*Por Brunna Condini
Com uma vida dedicada à arte, à palavra e à defesa do meio ambiente, Bruna Lombardi abraça uma causa que se tornou ainda mais emergencial em meio à pandemia. Ela e o marido, o ator e diretor Carlos Alberto Riccelli, se juntaram a outros artistas para apoiar a ação Vidas da Amazônia, uma iniciativa que pretende diminuir os impactos da propagação da Covid-19 nos povos indígenas da floresta tropical brasileira.
“Esse projeto está ajudando a socorrer a situação dramática dos povos indígenas, que são os principais defensores da floresta e precisam muito de nós neste momento”, diz Bruna, e salienta que as pessoas que fizerem doações e forem sorteadas terão encontros virtuais (lives), exclusivos com os artistas envolvidos. A ação tem venda de rifas online pela página do projeto, que serão revertidas em doações para projeto especial do Greenpeace Brasil. E é possível escolher com qual personalidade se deseja conversar. Além de Bruna e Ricelli, também participam Camila Pitanga, Tais Araujo, Débora Falabella, Leandra Leal e Thainá Duarte.
Bruna bateu um papo com o site destacando a importância da solidariedade em um momento que os povos indígenas estão ainda mais vulneráveis às doenças infectocontagiosas e a exposição à Covid-19, ainda mais com o aumento do avanço de garimpeiros e madeireiros no período, que ajudam a disseminar e levar a doença da cidade para as aldeias. “O resultado disso já está sendo desastroso. Já são muitos casos”, diz. Segundo o Ministério da Saúde, são mais de 50 mortos e 2 mil infectados, no país que conta hoje com 305 povos indígenas falando 274 línguas diferentes.
Por que acha tão difícil que as pessoas se engajem, partam para a ação, em relação às questões ambientais? “Infelizmente é bem difícil mesmo, especialmente no Brasil. Acho que nosso país tem sorte de ter muita fartura, exuberância da natureza, isso acostumou mal as pessoas. Então, o homem acredita que se acabar um pouco com ela (natureza), não vai fazer diferença. Mas tudo tem lei de causa e efeito”, analisa. “E outra coisa, acho que não se separa a questão ambiental da social. Os recursos naturais acabam, então quem age contra o meio ambiente, também está cometendo crimes de ordem social. Existe uma discrepância muito grande do que consideramos progresso e do que é destruição, com grandes consequências. Temos um planeta generoso, a terra dá muito, mas vamos conseguir destruir e acarretar violências irreversíveis no ecossistema se continuarmos nesta caminhada, e olha que temos um dos biomas mais ricos do mundo, mas estamos acabando com ele. Acreditem, ele tem muito mais utilidade, pode produzir mais riquezas, estando de pé”.
A artista conta que sua preocupação ambiental vem da infância e está ligada à sua essência, uma espécie de missão: “Queria que as pessoas entendessem que fazem parte disso tudo, não estamos separados da natureza. Alguns homens chamam os índios de “selvagens”, mas nós é que somos. Os índios têm muito a nos ensinar. Preservam o ambiente, tiram dele seu sustento. Quem comete selvageria é quem não dá a mínima para o que o cerca, explora sem piedade e responsabilidade os recursos naturais. O extrativismo no Brasil é simplório e errado. Rendia mais para todos se os recursos fossem corretamente explorados. Essa pandemia já é resultado disso, dessa relação irresponsável do homem com seu ambiente. Estamos culpando o vírus por uma série de coisas. Mas a pandemia não é causa, é efeito. Essa é uma das principais leis da natureza: causa e efeito. Acredito muito nisso”.
Amor no coração do Brasil
Atriz, escritora, poeta, roteirista e palestrante, ela iniciou a carreira em 1977, na trama “Sem lenço, sem documento”, exibida na TV Globo. Mas foi no trabalho que aconteceu na sequência “Aritana”, na extinta TV Tupi, que ela conheceu o amor e seu maior parceiro na vida, Riccelli. “Eu o Ri nos conhecemos no Xingu, fazendo a novela. Mas ambos, mesmo antes deste trabalho, já éramos apaixonados pela causa indígena. Foi uma aventura de sonho, nós ali, no coração do Brasil. E foi incrível observar tão de perto como os índios vivem, se organizam, respeitam a natureza. Eles não poluem, não produzem nada que possa contaminar onde vivem, é uma sagração da natureza, porque eles sabem que são parte dela. Nós temos muito a aprender. Também fomos para a Amazônia, para o Acre, para o Sul da Bahia e sempre ficamos inspirados pela visão de mundo dos povos indígenas, que é como o mundo deveria ser visto por nós”.
