Exclusivo! Elisa Brites fala sobre a veia artística da família, a relação com a prima Rafa e a importância da cultura: “Nos faz sair do cotidiano”


Para a atriz, o fim do Ministério da Cultura tinha sido um lamentável retrocesso: “Não podemos achar que arte e cultura se limita a TV. E os outros artistas? Bailarinos, atores de teatro, músicos, artistas plásticos, folclore, autores e aí vai… que não estão nas grandes mídias? Esses deveriam ser igualmente ou mais patrocinados dos que tem grande exposição, o que não é uma verdade”

“Acho que todo Brites é um pouco artista”, disse Elisa, em uma conversa exclusiva com o site HT. De fato: se é impossível não lembrar dela de dreads para viver Valentina em “Malhação” em 2013 e do rosto angelical que deu vida à comovente Berenice em “Além do tempo”, novela que antecedeu “Êta Mundo Bom”, também não é difícil associar o sobrenome à outra celeb tão querida quanto: a apresentadora e repórter Rafa Brites.

“Quando nos encontramos, sempre falamos um pouco do trabalho. Não tem como escapar (risos). E temos muitos artistas na família, eu tenho em ambas as partes. Mas que eu lembre rapidamente, são mais quatro – de ator a diretor, passando por bailarinos e artistas plásticos – sem contar os pequenos, que já se mostram inclinados para as artes”, contou ela, que, na infância, também já era assim.

“Sempre fui. Ser artista vai além da profissão. É algo que ecoa dentro de você, que faz você ver a vida de uma forma diferente, e no final, penso que fazemos um pouco isso. Transformamos as nossas e a vida de outros por breves momentos. Breves, mas de uma força quase inexplicável”, declarou.

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Fotos: Daniel Benassi | Beleza: Camila Coelho | Produção: Gabriel Nogueira

A romantização da profissão existe, mas Elisa passou por muitas etapas concretas até começar a, de fato, trabalhar com a arte. “Eu tinha 16 anos quando decidi levar tudo como profissão. Me mudei para o Rio de Janeiro aos 20, mas eu já estava trabalhando no Sul há algum tempo e vim, porque fui chamada para fazer a Oficina da Globo. Fiquei ainda morando entre Rio e Porto Alegre por quatro anos e resolvi mudar de vez. Não estava mais aguentando o ritmo de tantas viagens e das despesas, e estar no Rio era mais importante para a realização dos trabalhos aqui. Mas os meus trabalhos no Sul continuam. É sempre bom voltar para a terrinha e trabalhar por lá”, contou ela, que sentiu algumas dificuldades na transição para a capital carioca. “Eu era muito nova, e tive que me virar sozinha, morar em uma cidade completamente diferente, enfrentar as inúmeras dificuldades que existem na profissão, ter que viver com pouquíssimo dinheiro. Mas acho que não ter a presença da minha família foi e sempre será a maior das dificuldades. Apesar de saber que eles sempre estão comigo. Mas desde os 16 anos vivo longe deles e sei que nunca vou me dar bem com a tal da saudade”, disse.

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Fotos: Daniel Benassi | Beleza: Camila Coelho | Produção: Gabriel Nogueira

Em compensação, carinho não falta. “Adoro a troca com os fãs, tento sempre dar a maior atenção que eu posso. Eles são os principais agentes pela nossa continuidade. Fazemos grande parte do nosso trabalho para eles e recebemos muito de volta. Agradeço a cada um”, afirmou ela, que sabe: muitos dos seus admiradores vieram após “Malhação”. “A novela tem uma força impressionante. Muitos fãs daquela época continuam comigo, o que é super legal. É como ter amigos que acompanham e torcem por você durante várias fases da carreira”, explicou.

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Fotos: Daniel Benassi | Beleza: Camila Coelho | Produção: Gabriel Nogueira

E haja fase! Elisa começou a vida profissional no teatro e teve a oportunidade de fazer cinema e televisão. “Passar pelas três plataformas é um privilégio de poucos e fico feliz com isso, mas sempre procurei fazer os três, porque exigem habilidades diferentes e provocam em lugares distintos. O motivo maior, claro, é porque os três me atraem de muitas formas. O teatro com toda sua ancestralidade, sua possibilidade de descobertas, e o ‘ao vivo’, que é algo único. O palco é é um lugar muito especial. Só ele oferece ao ator o contato real com o público, a possibilidade de você se desafiar de formas extraordinárias, falar sobre assuntos escolhidos pelos atores. Mas não é nada fácil: conseguir fazer uma peça exige dinheiro, o que já faz muita gente não continuar. E digo dinheiro tanto para montar uma peça quanto para a sobrevivência de quem faz. Nosso público médio brasileiro não tem costume de ir ao teatro. Sem público, não tem teatro”, lamentou.

