Sabe aquele tipo de pessoa que, literalmente, não veio a esse mundo a passeio? Pois bem, Pabllo Vittar é um exemplo. Autêntica, única, e cheia de personalidade, talento e projetos – sim, no feminino –, a drag queen é a cantora que você mais respeita no momento. Além de estrelar a banda do “Amor & Sexo”, às quintas-feiras na Globo, ela acaba de lançar seu primeiro e badalado disco. Batizada de “Vai Passar Mal”, a obra segue as características mais fiéis de Pabllo Vittar. Se enquanto a artista é poderosa e nada tradicional, seu álbum é ainda mais icônico.
Caso ainda não conheça essa figura, o HT apresenta a cantora que é bafônica desde o nome artístico. “Eu fui batizada como Phabullo Rodrigues da Silva, só que nunca acertavam meu nome. Desde criança, sempre me chamavam de tudo, menos de Pablo. Meu nome é Pablo mesmo, só que com muitas letras a mais. Então, como artista, eu resolvi manter e apenas dei uma enxugada e uma facilitada para quem fosse ler. Já o Vittar, é em homenagem a uma drag que eu sempre admirei e quis seguir a estética. Para completar, usei a numerologia para colocar os dois L e T. E Pabllo Vittar é como eu me reconheço no mundo”, explicou a cantora que, antes de adotar seu novo nome, usava Knowles, sobrenome da diva Beyoncé. “Quem nunca copiou um Knowles ou Spears na época de Orkut”, questionou aos risos.
Quando o assunto é o primeiro disco, as explicações, comentários e histórias também são únicas. Produzido pela dupla Brabo, formada por Rodrigo Gorky e Maffalda, o disco apresenta um pop genuinamente brasileiro. Para isso, Pabllo trouxe suas referências musicais do Nordeste, onde nasceu, como axé, brega, forró e arrocha, e combinou com a batida pop. O resultado? Um som único, a la Pabllo Vittar. “Eu já queria fazer esse tipo de sonoridade há muito tempo. Desde quando eu comecei a fazer versões, eu imaginava misturar os ritmos. Porque assim, eu sou do Nordeste e cresci ouvindo muito forró e axé. Mas hoje em dia, eu amo pop. Então, essa mistura é a minha cara. Só que eu não imaginava como iria ficar”, contou Pabllo que se declarou viciada em seu primeiro disco.
Para potencializar o resultado de “Vai Passar Mal”, a cantora ainda trouxe convidados hiper especiais. No repertório, Pabllo divide os microfones com artistas como Rico Dalasam, Lia Clark e Matheus Carrilho. Sobre as escolhas, a cantora contou que, além do talento musical, os companheiros também são amigos fora dos palcos. “São pessoas muito queridas que eu já acompanhava e admirava. Cada um em seu segmento, todos eles já tinham contribuído muito para a música plural também. Então, com essa proposta da mistura e da diversidade, eu não poderia ter pensado em outras pessoas. Fora que o resultado de cada música ficou lindo. As vozes combinaram e a batida surgiu de forma espontânea. Aliá, foi tudo muito fluido e genuíno”, explicou.
No entanto, Pabllo Vittar foi além das fronteiras nacionais em seu disco “Vai Passar Mal”. A obra, que foi mixada e masterizada no The Castle Studios, em Los Angeles, também contou com participação do norte-americano Diplo. Considerado um dos principais e mais influentes DJs do atual cenário do pop internacional, Diplo, que também é produtor musical, foi responsável por assinar a composição e o arranjo de “Então Vai”. Em relação à parceria, Pabllo Vittar, honradíssima, confessou que o resultado é um dos que mais gostou no novo álbum. “Depois que fizemos ‘Open Bar’ (música lançada em 2015), o Diplo gostou da sonoridade e da minha proposta e quis dar continuidade a essa parceria. Então, ele veio de bom grado e coração e contribuiu para o meu disco de uma forma incrível. Isso foi ainda mais especial porque, querendo ou não, ele também faz o rolê das misturas de som no trabalho dele”, disse Pabllo que definiu a experiência ao lado do norte-americano como um sonho realizado. “Eu ainda fico meio chocada em ver que eu tenho uma música com ele. Eu sempre o via de uma forma muito distante e nada provável a minha realidade. Por isso que hoje eu me sinto tão realizada”, completou.
Além das músicas, “Vai Passar Mal” também se destaca pela capa nada convencional. Com a mesma proposta de traduzir suas características mais únicas no primeiro álbum, Pabllo Vittar apostou em uma foto artística na qual aparece entre manequins de loja. Fotografada por Marlon Brambilla, a imagem busca mostrar que o corpo também é palco para expressões artísticas e que cada um pode se destacar no mundo sendo exatamente quem é. “Eu sempre gostei muito de foto e moda e, por isso, queria trazer essa ideia de alguma forma. Então, eu e Marlon pensamos em uma maneira na qual eu pudesse me destacar entre vários manequins. E foi isso o que fizemos. A capa mostra exatamente como sou eu na vida: respeitando o meu jeito e a minha forma de me expressar, eu me destaco no mundo e não tenho medo de ser do jeito que eu quero ser”, explicou.
E esse jeito “Pabllo Vittar de ser” também se faz presente nas letras das músicas de “Vai Passar Mal”. Embaladas por histórias de amor e superação, as composições têm a proposta de levar alegria a quem escuta. “Eu já enfrentei muitas situações boas e ruins na minha vida. Então, o que eu quero levar para quem gosta do meu trabalho é uma mensagem de otimismo, alegria e superação. Hoje em dia, a vida humana não está valendo muito. As pessoas estão se alfinetando por nada. Por isso que meu álbum tem essa energia boa para que cada um se sinta livre para ser quem quiser, para sonhar e acreditar que tudo pode se realizar”, contou.
Embora este tenha sido o primeiro disco de Pabllo Vittar, engana-se quem pensa que a cantora não tem experiência quando o assunto é música boa. Antes de “Vai Passar Mal”, a artista já havia lançado um EP de estreia que foi sucesso na internet. Segundo ela, a ideia de seu primeiro disco surgiu ainda no estúdio enquanto gravava o trabalho anterior. Porém, para “Vai Passar Mal”, a dedicação precisou ser ainda maior. “Olha, fazer um álbum é como parir um filho. Eu já tinha ouvido essa comparação de outros cantores, mas não imaginava a trabalheira que era. Realmente, precisa de um empenho muito grande. Porém, agora, depois de pronto, a felicidade é recompensadora. Ainda mais quando o artista se preocupa em levar um som que a galera se identifica e isso acontece, como foi no meu caso”, disse Pabllo que revelou já estar pré-selecionando o repertório de seu segundo álbum, com data prevista para 2018. “Estou em ritmo frenético, meu amor. Depois que eu comecei, não quero parar nunca mais. A minha missão é continuar fazendo muitas músicas para balançar a bunda na balada. Afinal, isso é o que um artista mais tem vontade de fazer, ainda mais sendo drag”, brincou.
E ela não para mesmo. Além dos trabalhos com o novo disco, Pabllo Vittar também é a cantora da banda do “Amor & Sexo”. Chiquérrima, né? No programa comandado por Fernanda Lima, Pabllo tem a oportunidade de mostrar sua voz e talento e ainda opinar e participar de assuntos que fazem parte de sua realidade. Na atração da Globo, questões como preconceitos, machismo, universo LGBT e militância fazem parte das pautas do “Amor & Sexo”. “É uma experiência maravilhosa e a cada programa eu aprendo mais ainda sobre diferentes assuntos. E esses temas que a Fernanda traz são fundamentais de serem discutidos, debatidos e comentados, ainda mais em um programa de televisão que é transmitido para milhões de pessoas. Lá, nós ainda temos a questão do horário, que nos dá ainda mais liberdade para falar de tudo sem tabu”, analisou Pabllo Vittar que queria mais “Amor & Sexo”. “É um programa fundamental para a construção e melhora da nova sociedade. Eu acho que tinha que passar toda semana durante o ano inteiro. Ter apenas dez episódios por temporada é muito pouco para uma atração que aborda assuntos que precisam ser falados. Hoje em dia, as pessoas ainda têm as cabeças muito fechadas às novas ideias. Por isso que o ‘Amor & Sexo’ é tão importante”, acrescentou.