Bruna costuma dividir uma curiosidade sobre esse encontro. “É acreditar no destino. Nos conhecemos no trabalho, que não faríamos, nem ele e nem eu, cada um por suas razões. Na época lembro que eu estava em uma certa crise de vida, por isso não queria fazer. Aí a Ivani Ribeiro, a autora de “Aritana” me ligou com um argumento imbatível: “tem uma viagem para o Xingu, você vai ficar por lá um mês”. Aí me deu uma coisa no coração. Tinham acabado de demarcar as terras indígenas, os irmãos Villas-Bôas conseguiram essa coisa espetacular. Era difícil ir, super fechado, por todas essas razões, acabei aceitando”.
E completou: “Eu o Ri nos apaixonamos neste ambiente, neste cenário, com uma natureza exuberante em volta, tudo tão intacto, selvagem, verdadeiro. Acho que baseamos muito a nossa relação na natureza. Nós dois até hoje nos jogamos nela vamos para lugares em que essa exuberância é muito vívida. Parece que quando estamos nesses lugares, estamos repetindo aqueles momentos. Isso é uma benção que acompanha a vida da gente”.
Em busca da felicidade
Bruna e Ricelli se casaram e em 1981 tiveram o único filho do casal, Kim Riccelli. A família passa muito tempo junta, inclusive trabalhando. No momento, a atriz pode ser vista na HBO com a série “A Vida Secreta dos Casais”, criada por ela e dirigida por Carlos Alberto Riccelli e Kim. Durante o isolamento social, o trabalho não parou. Bruna continua produzindo conteúdo para seu canal e Instagram, e também se dedica aos projetos da sua Rede Felicidade, plataforma digital na qual compartilha experiências que inspiram e motivam as pessoas a viverem mais felizes e realizadas. Além disso, ela revela tem criado e escrito muito. Vai sair um filme ou um livro pós pandemia? “Tenho produzido muita coisa, vai sair algo sim, mas por uma questão contratual ainda não posso contar, mas assim que puder, conto para vocês”.
Longe da TV aberta desde a minissérie “O Quinto dos Infernos” (2002), o público sempre lembra dela pelos papéis e manifesta o desejo de vê-la em uma novela ou série. Faria algo na TV após a pandemia? “Estou na HBO com a série, gosto muito das produções do canal, tem uma liberdade grande. Mas também gosto da TV aberta, acho mesmo que ela presta um serviço. Tem muita coisa ruim, mas também tem muita coisa relevante. A dramaturgia tem buscado qualidade e relevância de temas que são imprescindíveis”.
Uma produção como a série “Aruanas”, por exemplo, que tem toda uma questão ambiental, te atrairia fazer? “Essa série é um belo exemplo dos temas fundamentais que falei. Eles dão protagonismo às pessoas que merecem, com histórias realmente heroicas. Não gosto de dar protagonismo a personagens que não são bacanas. Como não temos uma forte corrente de educação no país, temos que ter cuidado com o que se coloca na TV, e também pensar em valorizar através de personagens os heróis anônimos, os enfermeiros, os garis, voluntários, bombeiros”. Mas se surgisse um convite para fazer a série no ano que vem toparia ou outra coisa na TV aberta, toparia? “Acho que não daria tempo, não tenho mesmo tempo hábil para aceitar algo assim. Acredito que tenho que dar seguimento aos projetos que já estou envolvida, e estou bem, feliz”.
E se tem uma coisa que Bruna vem investindo nos últimos anos é em autoconhecimento e bem-estar. O que é felicidade no viver hoje para você? A palavra está presente em muitos projetos seus… “Acho que felicidade está ligada com a pessoa conseguir ser ela mesma, dentro deste sistema que impõe padrões, tantas coisas que as pessoas não conseguem alcançar e ser. Partimos do princípio do autoconhecimento, para mudanças de hábitos, investir na qualidade de vida”, diz. “Começa naquela viagem que a gente faz para dentro, com todos os sentimentos que nos habitam. Essa é a única jornada possível para encarar o mundo, e não depositar essa procura fora. É uma jornada de caminho contínuo e nossas escolhas são as chaves”.
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