Em uma noite de segunda-feira, Diogo Nogueira está no Lapa 40º, reduto tradicional da boemia e do samba cariocas, para lançar seu quarto disco de estúdio,“Porta-Voz da Alegria”. Ali, ele atende a imprensa e se prepara para um pocket show para convidados, no qual apresenta algumas das composições de seu novo lançamento, que já está nas lojas e até nas rádios com o single “Tenta a sorte”. O clima não poderia ser mais perfeito: entre mesas de sinuca e com uma banda no palco, um dos maiores nomes do samba contemporâneo está pronto para embarcar em mais uma etapa de sua trajetória, que não tem sido nada devagar nos últimos tempos.
Como HT contou aqui, o sambista, agora, dá vez à verve de ator no espetáculo musical “Sambra”, que tem feito sucesso pelo Brasil inteiro e, provavelmente, receberá novas temporadas no Rio e em São Paulo. Paralelamente, ele toca o projeto Bossa Negra, no qual sobe ao palco com Hamilton de Holanda em mais uma daquelas ótimas parcerias que permeiam a música popular brasileira, homenageando Vinicius de Moraes e Baden Powell.
Pode até não parecer, mas a carreira meteórica de Diogo Nogueira tem apenas oito anos. Claro que isso é um fato que só se soma às suas conquistas, uma vez que nesse meio tempo o cantor já tem no currículo um Grammy Latino de “Melhor Álbum de Samba”, três discos de inéditas elogiados pela crítica e aclamados pelo público, além de turnês lotadas pelo Brasil e pelo exterior. Agora, o filho do mestre João Nogueira mostra toda a sua maturidade artística em “Porta-Voz da Alegria” e revela uma verdade irrefutável: Diogo nasceu para o samba.
Dirigido por Bruno Cardoso (Sorriso Maroto) e Leandro Oliveira (mais conhecido como o Lelê), o lançamento traz composições de um time poderoso, onde se destacam Jorge Vercillo (“Grão de Areia”), o novato Leandro Fab (que assina “A Doida”, de Seu Jorge); Xande de Pilares, em “O amor tem seu lugar”; e a parceria entre Arlindo Cruz e Rogê, que resultou na ótima “Musas”, uma ode à alma feminina que, além de romântica, ainda traz versos significativos como “tem que respeitar mulher/ e valorizar mulher/ saber amar mulher”, além de referências a clássicos como “Maria Rita”, “Modinha de Gabriela” e “Ai que saudades da Amélia”.
Entre gravações inéditas – que somam 11 das 17 faixas, incluindo o pot-pourri – e novas versões de hinos do samba, Diogo mostra, mesmo que timidamente, seu lado compositor em duas faixas, provando novamente sua maturidade artística. Abaixo, você confere um bate-papo com o cantor, que dentre muitas perguntas comenta como é necessário existir um ‘porta-voz da alegria’ nos dias de hoje. Vem com a gente:
HT: Como tem sido esse período à frente do “Sambra”?
DN: Está sendo maravilhoso! Eu interpreto bastante, tem muito texto, o elenco é craque, os atores e atrizes são fantásticos e o Gustavo Gasparini [diretor] tem me ajudado bastante.
HT: Como concilia a agenda entre o “Sambra”, Bossa Negra e agora o novo disco?
DN: Eu ensaio para o teatro cerca de oito a dez horas por dia, só tenho folga no domingo. Mas são coisas bem diferentes entre si, tentamos separar as datas da melhor maneira possível. Até o final desse mês, eu ainda fico em cartaz com o “Sambra”, depois vou para a Europa, em julho,fazer shows em 10 países e volto para divulgar o disco novo.
HT: O “Porta-voz da alegria” mistura bastante novos talentos com alguns nomes já consagrados no samba. Como foi o processo de escolher o repertório do disco?
DN: O Bruno Cardoso e o Lelê me ajudaram muito. Nós fizemos vários encontros e fomos selecionando as músicas por blocos: romântico, conceitual, MPB… Montamos esse esqueleto do disco e depois limpamos, deixando oque dialogava melhor. Daí ficaram nomes como Pretinho da Serra, Jorge Vercillo, Sombrinha…
HT: Como é lançar um disco chamado “Porta-voz da Alegria” nos dias de hoje?
DN: O objetivo desde o início foi fazer um disco alto astral, com mensagens positivas. E eu sinto que com o resultado final nós conseguimos chegar a esse ponto. O mundo está passando por um momento muito louco e tanto o samba quanto a música, em geral, transmitem uma positividade grande.
HT: Na sua carreira, você já atingiu um patamar que transcende o status de ‘filho do João Nogueira’ e é reconhecido pelo próprio trabalho. Essas comparações antigamente costumavam o preocupar de alguma forma?
DN: Eu já lido bem com isso, é algo que sempre vai existir. Ele para sempre será meu pai, meu orgulho, e eu tenho o maior prazer do mundo de ser comparado a ele.
HT: Já dá para ter alguma música preferida do disco?
DN: Eu gosto bastante de “Musas”, “Clareou”, “Grão de Areia”… Acho que todas (risos).
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