“É mais difícil quebrar um preconceito que um átomo”. A frase dita pelo cientista Albert Einstein também pode ser aplicada à personalidade forte de Andréa, de “Mister Brau“. Nesta terceira temporada da série da Globo, a personagem de Fernanda de Freitas vive a maternidade, mas, nem por isso, abandona o caráter preconceituoso dos episódios anteriores. Para contar das novas aventuras da personagem, os impactos da série na sociedade e analisar diversos assuntos polêmicos e contemporâneos, a atriz Fernanda de Freitas é a estrela de mais um editorial exclusivo do site HT. Para ilustrar a matéria em que a atriz analisou temáticas como empoderamento feminino, racismo e não fugiu do assunto assédio na Globo, Fernanda posou para as lentes certeiras de Sergio Baia na maravilhosa suíte do hotel Golden Tulip, na Praia da Copacabana. Na beleza, Guto Moraes assinou a maquiagem e as madeixas e a dupla Juliana Durso e Shainy Camacho, da DUO Consultoria de Estilo, foi a responsável pelos looks arrasadores. Desce mais para conferir o resultado!
Preconceituosa, egoísta e agora mãe, a antagonista Andréa, interpretada por Fernanda de Freitas, estreou mais uma temporada da série “Mister Brau” em abril. Responsável por ser o contraponto da história que aborda a diversidade com muito humor e música, a atriz contou da deliciosa experiência nos bastidores ao lado de Taís Araújo, Lázaro Ramos, George Sauma e elenco. Nesta temporada, Andréa passou pela vivência da maternidade. Mas, para os telespectadores que pensaram que a experiência seria sinônimo de uma maior sensibilidade por parte da personagem, Fernanda logo alerta: “Andréa não muda nada”. “Dizem que a gravidez transforma uma mulher, mas não é o caso da Andréa. O que mais muda é que ela fica com fome, estressada e com vontade de bater em todo mundo. Mas é só. Para além da gravidez, ela continua a mesma pessoa e não se torna uma mulher mais sensível, por exemplo”, adiantou a atriz sobre a temporada que ainda se estende pelas próximas semanas.
No entanto, a maternidade não é novidade apenas para Andréa nesta temporada de “Mister Brau”. Na casa do lado, Brau e Michelle também passam pela experiência ao decidirem adotar três crianças. Entre as temáticas que este ano compõem os episódios da série, está a família e as novas estruturas dela. Seja de filho biológico, como no caso da personagem de Fernanda de Freitas, ou adotado, como na família principal da trama, a atriz destacou a importância de abordar a diversidade na televisão.
Segundo Fernanda, mais do que rótulos ou padrões, as famílias precisam ter, acima disso, amor. “Eu fico feliz que as famílias não sejam mais rotuladas e estejam mudando. Para mim, o mais importante é que tenha amor, independente de os pais serem gays ou héteros e o filho biológico ou adotado. Eu acho que se tiver amor entre os integrantes está tudo bem”, opinou a atriz que reconhece melhoras na relação do novo com o pensamento moderno. “É bom ver que a sociedade também está aceitando com mais naturalidade. Mas, como tudo o que a gente aborda no Mister Brau, eu ainda acho que é um processo de transformação que não é exclusivo da nossa sociedade. Este é um momento mundial que ainda é muito difícil para algumas pessoas”, completou.
Aliás, como Fernanda de Freitas destacou, faz parte da proposta da série “Mister Brau” abordar temáticas que, fora das telinhas, são polêmicas e discriminadas por parte da sociedade. Entre os assuntos que o humorístico já discutiu está o preconceito, o racismo, o bullying e o empoderamento feminino. Sobre este engajamento da série nessas temáticas, ainda mais em um programa da televisão aberta, Fernanda destacou a importância deste espaço na grade da Globo.
“Eu acho que Mister Brau não é só um programa de entretenimento. Na série, a gente também tem a função de alertar e discutir sobre assuntos sérios e latentes na nossa sociedade e que estão em transformação. Eu acredito que cada vez mais a gente tem que falar sobre isso para que plantemos essa sementinha na cabeça das pessoas e elas passem a aceitar mais as diferenças. A gente toca em feridas e levantamos questões que muitos querem deixar de lado. Mas é assim que vamos conseguir a mudança que desejamos. Eu fico feliz em fazer parte de uma série que discute temas tão importantes”, disse.
Porém, como aliados, Mister Brau tem o humor e a música como personagens complementares da trama. Mais do que uma aula contra o racismo na televisão aberta, por exemplo, a série diverte e, entre uma música e outra, explora essas questões. Desta forma, Fernanda de Freitas acredita que a proposta engajada do programa entre de forma mais leve e natural na reflexão dos espectadores. Aliás, o humor de “Mister Brau” não é uma novidade na carreira da atriz. Em seus quase 20 anos de profissão, a atriz acumula memoráveis personagens cômicos. Entre eles, a Marina da Glória, da última versão de “Escolinha do Professor Raimundo”, e a Flavinha, do seriado “Tapas e Beijos”. Sobre esta faceta mais humorada, Fernanda de Freitas confessou que explora muito mais na ficção do que na realidade. “Eu me acho muito mais down e dramática do que engraçada”, revelou.
Com diversos trabalhos com esta característica, Fernanda acredita que este seu lado tenha sido explorado na televisão após um importante trabalho no teatro. Durante cinco anos, a atriz interpretou três personagens cômicos simultaneamente na peça “Ensina-me a Viver”. “Eu já tinha feito alguns personagens que tinham uma veia cômica, mas o humor de fato entrou mesmo na minha carreira depois da peça ‘Ensina-me a viver’, que eu fazia com o João Falcão. A partir desse espetáculo, em que muitas pessoas me viram fazendo humor, os trabalhos na televisão começaram a ser voltados para isso. E aí foi dando certo e eu fui ficando”, lembrou.
No entanto, engana-se quem pensa que a interpretação de Fernanda de Freitas seja exclusivamente cômica. Inclusive, a atriz contou que dentro e fora da telinha tem tentado explorar outras facetas da ficção. “Eu não sinto medo de ficar estereotipada, mas sinto muita vontade de fazer trabalhos que vão além da comédia. Não é que eu queira fugir do humor porque eu adoro trabalhar com isso. Mas, na televisão, principalmente, eu sinto falta de poder transitar mais por outros caminhos. No teatro, por exemplo, a última peça que eu fiz foi uma tragédia na qual eu interpretava uma bailarina esquizofrênica”, contou.
Insider do atual cenário do humor brasileiro, a atriz comentou o questionado “politicamente correto” dos tempos modernos. Para ela, antes de qualquer piada e gargalhada, é preciso haver respeito e educação. Em tempos de crise, Fernanda acredita que um comentário engraçado não pode ser o aval para ofender ou discriminar alguém. “Eu acho que hoje em dia precisamos ser ainda mais sensíveis e educados na hora de fazer uma piada. Tudo depende do tom e da pessoa com quem você vai fazer. Eu não sou contra qualquer tipo de humor. O problema é que as pessoas usam a comédia para agredir as outras e depois se defendem dizendo que era só uma piada e que estavam brincando”, analisou Fernanda que acrescentou: “Não é que eu ache que nenhuma piada com negro seja possível. Mas, como as pessoas não sabem os limites, é melhor que não haja de nenhum tipo. Precisa, sobretudo, haver respeito”.
Por falar em respeito, a posição da mulher na sociedade também é outra temática abordada em “Mister Brau” e refletida na vida da atriz. Sobre os movimentos feministas de hoje em dia, Fernanda de Freitas demonstrou aprovação, mas afirmou não ser ativista. Nas redes sociais, por exemplo, a atriz é mais contida e não se posiciona em todas as campanhas virtuais sobre o assunto. Em exceção, apesar de não ter compartilhado a hashtag, Fernanda destacou a importância da repercussão do caso Su Tonami, figurinista da Globo que denunciou o ator José Mayer por assédio nos bastidores de “A Lei do Amor”. “Na época da campanha eu estava viajando e só fui ver depois. Mas, sim, eu teria postado e colocado a hashtag. Eu fiquei muito feliz em ver que todas as colegas se uniram em prol de uma casa interna com repercussão externa. Eu sou menos ativista que muitas outras artistas, mas não deixo de me posicionar quando acho necessário”, explicou.
Em relação ao caso e ao assédio sofrido pelas mulheres de uma maneira geral, Fernanda acredita que a repercussão também foi reflexo de um grito em comum de muitas outras vítimas. “Eu acho que isso acontece em todos os lugares e acredito que a campanha ganhou toda aquela força porque devia ser um grito entalado para muitas outras pessoas. Inclusive, recentemente, eu li uma pesquisa que dizia que uma em cada três mulheres sofre violência ou assédio. Esse é um número muito grande e eu realmente acho que toda mulher, em algum momento, já se sentiu minimizada ou invadida de alguma forma”, argumentou Fernanda que espera boas consequências depois de toda essa tsunami virtual. “Eu acho importante que a gente tenha casos concretos como esse e que ganhem toda essa proporção porque são oportunidades para os homens pensarem no que estão fazendo. Tomara que ele (José Mayer) repense no que fez, assim como todos os outros que se identificaram com o caso. Para mim, isso vai muito além do machismo. É falta de educação mesmo. Será que ninguém ensinou a uma pessoa dessa que não é legal ter uma atitude assim?”, questionou.
O fato é que ainda não é fácil ser mulher em 2017. Com tudo isso que Fernanda de Freitas citou e argumentou, diversos casos continuam eclodindo a cada semana. Na verdade, como a atriz destacou, a dificuldade vai muito além apenas da mulher. No século XXI, as chamadas minorias ainda são discriminadas, mesmo em uma sociedade tão plural e heterogênea como a nossa. “Apesar de reconhecer que estamos caminhando e que podemos chegar a um panorama bem melhor, ainda é bem complicado para nós que passamos diariamente por determinadas situações. E não só a mulher. O negro, o gay, o pobre e qualquer outra minoria ainda sofre muito preconceito hoje em dia”, apontou.
Por falar em dificuldade, a arte também é outra figura prejudicada desses tempos modernos. Por um lado, a crise social abala o ser humano contemporâneo. Por outro, são as inconstâncias políticas e econômicas que desvalorizam a produção de cultura em nosso país. Para Fernanda de Freitas, o panorama da arte brasileira caminha tal como a educação e a saúde do nosso país. Mas, neste momento, a atriz acredita que o maior culpado dessa situação seja a falta de dinheiro. “Embora eu reconheça que, realmente, a arte não recebe a atenção que deveria, o atual momento é pautado pela falta de dinheiro mesmo. As pessoas não têm dinheiro para ir ao teatro e as empresas não estão faturando suficiente para conseguir incentivar a cultura”, disse Fernanda que apontou consequências lógicas desta situação. “Não tem como fazer uma peça sem patrocínio. Eu fiz há alguns anos como um ato de resistência e o resultado foi terrível. Depois disso, nunca mais eu me arrisco. Ou eu estreio com patrocínio ou não faço. Essa história de bancar um projeto por amor não é mais viável”, completou.
Para seguir a carreira, Fernanda de Freitas destacou a importância dos convites para produções dentro e fora da televisão. Na Globo, por exemplo, a atriz está emendando um trabalho após o outro desde quando entrou na emissora, em 1999. Nesta caminhada, pelo menos uma vez por ano, Fernanda estrelou um trabalho como atriz e até como apresentadora, como foi na “TV Globinho”, em 2003. “Com a dificuldade de fazer os projetos próprios, a gente continua a carreira aceitando convites para outros trabalhos. Na Globo, eu tenho as produções que me chamam e no cinema eu também estou com alguns trabalhos. Mas, se auto produzir e fazer teatro, está muito difícil”, confessou Fernanda que recentemente esteve em cartaz com o espetáculo “Pulsões”. Para estrear a tragédia nos teatros, que não era nada comercial, como avaliou a atriz, ela precisou pensar em estratégias para garantir o sucesso da temporada. “Tivemos que fazer em um teatro pequeno porque sabíamos que não atrairia um público muito grande. Agora, estamos batalhando por patrocínio para voltar em cartaz, mas está difícil”, contou.
Apesar das dificuldades, Fernanda continua trilhando sua carreira estelar nas artes brasileiras. Em julho, a atriz começa a gravar seu próximo trabalho, um longa ainda sem nome que irá contar a história do atletismo feminino no revezamento 4×100. Mais do que uma oportunidade de trabalho, o enredo deste filme foi um presente para Fernanda de Freitas. Amante dos esportes, a atriz comemorou conseguir unir suas duas paixões em um mesmo projeto. “Eu sou fissurada em esporte e sempre fui amante de todas as modalidades. Quando eu li qual seria o tema, fiquei muito feliz e, depois que conheci o roteiro, me animei ainda mais”, disse.
E essa relação de Fernanda de Freitas com o corpo e o exercício não é de hoje. Desde os oito anos, a atriz respira movimento nas aulas de balé. Inclusive, esta foi a primeira experiência profissional da carreira artística de Fernanda, como ela nos contou. “Eu comecei no balé para corrigir a postura, porque estava muito corcunda, e me apaixonei. Aos 14, com muita cara de pau, eu fui a uma escolinha infantil de dança, disse que dava aulas e fui contratada. Em um ano, eu já era professora de outras três escolas de dança e trabalhei até eu fazer 18 anos, quando eu entrei para a faculdade de Psicologia”, lembrou.
Dança, psicologia, esportes e atuação. Para Fernanda, todas essas suas experiências estão presentes em seu trabalho diário como atriz. De acordo com ela, é importante para uma carreira artística a incorporação de várias habilidades, como é em seu caso. “Eu acho que ter feito balé é um plus que eu tenho na minha carreira. Essa minha experiência me abre portas para fazer uma personagem bailarina ou até um musical, por exemplo. Fora isso, eu acho que a dança dá uma enorme consciência corporal que é muito importante”, apontou a atriz Fernanda de Freitas.
Artigos relacionados