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Fotos: Daniel Benassi | Beleza: Camila Coelho | Produção: Gabriel Nogueira

“O cinema nos faz ter uma atenção para a pequenez e a profundeza das ações e emoções, o que é encantador, e a TV é uma deliciosa loucura! Fazer uma obra aberta é um desafio para qualquer ator. Você trabalha com uma sabedoria muito profunda do seu personagem ao ponto de tornar possível fazer ele sair do vilão para o mocinho. É quase um improviso”, analisou ela, que cursa licenciatura em teatro desde 2010. “É difícil conciliar estudo e trabalho, mas aos poucos eu chego lá! Não abro mão do meu diploma! Acho muito importante e me sinto alimentada, a academia passa ensinamentos que eu não encontraria sozinha”, declarou.

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Fotos: Daniel Benassi | Beleza: Camila Coelho | Produção: Gabriel Nogueira

Com experiência em tantos meios, é impossível não falar da recente polêmica com o Ministério da Cultura. Como artista, o que Elisa acha do atual momento político no país? “Eu tive a oportunidade de viajar pelo Brasil e apresentar em cidades que nunca viram uma peça. Apresentei para pessoas de oito,14,30,40 e 80 anos que nunca tinham ido ao teatro antes. Isso ao mesmo tempo que é lindo – por poder levar para as pessoas -, é triste, e se deve a uma construção de público feita em nosso país ,com o qual se investe o mínimo de cultura para a população. Só que a cultura faz pensar, refletir sobre o que acontece em sua volta, retornar às origens – se pensamos nas tradições populares como cavalo marinho, bumba meu boi, candomblé, entre tantas outras que o Brasil tem. Ela nos faz poder sair do cotidiano, às vezes, insuportável para ter momentos de riso e alívio. Isso também é de grande importância! Imagine sua vida sem diversão, só contas e trabalhos”, discursou.

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Fotos: Daniel Benassi | Beleza: Camila Coelho | Produção: Gabriel Nogueira

“A verdade é que hoje temos, como para muitas outras áreas, um dinheiro e privilégio para poucos. Não podemos achar que arte e cultura se limita a TV. E os outros artistas? Bailarinos, atores de teatro, músicos, artistas plásticos, folclore, autores e aí vai… que não estão nas grandes mídias? Esses deveriam ser igualmente ou mais patrocinados dos que tem grande exposição, o que não é uma verdade. Se temos uma classe que desiste de seguir em frente por conta da falta de condições de trabalho e retorno financeiro, e um povo que tem, muitas vezes, a TV como único acesso à cultura isso é no mínimo um pensamento limitado. E certamente a extinção do MinC só piora esse, já lamentável cenário. E quanto a nossa política atual, me assusta, muito! Mas torço por uma força pública, que, para mim, até então, estava escondida, para não passarmos por um desastroso retrocesso”, afirmou.

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Fotos: Daniel Benassi | Beleza: Camila Coelho | Produção: Gabriel Nogueira

Depois de um papel forte como Berenice ela quer ir além. A história da novela de Elizabeth Jhin “foi uma grande surpresa”, já que Elisa havia feito o teste e, quando a trama começou, achou que havia ficado de fora. “Depois de um mês de novela no ar eu sou chamada! Foi um dos maiores presentes que ganhei. A oportunidade de trabalhar com aquela equipe tão especial foi extraordinária. E poder fazer um papel de uma mulher, não de uma menina, para mim foi realmente muito bom. Acho que a novela fez tanto sucesso porque, além da equipe ser de primeira, ela falava sobre amor. Amor em várias de suas formas, amigos, irmãos, familiares, casal, de pessoas que não são boas ou más, são pessoas: capazes de odiar, mas principalmente, capazes de amar. Acho que levamos um pouco de amor para a casa das pessoas que estavam cansadas só das brutalidades da vida”, analisou ela, que quer continuar levando emoção adiante. “Atualmente estou atuando e produzindo em uma peça de teatro, mas não posso adiantar muito, só que estou de fato bem animada para a estreia”, declarou. Nós também.

Agradecimentos:
Kult Kolector
Iódice