Estrela da Disney, Gabriella Di Grecco diz: “Não me sinto confortável em seguir modelo para ser a garota ideal”


A atriz, cantora e apresentadora fala do caminho que construiu até a série ‘Bia’, sucesso do canal e a aventura de ser apresentadora do Disney Planet News, que estreou neste fim de ano. E desconstrói qualquer imagem de ‘princesa’ em que possam tentar colocá-la: “Nunca me senti confortável na ideia de ter que seguir um modelo. Lembro que quando era criança até curtia outros filmes da Disney, mas ao contrário das minhas amigas, eu não sentia tanta identificação com nenhuma das ‘princesas’ e não sabia o porquê. Até ver a primeira cena da Mulan anotando tudo o que podia para se encaixar na sociedade. Isso mexeu muito comigo. Eu tinha só 9 anos e vi na tela uma personagem que passava pela mesma situação que eu: não entendia nada do mundo, mas estava ali, dando o seu melhor”

Gabriela di Grecco

*Por Brunna Condini

Embora ela seja considerada hoje uma estrela da Disney, co-protagonizando a série ‘Bia’, sucesso em mais de 40 países pela América Latina e Europa, a história de Gabriella Di Grecco com a escolha da carreira não foi como em um conto de fadas, no qual a mocinha espera realizar um sonho de infância. Até porque a ‘mocinha’, aqui em questão, não espera nada. É potente e costuma buscar seu lugar no mundo. Gabriela afirma que o encontro com o ofício de atriz se deu porque ela precisava entender seu propósito na vida. “Minha história com atuação tem muito a ver com a curiosidade que eu tenho sobre o mundo. Sempre me questionei muito. Queria descobrir quem eu era, o que estou fazendo aqui. E em um momento bastante difícil da minha vida, aos 21 anos, essas questões foram colocadas em xeque”, recorda.

“Questionei muito para onde estava levando a minha vida. E vi que estava indo de acordo com metas que a sociedade impõe e não com o meu coração” (Foto: Marcos Maia)

“Questionei muito para onde estava levando a minha vida. E vi que estava indo de acordo com metas que a sociedade impõe e não com o meu coração. Essa situação me fez entender que não tem sentido tentar jogar o jogo do mundo. As coisas vão acontecer do jeito delas, e se você está conectado com o seu propósito, é bem mais fácil se reerguer diante de situações adversas. No meu caso, foi, e continua sendo, a arte. Ela é o caminho que encontrei para me conectar com a minha essência naquele momento. Desde então, sigo servindo à arte. E, sinceramente, fazer o exercício de abrir mão de si mesmo, das suas convicções e crenças para vestir a pele de outra pessoa, tem me dado muitas respostas para aquelas perguntas existenciais”, acrescenta ela, que chegou a se forma em Propaganda e Marketing.

De Cuiabá, no Mato Grosso, para o mundo. Com direito a passagem pela Broadway, onde estudou na escola mais tradicional de atuação dos Estados Unidos, a American Academy of Dramatic Arts, que a levou direto para o palco de musicais como ‘Cinderella’ e ‘Vamp, o Musical’’. E também para passagens em novelas da Globo e do SBT. Mas foi em ‘Bia’, da Disney Channel, que Gabriella se projetou e foi convidada para ser apresentadora do Disney Planet News, que estreou neste final de ano. “Estou amando esse desafio de apresentar um programa em dois idiomas (português e espanhol). Já tinha muita vontade de fazer isso na TV. O ‘Tamo Junto’ – canal que ela criou no YouTube, para ser uma espaço de trocas e entrevistas – me deu uma experiência que ajuda muito nas gravações. Conduzir um programa pede um tipo de energia diferente da atuação e eu estou adorando poder trabalhar isso. Eu já acompanhava a atração e o trabalho do Bruno Heder há tempos, e é incrível poder apresentar com ele. E também fico sabendo das novidades deste universo antes de todo mundo e adoro”.

“Estou amando esse desafio de apresentar um programa em dois idiomas (português e espanhol). Já tinha muita vontade de fazer isso na TV ” (Foto: Marcos Maia)

De volta para o aconchego

O bom filho à casa torna. Essa foi a máxima da pandemia para muitas famílias, que decidiram se reunir para atravessar esse momento. Para Gabriella não foi diferente. A atriz se viu no meio do cenário de isolamento social voltando para a casa dos pais, em Cuiabá, após 13 anos morando no exterior. “Eu costumo dizer que eu moro onde a minha mala está (risos). Nesse momento minha mala está em Cuiabá, com meus pais e irmãs, na casa onde vivi toda minha infância e adolescência. É uma experiência muito louca estar de volta”, admite. “Como todas as pessoas que trabalham com audiovisual, minha rotina não tem rotina. Cada dia estou focada na realização de um projeto diferente: Disney Planet, minhas músicas, conteúdos para o Instagram, Disney e outros projetos que ainda não posso revelar. Mas tenho me cuidado, faça chuva ou faça sol. E também tenho curtido minha família”.

