“Está sendo uma libertação e um exercício muito interessante ser eu mesma a minha chefe”, diz Carolina Ferraz


Em conversa exclusiva ao site HT, a atriz e apresentadora fala do caminho já percorrido como produtora de conteúdo para o YouTube, reflete sobre a vida e as criações em meio à pandemia, e também sobre a reinvenção na carreira. “Neste cenário, você combinar cinto com sapato nunca foi tão chato e cafona. Acho que influência mesmo exerce hoje quem mostra outras possibilidades, questões, de uma maneira leve e viável. Tem que ser realista, falar dentro do que é possível sobre todos os assuntos”, pontua

*Por Brunna Condini

A vontade de explorar outras plataformas e ser produtora dos seus próprios projetos deixou Carolina Ferraz receptiva às oportunidades. E, depois de 30 anos de carreira como atriz, ela se reinventa como produtora de conteúdo, em seu canal no YouTube, e celebra o momento em que pode ressignificar a comunicação com o seu público. O canal acabou de chegar a 100 mil inscritos, o que mudou na sua vida sendo uma criadora de conteúdo? “Diria que hoje eu tenho mais tempo e consigo organizá-lo de uma maneira mais justa. Para mim, minha família, para os projetos em si. Acho mesmo que a minha rotina mudou para melhor. Além disso, profissionalmente, convivo com pessoas de maneira mais profunda, porque não as vejo sempre, mas, quando as encontro, ficamos quase cinco horas tendo reunião de criação. O que acho sempre muito interessante. Eu curto demais isso”, analisa.

“O canal acabou de completar seis meses. E posso dizer que estou muito feliz com a minha vida no YouTube. Estou me descobrindo. Acho uma plataforma dinâmica, moderna, onde posso exercitar o que desejo mostrar para as pessoas, como vejo a vida, que tipo de imagem quero projetar. Está sendo uma libertação e um exercício muito interessante ser eu mesma a minha chefe. Se der certo, tudo bem, que ótimo, o mérito é meu. Se der errado (risos), a responsabilidade também é minha”, frisa.

“Se der certo, tudo bem, que ótimo, o mérito é meu. Se der errado (risos), a responsabilidade também é minha” (Nicole Gomes)

Aos 52 anos, ela deseja voar e experimentar. E vibrou na primeira live que realizou para comemorar os 100 mil inscritos. “Foi incrível, deu tudo certo. Acho que foi uma maneira boa também de as pessoas verem como consigo me comportar ao vivo, ali no contato com o público. Acho interessante, tenho 30 anos de carreira como atriz, e isso só soma, me dá segurança, me senti muito bem. Com certeza farei outras lives”, anuncia. E comenta sobre a troca com outras gerações na nova plataforma: “No meu canal me obriguei, indiretamente, a me rejuvenescer, de uma maneira profunda. A pessoa mais velha da minha equipe tem 26 anos. É muito legal e não tenho nenhum problema com isso. As pessoas no YouTube são participativas e eu fui recebida de um jeito muito carinhoso. Estou aqui para trocar informações com todas as gerações”.

“No meu canal me obriguei, indiretamente, a me rejuvenescer, de uma maneira profunda. A pessoa mais velha da minha equipe tem 26 anos” (Nicole Gomes)

Em período de afastamento social por conta do novo coronavírus – Carolina tem passado os dias no campo, no interior de São Paulo com as filhas, Valentina, 24 anos, e Izabel, de 4 – ela se permite às pausas, mas com a curiosidade aguçada de quem ainda quer contribuir em papos para lá de firmes com seu público.

Você falou em reinvenção de uma forma muito interessante, dizendo que acredita que somos o somatório de tudo que nos aconteceu, e as reinvenções estão no meio disso. O que tem descoberto sobre você? “Descobri que posso ser criadora de conteúdo, justamente porque eu vivi tudo o que vivi, e passei tudo o que passei. E estou aqui até hoje, viva, criativa, respirando, cheia de energia. Meu potencial de criação nunca esteve tão alto. Me sinto bem, me sinto bonita, feliz. Com todas as dificuldades que enfrento diariamente, e acho que isso é uma questão inerente a todos nós, basta estarmos vivos para que tenhamos problemas, inseguranças e dúvidas, mas estou administrando bem tudo isso e vivendo feliz”, divide. “Acho que descobri é que eu sou capaz. Sim, a gente tem que acreditar na gente. Acho que autoestima e amor próprio nunca estiveram tão na moda. É fundamental acreditarmos no que somos e queremos contar para as pessoas”.

