O mundo da moda é tradicionalmente conhecido por criar e reforçar os padrões e estereótipos do que é belo. Com toda a sua elegância e beleza singular, Valentina Sampaio quebra esse estereótipo quando se torna a primeira modelo transgênero a ser capa da Vogue Paris – um dos postos almejados pelas maiores topmodels internacionais. Na SPFWn43, que rola até a próxima sexta-feira, 17, a top também é um dos rostos mais disputados nos castings. Entre um desfile e outro, Valentina Sampaio é uma das estrelas das grifes e causa disputa nos bastidores da maior semana de moda da América Latina. Ao HT, a top falou um pouco sobre ter alcançado esse momento da sua carreira e que espera de verdade que isso traga algumas mudanças para a comunidade LGBT.
“Sou orgulhosa e honrada por tudo o que tem acontecido, e espero sempre o melhor. Quero que as conquistas não sejam apenas minhas, mas que de alguma forma possibilitem melhorias para todos” falou a modelo. A triste realidade é que nem tendo um nome reconhecido internacionalmente é possível se salvar do ódio irracional das pessoas: “É claro que o preconceito existe. Eu já fui alvo sim. Seria muita ingenuidade imaginar que não existe preconceito. É lamentável. Ainda há muito para progredirmos.”
Inspirada por ícones da moda como Grace Jones, David Bowie, Gisele, Milla Jovovich, Madonna e Jean Paul Gaultier, Valentina não se denomina um ícone da causa LGBT. A causa está intrínseca a sua vida: “Eu não me considero um ícone. Seria muito pretensioso. É tudo muito novo para mim. Esta causa sempre vai estar comigo, porque eu sou parte dessa bandeira. A minha luta é a luta de muitos. O tempo é o senhor de tudo. Com o tempo, só tenho a aprender, e dele preciso para assimilar o significado de tudo que tem me acontecido.”
O Brasil é um dos países que mais mata travestis e transexuais ao redor de todo o mundo. Em 2015, 42% das mortes de pessoas trans no mundo inteiro aconteceram em nosso país. Essas notícias são um pouco do motor que dão força para a modelo continuar buscando o seu sonho com garra e coragem: “Minha trajetória é de força e perseverança. Encaro as dificuldades como impulsos que me levam a algum lugar melhor. O Brasil é um pais violento e não é apenas com a população trans. As taxas de violência são realmente altíssimas. Levantar esta questão e este debate é a forma que encontrei para colaborar com a reflexão, fazendo com que o futuro talvez seja melhor.”
É sem medo, ocupando seu lugar na sociedade, sendo feliz e tendo sucesso que a população LGBT e todas as outras minorias se vingam dos seus agressores e opressores. Por isso, a modelo Valentina Sampaio é um exemplo de que – mesmo contra todas as probabilidades que a sociedade te imponha – existe a possibilidade de realizar os seus sonhos e trilhar um caminho. A capa da Vogue Paris é apenas a ponta do iceberg para essa jovem de 22 anos, nascida em Fortaleza.
“Foi uma experiência incrível e estou muito feliz e orgulhosa por esta conquista. Espero que este debate seja construtivo e colabore com a quebra de barreiras e preconceitos. Espero contribuir de alguma forma para que o futuro seja melhor” concluiu a modelo que continua em crescente ascendência e que tem tudo para contribuir em uma causa de pessoas que merecem – e devem – ser ouvidas. Valentina Sampaio é parte importante da luta LGBT – infelizmente ainda necessária em 2017 – que começa com ações, discussões e reflexões no cotidiano.
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