Ela conta que ninguém da família contraiu a Covid-19, mas que pessoas que conhece adoeceram. “Cada um reagiu de uma forma à doença. Por isso a importância de se cuidar e cuidar dos demais, fazer todos os protocolos de proteção e higienização. Não temos nem ideia de como esse vírus vai se comportar no organismo de cada um. É uma roleta russa que não se pode brincar ou ignorar”. E acrescenta: “Esse período tem sido de grande aprendizado. Me fez refletir sobre o cuidado que precisamos ter, vivemos em uma esfera. Não tem para onde fugir nem crer na ideia de que estamos sozinhos ou separados. Precisamos cuidar do nosso planeta que é nossa casa, e uns dos outros. A pandemia me fez enxergar a urgência disso. Por exemplo, mantendo o isolamento social. Eu estou cuidando de mim, das pessoas que moram na mesma casa que eu e das pessoas que precisam estar na rua porque trabalham em algum serviço essencial. É paradoxal, mas se isolando você pratica um gesto social, coletivo. A pandemia tem me trazido esse tipo de reflexão e mudança de comportamento”.

“É paradoxal, mas se isolando você pratica um gesto social, coletivo” (Foto: Marcos Maia)

Nada princesa

 Atriz e cantora, ela vem ganhando cada vez mais seguidores americanos desde que gravou a versão em português de ‘Reflection’, trilha do longa em live-action ‘Mulan’, interpretada originalmente por Christina Aguilera. “Desde criança sinto uma conexão, sou apaixonada pela cultura oriental. Até estudei Arte Samurai no Japão, com o mestre Samurai Tetsuro Shimaguchi, treinador e coreógrafo do filme ‘Kill Bill’”, conta. “E por acaso, das heroínas da Disney, a Mulan é a minha preferida, me identifico. Ela não é filha de rei e rainha, mas seu ato de ser tão coerente com o que ela realmente é, uma guerreira determinada a honrar a sua família, e consequentemente salvar o seu país, fez com que fosse considerada uma princesa da Disney. E essa versão da música que canto, fala sobre questionar os padrões do mundo, sobre ser livre. Fala sobre ser amado como a gente é. E nesse momento que estamos vivendo, cantar isso é como uma luz no fim do túnel”, conclui.

“Essa versão da música que canto, fala sobre questionar os padrões do mundo, sobre ser livre. Fala sobre ser amado como a gente é” (Foto: Marcos Maia)

Embora encantada pelo universo lúdico das histórias e contos desde sempre, Gabriella salienta que na busca por seus caminhos, não se ocupou de caber em padrões que a sociedade tenta estabelecer para as mulheres. “Nunca me senti confortável na ideia de ter que seguir um modelo para ser a garota ideal, a filha ideal, a aluna ideal. Lembro que quando era criança, até curtia outros filmes da Disney, mas ao contrário das minhas amigas, eu não sentia tanta identificação com nenhuma das ‘princesas’ e não sabia o porquê. Até ver a primeira cena da Mulan anotando tudo o que podia para se encaixar na sociedade. Isso mexeu muito comigo. Eu tinha só 9 anos e vi na tela uma personagem que passava pela mesma situação que eu: não entendia nada do mundo, mas estava ali, dando o seu melhor”.

E se a sua vida pudesse ser como em um conto de fadas, como você a escreveria daqui para frente? “Sinceramente, roteirizaria um mundo onde as pessoas vivem sem culpa, sem julgamento, sem sacrifício, sem sofrimento, sem escassez, sem ameaça, sem medo. Provavelmente aconteceria o que todo mundo quer: amar, ser amado, ser atendido, ser feliz e estar em paz”.

“2020 foi um ano em que o planeta nos disse que ainda tínhamos muito o que aprender sobre o meio-ambiente, senso de humanidade e coletividade” (Divulgação)

Como acredita que a sua geração vai contar esse período que vivemos no futuro? “Acho que ele vai ser marcado como o ano que o mundo parou! Outro dia estava pensando, que se fizerem um filme de época com 2020, as pessoas estarão usando máscaras, passando álcool em gel, mantendo distância umas das outras. A mudança de comportamento e de pensamento que este ano está proporcionando a todos é histórica. Espero que a gente tenha consciência disso e conte para as futuras gerações que 2020 foi um ano em que o planeta nos disse que ainda tínhamos muito o que aprender sobre o meio-ambiente, senso de humanidade e coletividade”.

E deixa escapar um desejo para o ano que chega: “Adoraria fazer outras novelas. É uma linguagem que aqui no Brasil desenvolvemos com maestria. Minhas experiências anteriores em ‘Além do Tempo’, ‘Deus Salve o Rei’, na Globo, e em ‘Cúmplices de Um Resgate’ , no SBT, e ‘Bia’ me mostraram que é incrível estar na televisão e poder tocar o coração das pessoas de alguma forma”.