Entre a arte de atuar e ser ‘vegetal influencer’: Hugo Bonemer mostra que pequenas ações refletem no meio ambiente


O ator fala da importância do Dia Mundial do Meio Ambiente, e de consciência e mudança de hábitos. E também anuncia que será um dos jurados do Emmy Awards deste ano, que deve rolar em novembro, e exalta o respeito no Mês do Orgulho LGBTQIA+: “Esse mês é para as pessoas dizerem: temos orgulho de como nascemos, embora digam o contrário. A ideia é: essa cidade é nossa também, nos orgulhamos de quem somos. Sinto que as coisas estão melhorando, quero acreditar nisso. E quando vejo uma pessoa homofóbica, se debatendo, gosto de acreditar que é o último suspiro da homofobia. Quero acreditar que a homofobia esteja morrendo, porque não é humano”

*Por Brunna Condini

Na sexta-feira, dia 5, foi celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, com muito para alertar e educar ainda, e pouco a comemorar. Em meio à pandemia do novo coronavírus, o cuidado com o planeta, a casa maior, que nos abriga, se faz mais necessário do que nunca. Marcando a data, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que a natureza está nos mandando uma “mensagem clara”. “Estamos afetando o meio ambiente, para nosso próprio prejuízo. A degradação dos habitats e a perda de biodiversidade estão acelerando. As perturbações climáticas estão piorando. Incêndios, inundações e grandes tempestades são mais frequentes e destruidoras. Os oceanos estão ficando mais quentes e ácidos, destruindo os ecossistemas dos corais. E, agora, um novo coronavírus está enfurecido, minando a saúde e meios de subsistência”, afirmou Guterres. “Vamos repensar o que compramos e utilizamos. Adotar hábitos e modelos agrícolas e de negócios sustentáveis. Salvaguardar os espaços e a vida selvagem que ainda existem. E nos comprometer com um futuro verde e resiliente’, completou o secretário-geral da ONU.

Comprometimento. Atitude que o ator Hugo Bonemer, ativista do tema há mais de dez anos, tem de sobra. A convite do site, ele fala da importância da consciência com a preservação do planeta, e também, da vivência na quarentena. Além disso, anuncia que vai ser um dos jurados do Emmy Awards deste ano, que deve rolar em novembro, e fala da relevância do Mês do Orgulho LGBTQIA+.

 

“Claro que têm os medos e inseguranças do momento, mas estou tentando ter um olhar esperançoso no meio de tudo isso” (Foto: Sergio Santoian)

Como anda a vida em isolamento? “Fiquei sozinho uns 18 dias no meu apartamento no Rio, mas agora estou no campo, com a família. Já são 85 dias de quarentena”, conta.Estou me obrigando a refletir sobre várias situações que acabamos não encontrando espaço na rotina. Estou cuidando mais de mim, mais responsável comigo. Sinto que estou me reencontrando, como se tivesse me abandonado. Claro que têm os medos e inseguranças do momento, mas estou tentando ter um olhar esperançoso no meio de tudo isso. Ou é isso ou o pânico, a angústia, né? Não posso reclamar. Estou perto da família, experimentando uma proximidade maior, estou amparado. E trabalhando daqui. E também estou tentando fazer minha parte, ajudando quem está ao meu redor”, diz o ator, que está solteiro desde novembro do ano passado, quando terminou o relacionamento com Conrado Helt.

Escolhas diárias

Engajado, Hugo compartilha nas suas redes, atitudes e hábitos diários que podem fazer a diferença. E acredita que consciência não se impõe, se desperta, e é muito mais simples que a maioria das pessoas pensam. “Sinto que muita gente quer fazer diferente, mas fica meio perdida. Precisamos pensar que são soluções simples, escolhas diárias. Acho que é um caminho sem volta, ainda bem.  Aprendendo sobre o assunto, você passa a se importar. Quero acreditar que as pessoas que não se engajam, é por falta de conhecimento. O plástico, por exemplo, é uma realidade, faz parte da cultura. Mas a pergunta para se fazer é: onde posso reduzir? Porque o material plástico que usamos leva em média 400 anos para se decompor no meio ambiente?”.

