HT entrevista Luiz Wachelke, designer gráfico amigo de André Carvalhal, dono da Vish e coolhunter carioca


Rapaz ajudou a criar o livro “A Moda Imita a Vida”, do diretor de marketing da Farm, e agora se divide entre várias funções que abordam um novo estilo de pensar e fazer moda

*Por Júnior de Paula

Ficamos sabendo sobre Luiz Wachelke quando André Carvalhal, gênio do marketing de moda, estava lançando seu livro “A Moda Imita a Vida” e fez um agradecimento a Luiz em um post no Facebook. Por lá, a gente descobriu que o tal cara era quem assinava a direção criativa – em parceria com André – do livro e de toda a linha de papelaria que acompanhou o projeto. Tudo era tão cool que a gente quis saber mais sobre o tal garoto. Aí descobrimos que ele, além de profissional de criação, é dono de uma marca de moda, chamada Vish, e também se prepara para coordenar um curso que gira em torno do assunto no IED Rio, cidade para a qual acabou de se mudar.

“Ano passado resolvi que era preciso mudar de ares e, para quem nasceu rodeado pelas praias em Floripa, vir para o Rio parecia a escolha natural. Desembarquei aqui em agosto do ano passado e desde então me envolvi em mil projetos: dou aulas na Perestroika, sou diretor de arte da The School of Life Brasil, além de ter feito parcerias entre a Vish com a Sala de Estar e a Redley. Agora estou tendo o privilégio de dar aula no Istituto Europeo di Design Rio, em pleno Cassino da Urca. Assumi o cargo de coordenador do Curso One Year de Moda do IED Rio, um curso com um formato novo e super pertinente para o mercado, com direito a aulas fora do país e inserção dentro de marcas do mercado”, conta Luiz. Aos 29 anos, parece que trabalho não falta e não vai faltar tão cedo para esse garoto que, além de tudo, é cheio de charme. Vem ler o papo com o moço!

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Foto (Divulgação)

HT: Vamos começar do começo. De onde você veio e qual sua formação até chegar aqui?

LW: Eu sou do Sul, mais especificamente de Florianópolis, filho de um paranaense e uma gaúcha. Me formei em Design Gráfico pela Universidade Federal de Santa Catarina, mas logo enveredei para a estamparia e, quando percebi, estava mergulhado na moda. Foi nesse momento que surgiu a Vish, minha marca junto à Andreia Schmidt Passos, que esse ano completou sete anos. A grife é uma parte super importante dessa trajetória. Já passamos por muitas fases, mas a essência continua e se fortalece. Eu sou programador visual, a Andreia é estilista e nós dois trabalhamos o nosso repertório como inspiração para a criação: eu com os tecidos e estampas, ela com as silhuetas e modelos. Como é um projeto bem autoral (e cada vez mais experimental), temos liberdade de pensar em formatos diferentes, parcerias, criações que fazem sentido para o nosso ponto de vista.  Nesse meio tempo segui para Londres, onde estudei pesquisa de tendências. Voltei direto para a capital paulista onde passei cinco anos no mercado e, além de crescer com a Vish, me especializei em Marketing de Moda e comecei a trabalhar com imagem de moda – como diretor de arte e diretor criativo de campanhas. No final desse período me chamaram para dar aulas no Instituto Europeo di Design São Paulo, tudo relacionado à direção de arte. Percebi que virei um “designer gráfico de moda”, tanto na parte de design de superfície e estamparia quanto na àrea de imagem de moda e comunicação.

HT: O que o design aplicado à moda tem que te fez se apaixonar?

LW: Eu acredito que a minha formação em design sempre me fez ter um olhar muito prático e concreto para com a moda. Acho que entrei na moda pela porta dos fundos, comecei estagiando em uma marca feminina de Florianópolis, como designer de estampas, acompanhando todos os processos no chão de fábrica e logo me joguei com a Andreia na Vish, em um projeto onde fazíamos tudo: do conceito à imagem final. Então de certa forma sempre tive um olhar muito projetual do processo: encarava cada coleção como um projeto de design. A moda tem um apelo estético muito forte e lida com identidade. Ela é menos funcional que o design e mais suscetível à sensibilidade. Talvez por isso acabei me encontrando mais nessa área. Assim consigo equilibrar um pouco desse meu viés com o trabalho mais livre e artístico: o melhor dos dois mundos, na minha opinião. Acho que isso faz muito sentido hoje.

HT: Qual sua primeira lembrança relacionada ao design na vida? E à moda?

