Cantora, compositora e guitarrista, Lianne La Havas trouxe de Londres um som que mistura folk e soul para abrir os shows do Coldplay no Brasil, e se apresentar logo depois da prata da casa Tiê. A artista começou a carreira cantando vocais de fundo para a também inglesa Paloma Faith, até conseguir seu primeiro contrato com a Warner, em 2010. Dois anos depois, lançou seu álbum de estréia, “Is your love big enough?”, que lhe rendeu o prêmio de melhor disco do ano do iTunes. Aos 25 anos, a compositora lançou seu segundo disco, “Blood”, escrito enquanto tirava férias na Jamaica, país de sua mãe.
“Quando eu escrevi, toda a minha herança cultural estava muito forte na minha cabeça. Eu queria encontrar um jeito de representar as minhas raízes e a minha essência londrina”, contou. E isso se vê já na capa, que estampa Lianne, com seu cabelo natural, algumas flores tropicais para remeter à Kingston e uma pedra de mármore que representa a Grécia, de onde era a família do seu pai, em arte de Mike Liscow.
Em exclusiva com HT, a cantora falou também sobre o mercado fonográfico, a crise migratória na Europa, os recentes atentados terroristas e muito mais.
HT: Você está no Brasil desde a última quinta-feira. O que você já aprendeu sobre o nosso país e o que está achando daqui?
LH: Eu aprendi um pouco da língua, eu assisti incríveis apresentações de música ao vivo, fui à praia, eu amei o zoológico, e aprender sobre os animais. Eu amo estar aqui e descobrir tudo por mim mesma, não sei nem mais que dia da semana é hoje. Eu aprendi até a sambar (risos). Eu estava em um restaurante, e tinha um homem que precisava de uma parceira e ele me ensinou a dançar. Adorei ver os músicos, o jeito que eles tocam, particularmente, o guitarrista, fiquei fascinada.
HT: Como é ser uma mulher no mundo musical, hoje em dia? Você acha que isso te afeta?
LH: Eu penso que o mundo musical é mais sobre cada um, individualmente. Eu estou só trabalhando muito, como eu acredito que qualquer outro homem faria. O mercado definitivamente ainda não é igual para os dois, sempre tem uma mudança que pode ser feita, mas eu sinto que eu estou trabalhando muito e estou conquistando muita coisa. Eu não penso que o fato de eu ser uma mulher muda alguma coisa, na verdade.
HT: Você passou um tempo compondo no país da sua mãe, se conectando com suas raízes. Você pretende fazer esse tipo de jornada nas próximas vezes que for compor?
LH: Talvez. A época que eu passei na Jamaica foi uma parte muito específica da minha vida, eu fui de férias, e acabei ficando muito inspirada. Meus avós são desse país, então acabou significando muito para mim. Mas isso não quer dizer que eu não ficaria inspirada por outro país o suficiente para compor. O que eu quero dizer é que eu adoraria fazer música em todos os cantos do mundo e eu acho que o Brasil, especialmente, tem sido bem inspirador. Eu me sinto muito bem de estar aqui e será bom voltar também.
HT: Qual foi a melhor parte dessa sua jornada?
LH: A melhor parte foi estar na praia com a minha mãe, e só andar com ela, cuidar dela. Ela gosta de ser livre e falar com todo mundo, mas eu falo para ela não falar com estranhos (risos). Eu também amei estar com meus primos, que eu não via desde que eu era uma criança. Foi ótimo gravar na Jamaica também, a minha parte preferida foi estar em um estúdio. Era um ambiente bem diferente do que eu estou acostumada, uma cultura completamente diferente, mas a essência do que as pessoas fazem no estúdio é a mesma coisa, aonde quer que você vá, então eu me senti em casa. Foi libertador.
HT: Como você vê esse novo momento da indústria musical, onde os artistas tem muita liberdade para compor, mas ao mesmo tempo, a competitividade é bem maior?
LH: É de fato muito competitivo, eu penso muito sobre isso. Eu costumava pensar mais quando eu “entrei” nesse mercado, quando eu não tinha um senso tão forte de identidade como eu tenho agora. Agora com mais experiência, eu não posso pensar tanto na competitividade, eu só foco no que eu estou fazendo e torno a minha música o mais honesta possível, para assim conseguir me diferenciar, e ganhar espaço. Eu acho que a indústria está mudando tanto, de tantos jeitos, as companhias, os estilos, as músicas, o jeito que a música fica disponível para nós, então eu tento só seguir o ritmo.
HT: Você, como fruto da imigração, pensa o que da atual crise migratória na Europa?
LH: É interessante você perguntar isso. Os meus dois pais nasceram em Londres, mas os pais deles eram imigrantes da Grécia, do lado do meu pai, e da Jamaica, do lado da minha mãe. Eu realmente acho que todo mundo devia poder ir para todos os lugares. E eu não sei por que não é assim. Na minha cabeça, não faz sentido restringir o acesso de seres humanos a partes do planeta.
HT: E como está o clima por lá depois dos atentados terroristas?
LH: Eu tenho visto as pessoas mais unidas para não deixar eles ganharem, para não deixar o medo tirar o melhor da gente. Obviamente, é horrível o que está acontecendo, e o que aconteceu, mas o jeito é nos unirmos.
HT: Você postou agora há pouco, no Twitter, que vai fazer um show aberto na noite de segunda, no Rio. De onde veio essa ideia?
LH: Não foi planejado, eu só realmente queria tocar aqui. E eu fiquei pensando se as pessoas viriam, e eu acabei de enviar um tweet e muita gente me respondeu, dizendo que não conseguiram ingressos para assistir ao show do Maracanã. Então vou fazer isso, mas não posso te contar aonde vai ser ainda. Fique de olho na internet!
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