No entanto, apesar de assuntos como machismo, LGBTfobia, gêneros, sexualidade e preconceitos de modo geral já estarem fazendo parte da programação da televisão nacional, Pabllo Vittar destacou que a situação ainda é muito complicada no Brasil. Segundo ela, os temas passaram a ser tratados com mais naturalidade, mas nada da forma que a cantora tem como ideal. “Embora ainda não esteja bom, eu já estou muito feliz pelo lugar que chegamos. Eu recebo muitas mensagens de fãs que contam que os pais são apaixonados por mim e pelo meu trabalho. Agora, me diz quando um pai de família iria se permitir curtir o trabalho de uma drag queen na televisão? Essa era uma situação impensável há alguns anos”, contou orgulhosa Pabllo Vittar que se sente honrada de fazer parte do elenco de “Amor & Sexo”.
Maravilhosa e deslumbrante nos palcos da vida, Pabllo Vittar nem sempre assumiu a personalidade montada de drag queen. Segundo ela, a identificação com as maquiagens, brilhos, saltos e perucas surgiu depois que conheceu o reality show norte-americano “RuPaul’s Drag Race”. “Eu já conhecia o universo das drags, mas não me identificava com todas aquelas plumas e bate-cabelo. Não é uma estética que faz o meu tipo. Mas, no dia que eu assisti o reality, eu vi uma drag que parecia uma menininha. Foi então que eu comecei a me apaixonar e pesquisar sobre maquiagens, perucas e todo esse universo”, relembrou Pabllo que contou como foi a primeira vez que se montou. “Quando eu completei 18 anos, eu fui comemorar em uma boate e sai toda enfaixada, parecendo uma múmia. Hoje, eu vejo o quanto eu já cresci nessa arte. Eu sou completamente apaixonada por essa forma de se expressar e não me imagino mais se não for montada”, disse Pabllo Vittar que geralmente demora entre 40 minutos e 1h30 para se arrumar.
Vitoriosa e referência de força e motivação entre as novas e antigas drag queens, Pabllo Vittar definiu a experiência como incrível e empoderadora. Honrada de ser um exemplo para as novas gerações, a cantora contou que se emociona ao ver as futuras drags lhe procurando. “Quando eu comecei, eu também tinha minhas referências, mas elas não interagiam comigo. Hoje, com a internet, eu faço questão de responder a todas as perguntas que eu recebo e dar muita atenção e carinho para as pessoas que me seguem. Eu acho que isso é uma militância que precisa fazer cada vez mais parte da nossa realidade. Expressar da maneira que a gente quer é uma necessidade e um direito de todos nós, não podemos julgar os outros e nem ninguém. Ninguém tem o direito de reprimir as vontades do outro. Eu nasci assim, não foi uma escolha minha”, defendeu.
Para seguir com suas ideias e propostas, mesmo atravessando um panorama de crises e preconceitos pelo qual passamos, Pabllo Vittar ressalta a ideia de união e respeito. Como destacou, os olhares estranhos ocorrem quando o diferente chega, não importando qual seja a “estranheza”. “Através da arte, nós temos e vamos mostrar como somos por dentro e expressar tudo isso pela forma que escolhermos. Cada um tem o direito de falar o que quiser sem que uma sociedade queira calar nossos gritos. Nós e todas as outras minorias já ficamos muito tempo sem conseguir por para fora tudo o que acreditamos. Mas agora chega. Já estamos em 2017, meu amor. Não tem mais por que e nem tempo para nos esconder atrás de padrões e rótulos”, argumentou Pablo Vittar que emendou: “Meu sonho é só que haja um mundo de respeito. Se cada um entender e respeitar as escolhas do próximo, tudo vai ser muito mais prazeroso. O segredo para essa sociedade maluca que vivemos é se colocar no outro e aceitar as diferentes formas de viver. Não precisa concordar e fazer igual, mas deixa cada um ser quem quiser ser”. Falou e disse, Pabllo. Estamos com você!
Artigos relacionados