LW: No design, caí de pára-quedas. Quando entrei na faculdade, o meu curso se chamava Comunicação e Expressão Visual. Descobri que estava cursando Design quando o curso foi rebatizado e eu estava a um ano da formatura. Achei melhor, afinal, é mais fácil se fazer entender como designer do que como comunicador visual. Na moda, minha primeira lembrança foi no estúdio de serigrafia da minha faculdade, quando eu e mais dois colegas resolvemos comprar rolos de malha, cortar (nós mesmos), estampar (nós mesmos) e vender camisetas em eventos de estudantes da área. Acho que ali foi o começo de tudo: da estampa, da moda e do empreendedorismo.

HT: Como é seu processo de criação? Primeiro vem a cor depois a forma, vice-versa ou tudo junto?

LW: Acho que o meu processo de criação é muito intuitivo. Na Vish, eu e minha sócia estamos sempre conversando sobre impressões, opiniões, o que viu na última exposição, a série mais interessante do momento e em meio a esse diálogo diário infinito surge uma ideia que já vai tomando forma. Temos uma dinâmica de criação bem focada em observação e memória. Aí vem cor, forma, textura, composição, tudo meio junto. Mas, como bom designer, acho que esse pensamento aos poucos se organiza em etapas de execução. Brinco que queria ser mais artista em alguns momentos, começar um desenho sem saber onde espero chegar. A gente tento sair do design, mas o designer não sai da gente. Eu chego lá.

 HT: Quais são as cinco coisas que você acha mais cool?

LW:

(1) Açaí. Passei anos sem comer açaí – sem motivo – e hoje não vivo sem – com motivo: é muito bom.

(2) Netflix. Sim, isso é muito cool. Tenho uma propensão séria a fazer maratonas de seriados, e isso é a solução para todos os meus problemas.

(3) Plantas. Desde que me mudei para o Rio estou com uma obsessão botânica: desenhar plantas, fotografar plantas, comprar plantas, plantar plantas.

(4) Pintura a óleo. Taí uma lacuna da minha formação artística que estou começando a explorar. É tão clássico e tradicional que tenho achado muito legal.

(5) O Aterro do Flamengo. É genial, é incrível, é no meio da cidade, dá pra correr, dá pra andar de bicicleta, dá pra fazer piquenique. Quem não é do Rio – como eu – fica impressionado com um parque colado na praia e com vista pro Pão de Açúcar.

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Foto (Divulgação)

HT: Moda é arte?

L.W.: Moda tem a ver com expressão, claro, uma expressão de identidade na forma de se vestir. Então, Moda pode ser arte, mas também pode ser negócio. Moda pode ser inspiração pura, mas também pode ser projeto puro. Tudo vai depender do objetivo. No caso da Vish, temos um foco bem artístico. e a nossa vontade é ir cada vez mais pra esse lado.

HT: Como vai ser o curso que você foi convidado pra coordenar no IED? E como se deu essa aproximação?

L.W.: O Istituto Europeo di Design é uma instituição muito interessante – estudei e dei aulas lá em São Paulo e tenho ministrado cursos aqui no Rio desde que me mudei pra cá. A ideia do IED é sempre ter um aspecto prático muito presente, aprender através de projetos, colocando a mão na massa – ou nos tecidos! Esse curso tem esse perfil e também se destaca porque tem um formato novo: dura apenas um ano e seu último mês se passa no IED Barcelona ou numa imersão dentro de uma marca de moda aqui no Rio. Ou seja, num formato intensivo e rápido, oferecemos uma formação prática de moda a qual mercado atual exige. Nosso foco são estudantes ou profissionais que muitas vezes vieram de outras áreas ou tem lacunas na formação. A ideia é trazer profissionais do mercado que tem muita experiência prática e uni-la um conhecimento teórico necessário pra atuar nesse campo. Queremos aproveitar o formato livre e flexível para oferecer uma formação muito dinâmica. O meu trabalho com o IED já tem alguns anos, desde São Paulo. Aqui tenho atuado como professor e coordenador de curso de extensão e vou também dar aulas no One Year e na pós-graduação. Pra mim é genial fazer essa volta com tudo ao Design, depois de tanto tempo só na Moda. E coordenar um curso tão focado em projetos práticos é algo que me empolgou muito no convite da direção do IED Rio.

HT: Quais seus próximos projetos?

L.W.: São muitos! Eu e a Andreia estamos preparando a Vish há alguns meses para um novo formato e estamos ansiosos para lançar as novidades. O lado acadêmico também promete. O curso do IED Rio vai ser algo muito legal de acompanhar e coordenar: os professores são incríveis, mas estou ansioso para o feedback e a participação dos alunos. Quero ver os resultados que esse formato mais prático vai render. E junto com Vish e curso, muitos projetos. Além da direção de arte da The School of Life, sempre surge um workshop ali, uma campanha acolá, uma pesquisa de tendências alhures ou até mesmo o projeto gráfico de um livro. E na lista ainda tem um mestrado nos planos!

*Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura