também onde Bebel me viu pela primeira vez.

HT: Essa é a segunda vez que você reúne os Novos Baianos no palco. Como se sente tendo crescido em meio ao grupo e agora poder tocar com eles de igual para igual?

PB: Há vários momentos em que estou ensaiando, que vejo meu tio e preciso me blindar emocionalmente para não deixar o menino aparecer e não conseguir cantar uma música no ensaio. Isso me emociona, obviamente: vê-los ali tocando com tanto amor e se dedicando. Também tive o prazer de viajar com o Dadi, uma vez, durante meu período com a Marisa (Monte), e isso se estender para o meu trabalho é uma generosidade enorme dele. Tudo isso está sendo fruto do Festival Sonoridades, no ano passado, quando pude convidá-los para tocar comigo. Por isso que coloco todos como músicos e participações especiais no show. Não é só Baby e Pepeu. São também uns caras que têm uma história enorme e eu fico muito emocionado de reuní-los. É tudo uma conquista natural, os encontros foram surgindo. Eu não teria uma ousadia de forçar a barra nesse aspecto, é preciso sentir e esperar que venha a oportunidade.

HT: Você ainda sente algum tipo de pressão por ser filho da Baby e do Pepeu?

PB: Existe essa comparação e vai existir sempre, porque as pessoas têm um parâmetro. Mas hoje é muito diferente do que foi há 2 anos e eu até curto. O mais importante, para mim, como músico, foi ver que minha guitarra, o jeito de tocar e o que eu faço, o emocionam. Isso é a certeza de que tenho meu caminho, encontrei minha direção própria, e é também o que ele sempre quis: que eu me descobrisse e começasse a tocar o instrumento por vontade minha. Também entendi que esse aprendizado seria dessa forma porque eu precisei ser autodidata e, para ele, era difícil me ensinar, porque o Pepeu não tinha muita experiência didática. Essa foi uma questão boa para  se pensar lá fora, senão eu poderia estar preocupado até hoje. Mas eu sei que  não vou tocar nunca igual ao meu pai. Ele é insuperável e é meu grande ídolo.

HT: No Rock In Rio, você conseguiu o que muitos fãs dos Novos Baianos sempre sonharam: a reunião de Baby e Pepeu nos palcos, sob a sua direção. Como foi essa experiência para você?

PB: O trabalho que fiz com a Baby já me trazia muitas emoções, porque consegui trazer e mostrar o talento dela. Quem sou eu para dirigir dois artistas com mais de 40 anos de carreira? É algo que você não dirige! Para alguém com essa estrada, você só prepara um ambiente e uma situação profissional para eles chegarem e fazerem o que sabem. Talvez a minha maior virtude tenha sido a organização, o conceito de repertório – algo que aprendi muito com Caetano (Veloso), no show da Gal – , juntar tudo que vi nesses anos e aproximar à minha família. Eu só queria que eles chegassem e não tivessem o mínimo de preocupação. Queria mostrar para eles que aprendi a fazer a parte de configuração sonora e que eles pudessem se sentir leves, porque eu tomava conta dos dois. Acho que isso foi o que mais mexeu com eles e comigo, isso de poder cuidar dos meus pais. Demorei dias para que a ficha caísse. Até hoje as pessoas me param na rua para contar que tinham brigado com não sei quem, e quando viram o show, ligaram para a pessoa na hora.

Baby do Brasil, Pepeu Gomes e Pedro Baby no Rock In Rio 2015

HT: E essa reconciliação foi difícil de conseguir?

PB: Nunca houve uma briga, o que aconteceu foi um afastamento natural da vida. Talvez precisasse de alguém de dentro da família e, pelo canal da música, fazer com que eles ficassem juntos novamente. Eu não poderia deixar essa história no passado, se eles ainda estão na ativa. Foi importante mostrar para eles que eu poderia administrar a infraestrutura. Fico feliz de dizer que proporciono para os meus pais um momento de alegria. Só de vê-los juntos já gera uma harmonia que contagia tudo mundo.

Pedro Baby, Baby do Brasil e Pepeu Gomes nos ensaios para o show no Circo Voador (Foto: Reprodução)

Pedro Baby, Baby do Brasil e Pepeu Gomes nos ensaios para o show no Circo Voador (Foto: Reprodução)

HT: O que você acha em relação ao panorama atual da música e a diferença entre o que toca nas rádios e o que há de anovo e autoral na cena?

PB: Isso acontece, mas é um processo natural do mundo, em si. É muito difícil esperar que tudo reaja da mesma forma que nos anos 1960, porque o consumo, as mídias e o mercado estão diferentes. Vivemos em uma era da comunicação na qual a internet dá o acesso para as pessoas procurarem o que quiserem. Claro, há manipulação, mas há também uma liberdade maior. Temos que aprender a lidar com isso ainda. Mais do que lamentar, temos que fazer música boa. Quem estiver interessado, vai se aproximar e vai curtir o seu trabalho. Acho que o sentimento não pode ser o de estar batendo em pedra. Vejo muita gente talentosa por aí, como a Alice Caymmi, por exemplo. Fico muito feliz de estarmos nos esbarrando por aí e confesso que me assustei muito de ver como o vozeirão e a maturidade artística dela chegaram muito mais rápido do que para mim. A própria Tulipa (Ruiz) está crescendo, fazendo o trabalho dela com o irmão. São muitas pessoas, como a Céu e o (Marcelo) Jeneci, Criolo, Emicida.

É só sintonizar. Esperar que o mundo reaja de acordo com o seu gosto não é o caminho a se seguir. Precisamos furar esse bloqueio com música boa e não olhar muito para isso.

HT: Depois de ter colaborado profissionalmente com tantos nomes icônicos da música brasileira, com quem você ainda gostaria de trabalhar?

PB: O mestre maior de todos é o João Gilberto, que está no meu santuário máximo, ao lado de Tom Jobim. Eu também gosto muito muito muito da Alice (Caymmi). Acho algo super possível, porque ela é parceirona. Outro dia, passei pela porta do estúdio onde estava ensaiando e ela estava cantando Jimi Hendrix, e fiquei impressionado. A Tulipa (Ruiz) é outra que adoro: ela se joga, ela é ela e vem de uma família musical. Dos artistas grandes, acho que Caetano (Veloso) e (Gilberto) Gil são ótimos. Djavan também é absurdo. Há muitas pessoas que são ídolos. O Chico (Buarque) eu nem falo, porque eu tremeria na base do início ao fim.