‘Acho que autoestima e amor próprio nunca estiveram tão na moda. É fundamental acreditarmos no que somos e queremos contar para as pessoas” (Nicole Gomes)

Versátil, dona de senso humor e de uma das vozes mais elogiadas da televisão brasileira (e agora do YouTube), Carolina contabiliza mais de três décadas como atriz, e destes anos, 27 trabalhando na Rede Globo, emissora que deixou, mas não sem exaltar sua trajetória e legado. Essa sua versão comunicadora, repórter, a satisfaz mais do que a versão atriz no momento? “Essa minha versão comunicadora me satisfaz super. Eu já tive um projeto de programa chamado Lado C, que apresentei na Globo há uns 10 anos. Era um projeto que procurava mostrar várias situações, inclusive entrevistas através de uma ótica inusitada, inesperada. Mas era considerado um projeto muito jornalístico. E naquela época, jornalismo e produção eram realmente seguimentos muito separados. Então o projeto não evoluiu. Quer dizer, embora o grande público não saiba, eu sempre tive o desejo de ter um programa meu, onde pudesse exercitar mais musculaturas, pudesse conversar com todo tipo de pessoas, explorar mais esse meu lado curioso que existe. Gosto muito de estudar, de aprender outras coisas. Acho que esse lado me satisfaz muito”, conta a atriz.

E salienta: “Não que me satisfaça mais do que ser atriz. Acho que uma coisa completa a outra. Tenho projetos de teatro, que claro, foram adiados por conta da pandemia. Mas eu sou tudo isso, não vou deixar de atuar, não. Sou uma atriz. Esse é meu ofício e adoro atuar”.

“Não é que meu lado comunicadora me satisfaça mais do que ser atriz. Acho que uma coisa completa a outra” (Nicole Gomes)

Há mais de dois meses em quarentena, Carolina tem tido o desejo ainda maior de levar conteúdos relevantes ao ar. “Vivi uma crise de conteúdo muito grande quando começou a pandemia. Porque quando a gente está lidando com salvar vidas todo o resto é supérfluo, descartável e não é importante. Não tenho a menor intenção de inventar a pólvora, mas quero contribuir de alguma maneira positiva”, reflete. “Neste cenário, você combinar cinto com sapato nunca foi tão chato e cafona. Acho que influência mesmo exerce hoje quem mostra outras possibilidades, questões, de uma maneira leve e viável. Tem que ser realista, falar dentro do que é possível sobre todos os assuntos”.

E completa: “Tenho feito uma série de entrevistas no meu Instagram com brasileiros que moram fora do país, sobre como eles estão atravessando a pandemia da Covid-19. Cada um com suas histórias, in loco, falando também sobre as realidades dos países em que estão. Na próxima semana vou fazer uma série de entrevistas sobre espiritualidade e pandemia. Temos que pensar em produzir conteúdos bacanas, com o direito das pessoas gostarem ou não. O que posso dizer, é que eu estou buscando conversar com gente das mais variadas origens, formações, para trocar ideias no que temos em comum: somos todos humanos, e é isso que eu gosto e acredito. Gostaria que o mundo novo, pós pandemia, fosse mais solidário, que de fato, as pessoas se preocupassem mais com a igualdade social. E que o valor da vida volte a ser a principal temática das conversas, em todos os países, que possamos trocar isso de forma mais humana. Acredito que nunca mais seremos os mesmos. Acho que o life style que a gente vinha tendo está completamente fora de ordem, e que vai surgir, inevitavelmente, um mundo diferente, onde a reflexão e a empatia vão ser determinantes para o sucesso de qualquer pessoa, em qualquer área”.