“Eu luto para que as pessoas repeitem as diferenças”, enfatiza Cris Vianna em live do coletivo Resenha das Pretas


A atriz vive Dagmar dos Anjos na reprise de ‘Fina Estampa’ e conversou com a produtora cultural Clarisse Miranda, integrante do coletivo. As deusas de ébano falaram sobre representatividade, black money, racismo, preconceito e atuação. Vem saber!

Cris Vianna foi a convidada do coletivo Resenha das Pretas com o tema ‘Mulher Preta encena’ (Foto: reprodução)

*Por Rafael Moura

“É o poder/ aceita porque dói menos
De longe falam alto/ mas de perto tão pequenos
Se afogam no próprio veneno, tão ingênuos”. O trecho da música ‘É o poder’, de Karol Conka, traduz muito bem a energia e a vida da atriz Cris Vianna convidada do coletivo Resenha das Pretas em uma live no Instagram. Com o tema ‘Mulher preta encena’, a deusa de Ébano conversou com a produtora cultural e resenheira Clarisse Miranda e abordaram temas como: representatividade, black money, racismo, preconceito e atuação.

Cris Vianna está no ar vivendo Dagmar dos Anjos na reprise da novela ‘Fina Estampa’, 2011, de Aguinaldo Silva. Quem vê essa musa brilhando pelo Brasil e no mundo não imagina que sua infância foi bem complicada. Aos 13 anos, depois de perder o pai, começou a cuidar das crianças da vizinha e foi tentar a carreira de modelo, batendo nas portas das agências até conseguir desfilar. Sua vida nas passarelas durou dez anos passando por Itália, Canadá, Austrália e Alemanha.

Por três anos integrou o grupo vocal, Black Voices para pagar cursos de teatro e fez sua estreia nas telinhas em ‘América’, de Gloria Perez, como a dançarina Drica. Em ‘Sinhá Moça’, 2006, viveu a escrava Maria das Dores. Ainda no mesmo ano deu vida a professora Gilda, em ‘O Profeta’. Em 2007, o diretor Wolf Maya a convidou para interpretar Sabrina em ‘Duas Caras’. Quando iniciou as gravações da novela, Cris estava finalizando sua participação em Última Parada 174, filme de 2008 de Bruno Barreto baseado no sequestro do ônibus 174, no Rio. Nesse filme, ela interpreta Marisa, uma ex-dependente química que larga o vício e se converte ao evangelho.

A atriz cruzou a Sapucaí à frente da bateria da escola de samba Grande Rio, em 2011, uma experiência importante para viver Juju Popular, na novela Império. O papel casou tão bem a artista, que foi convidada em 2017 para capitanear a ‘Swing da Leopoldina, a bateria da Imperatriz Leopoldinense, com o enredo de Cahê Rodrigues, ‘Xingu, O Clamor Que Vem da Floresta’.

A produtora cultural Clarisse Miranda, do coletivo Resenha das Pretas, conversou com a atriz Cris Vianna

“De alguma forma viver todas essas personagens me remeteram de alguma forma às minhas emoções, de maneira mais gostosa ou intensa. Eu fiz muitas mulheres reais – mães da periferia, escrava, rainha de bateria, delegada (confesso que fui horrorosa), o que torna mais fácil humanizá-las. É muito importante entender quem você é para se emprestar a sua essência e poder se distanciar do roteiro. Além do tempo de entendimento e pesquisa, o que é muito difícil nas novelas, que é uma obra aberta e com um ritmo de gravação muito acelerado”, explica.

Cris confessa que é apaixonada pelo teatro, seja como espectadora ou ‘subindo ao palco’, porque o tempo de criação e entendimento é maior por conta dos ensaios. Já no cinema, ela frisa que é um processo de imersão: “Você fica interagindo durante semanas, meses com aquela equipe se deliciando. E por ser uma obra fechada, tudo é mais definido”, conta, acrescentando: “Nesses 16 anos de carreira, eu ainda não vivi a personagem da minha vida, mas espero encontrar em breve, porque ainda vou trabalhar por muitos anos. Quero conquistar narrativas muito maiores em que eu possa orgulhar e agradecer”.

Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é um país no qual 56,10% das pessoas se declaram negras, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2019. “Somos mais de 55% da população. Se a gente se seguir e se apoiar não vai ter para ninguém. Pedimos tanto para os nossos estarem lá, mas precisamos cuidar também e dar mais visibilidade para que os nosso irmãos consigam se manter no topo. Pretos e pretas no topo é poder se ver, ter representatividade, reconhecimento”, enfatiza.

“Nós, atrizes, mulheres negras, não nos encaixamos em único papel específico, somos muitas, múltiplos pensamentos, origens e possibilidades, por isso os autores precisam ampliar as nossas possibilidades de atuação”, frisa. Clarisse manda um recado ‘dever de casa’ para a audiência da live. “É importante saber onde os nossos irmãos estão e apoiar esses artistas, seja nas novelas, teatro, cinema, nos shows, livros. Precisamos dar as mãos de verdade, só assim poderemos lutar pela igualdade de direitos”. E Cris completa: “Eu sou a única preta do meu prédio. Eu acho engraçado quando as pessoas dizem: somos todos iguais, mas eu luto é para as pessoas repeitarem as diferenças. Eu não compro e nem nunca comprei esse texto. É uma grande ilusão isso”. No dia 1º de dezembro de 2015, a atriz foi vítima de racismo na internet, junto à jornalista Maria Júlia Coutinho e Taís Araújo.

Cris se acha uma mulher zero tranquila. “Meus amigos dizem que eu sou tranquila igual a furação”, ri. Sou uma boa ariana, um signo que traz muita energia, coragem, espontaneidade e intuição, afinal o primeiro signo do zodíaco traz o fogo como elemento. “Eu acho que sou comedida, não tranquila. Já apanhei muito nessa vida. Aquela de ‘um tapinha não dói’, dói sim. Devido às experiências da minha vida, eu procuro sempre me acalmar”, conta. E completa. “Como o outro nos enxerga é uma consequência. Quem está pagando as minhas contas sou eu. Está se incomodando com a minha vida, espera aí que vou mandar minha fatura do cartão de crédito”, brinca. Cris revela estar solteira nessa quarentena. “Eu estou solteira, mas sem sofrência. Eu, antes da quarentena, não me jogava muito nas relações. Agora vou me permitir uma jogadinha”.

A resenheira Clarisse Miranda bateu um papo, em live no Instagram, com a Deusa de Ébano Cris Vianna

O coletivo sócio-cultural Resenha das Pretas é uma grupo carioca que atua como um amplificador, dando ênfase à beleza ancestral e o feminino negro por meio das tradições de matrizes africanas. E, neste momento de quarentena, está em contato com nosso público por meio lives em nosso Instagram.
Diariamente, leva conteúdo de qualidade para entretenimento, auto-cuidado e acesso ao conhecimento de mulheres (em sua maioria negras). Às quartas, abrimos para convidados masculinos, pois há muitos querendo estar junto e já contou com parceiros como: ator Thiago Thomé, o ator e comediante Yuri Marçal, o adv. Joel Luís Costa… “A resenha é aberta a ‘todes’, e é disponibilizado um dia aos parceiros LGBTQIA+ também. O foco é a mulher preta periférica e, nesse período de quarentena, já estiveram nas lives a filósofa Helena Theodoro, a atriz Polly Marinho, a diretora do Instituto Avon Mafoane Odara, a expert em RH Patrícia Santos, a atriz Dandara Mariana, a atriz e poetiza Veronica Bonfim, a porta-bandeira Lucinha Nobre, a digital influencer Xan Ravelli, a empresária e expert em negócios e mídias digitais Egnalda Côrtes, Mãe Márcia Marçal de Obaluayê, a atriz Ana Flávia Cavalcanti, a professora Adriana Vasconcelos, a atriz Roberta Rodrigues, a atriz Dandara Mariana, entre muitas…