“Eu tenho céu e inferno dentro de mim e não quero ser santo”, desabafa Ary Fontoura


No ar em Orgulho e Paixão, o ator falou sobre o sucesso de seu personagem e ainda soltou o verbo sobre o sistema político brasileiro

Ary Fontoura é uma das maiores lendas do elenco de atores da Rede Globo. Mesmo tendo 52 anos de casa, ele não quer saber de aposentadoria. Atualmente, está no ar em seu 50º trabalho na emissora, Orgulho e Paixão, e mesmo com um currículo invejável de atuação, não é daquele tipo de pessoa saudosista que vive de passado. No auge de seus 85 anos, o ator prefere encarar a realidade do dia a dia, mesmo que os acontecimentos não se desenrolem como gostaria. Eu tenho céu e inferno dentro de mim, não pense que só tenho boas qualidades. Tenho a noção perfeita de quando estou sendo mau ou bom. No entanto, sempre converso comigo mesmo e busco refletir sobre os meus atos para corrigí-los. Não quero ser santo e se tiver um céu espero nem ir, porque não deve ser animado. Infelizmente, o meu lado ruim aparece, às vezes, porque não tenho sangue de barata. Reajo de forma ruim à indiferença dos governos, diante das injustiças, fico revoltado com o que está acontecendo no meu país e não aprecio o tipo de política que se faz aqui. Sei quem me representa e, infelizmente, tem muita gente que não me representará jamais no poder, porque tratei de excluí-las totalmente a partir do momento que foram excludentes com as pessoas. Podem olhar a cópia do meu imposto de renda, porque não tem nada demais, tudo que está ali ganhei trabalhando”, criticou, em entrevista exclusiva para o site HT.

Ary Fontoura está no ar em seu 50º trabalho na TV Globo, Orgulho e Paixão (Foto: Divulgação)

Em seu 50º programa na TV Globo, ele interpreta o Barão de Ouro Verde, um senhor de 90 anos que está à beira da morte. É uma figura rude, prepotente e tradicionalista que tinha os seus dias contados na trama das 6h. Inicialmente, a ideia era que o Barão morresse no capítulo 40 para que a sua neta, vivida por Agatha Moreira, pudesse conhecer a dura realidade. No entanto, este caráter carrancudo e mal humorado deram um tom diferenciado para o papel que acabou caindo no gosto do público. Fico muito feliz de ver esta resposta positiva, afinal, quem manda na nossa profissão é o público. Se o telespectador desliga a televisão, eu desapareço. Se o espectador não vai ao cinema me ver, eu também já não estou funcionando. Se não vai ao teatro, mais ainda. Por isso é necessário estar sempre se renovando para que continuem gostando da gente”, comemorou. No entanto, de acordo com ele, este mérito é também do autor Marcos Bernstein da trama que soube aprimorar e construir junto esta figura emblemática.

A verdade é que quem olha para Ary nunca diria que ele já tem 85 anos. O ator é uma pessoa muito ativa e saudável, está sempre disposto a conversas e contar a sua trajetória de vida. A partir disso, esbarra com uma grande dificuldade vivendo o Barão Afrânio. Na trama, o personagem é um deficiente físico e precisa andar em uma cadeira de rodas para se locomover.Este é um componente muito sério dentro do trabalho desde a primeira aparição dele quando descobre que iria durar até seis meses. A cadeira de rodas é realmente um artifício que me faz sentir a mesma vibração do personagem devida a esta impossibilidade de levantar. Ainda não me adaptei muito bem já que os movimentos são muito limitados, por ser um objeto mais antigo. Tento sempre pedir para a produção achar uma melhor, mas parece que foi a única que encontraram”, lamentou.

Mas Ary terá que aguentar este objeto por mais algum tempo, afinal, o seu personagem caiu no gosto do público. Nas redes sociais, por exemplo, o ator possui um perfil próprio no qual consegue ver de perto o que a galera vem achando de sua atuação. O carinho também aparece em lugares públicos como em aeroportos. “As pessoas manifestam muito o quanto gostam do meu trabalho. Acho que exatamente por isso acabei ficando, porque ele é útil na trama e tem um humor devido ao seu lado mais rabugento”, afirmou.

O Barão de Ary Fontoura é apenas uma peça de um grande quebra-cabeça que está dando certo. Orgulho e Paixão ganhou uma grande notoriedade nas telinhas e é líder de audiência. “Acredito que o sucesso depende de muitos componentes. Temos vários profissionais que discutem as cenas e trabalham no que gostam, o que faz toda a diferença. A partir disso, sempre tem alguma crítica construtiva”, comentou. O ator confessou que já conhecia a obra de Jane Austen antes de ser convidado parar participar da novela, seja pelos livros da autora ou por séries da BBC. No entanto, ele gostou muito do olhar abrasileirado sobre esta literatura inglesa. “Achei interessante quando vi que seria adaptada dessa forma e, sobretudo, que iria mostrar posicionamento da mulher na sociedade brasileira. Acreditei no sucesso deste trabalho e acabei acertando. A trama é muito bem cuidada, tem uma cenografia excelente, foi muito bem pesquisada e conta com um figurino lindo”, garantiu.