A conscientização para o ator veio através de uma amiga, Fernanda Cortêz, que estava fundando um movimento chamado Menos1lixo. “Há dez anos, ela me deu copo retrátil, pediu para usá-lo nos ensaios de uma peça que eu estava fazendo, e contar quantos copos plásticos eu economizaria. Contei: usava 35 por semana, o que dão 1.680 copos por ano. Pensei: somos 25 no elenco, então, são aproximadamente 42.000 copos descartáveis usados. Quando percebi isso, pensei: ‘para onde estão indo esses copos?’”, recorda. “Desde então, mudei meus hábitos. Levo copo comigo, estou sempre pensando em como reduzir o lixo, plástico e outros produtos que poluem o planeta. As grandes pautas são redução de lixo, de plástico, e o desmatamento, principalmente no Brasil. Tem também a liberação “pornográfica” de agrotóxicos. É agressivo, violento, o agrotóxico não é filtrado pelas estações de água, então em algum momento eles vão parar na nossa torneira. Isso não é um problema das estações de tratamento. Pelo menos as brasileiras, não são capazes de tirar ele da água. O que tem que de ser feito é tirar o agrotóxico”.

Hugo usa sua composteira em casa , um sistema de reciclagem dos resíduos orgânicos (Reprodução Instagram)

E completa, exemplificando as soluções que encontrou em sua rotina. “Sei que muita gente pensa: “alimentos orgânicos são caros”. Sim, porque têm menos para vender do que no sacolão. Quando começarmos a comprar terá mais oferta e pagaremos menos. Acho mesmo, que a grande pergunta é: ‘o que eu posso fazer? Posso acabar com o agrotóxico hoje? Não. Posso reduzir o consumo de carne? Sim. Economizo e ajudo na questão ambiental. Posso escolher comprar produtos das empresas engajadas? Posso. Outro ponto importante também é a questão do delivery. Você pode pedir para não vir em plástico, pode vir em papel reciclável. É também uma forma de cobrar uma mudança de postura das empresas”.

Vegetal Influencer

Em seu Instagram Hugo se identifica como “artista e vegetal influencer”. De onde saiu essa denominação? “Esse nome é ótimo, né? (risos). Saiu de um papo com um amigo. Estava falando com ele sobre uma bucha vegetal, e por conta do corretor do celular, saiu “bicha vegetal”. A gente deu risada e eu disse: me define, sou eu, uma coisa “vegetal influencer”, conta, bem-humorado. E aproveita para alertar. “Falar isso é importante. Quando alguém compra produtos biodegradáveis, quer dizer que são vegetais. São renováveis e biodegradáveis, vão sumir, não deixam poluentes. Se for de origem mineral é algo que tende a acabar. Se for de origem animal, você está falando de crueldade, por mais que não seja você que mata. Mas depois que vou ao supermercado e compro alguma coisa de origem animal, estou pagando alguém para fazer isso. Me tornei vegetariano há quatro anos, mas estou aprimorando esse olhar vegano. Você pode pensar de forma prática e ecológica também sobre o consumo de carne: é a indústria que mais polui o planeta. Desde a logística de transporte dos animais até a poluição de milhares de litros de água em todo o processo. Se você se inteirar vai ver que as grandes epidemias mundiais estão ligadas ao consumo animal: gripe aviária, vaca louca… é bem evidente a ligação dos vírus das grandes epidemias com o consumo e exploração de animais”.

“Têm muitas mudanças que devem ser feitas, esse é um ótimo momento para pensar num mundo melhor, pós pandemia” (Foto: Sergio Santoian)

Por que tanta gente pensa que é chato falar do tema? “Acho que porque a maneira que a gente vive hoje, embora não seja sustentável, é confortável. São tantos problemas que já vivemos, no meio da pandemia, e você ainda vem falar de plástico? Muitos devem pensar. Há muitas mudanças que devem ser feitas, esse é um ótimo momento para pensar em um mundo melhor, pós-pandemia. Temos que aproveitar isso de alguma forma, não pode ser só sofrimento. Me sinto responsável pelas minhas ações com o meio ambiente e curto dividir o que me faz bem”.

Dicas audiovisuais

Há dois anos à frente do canal Like, da Net Claro, que apresenta, agora de casa, ao lado de Maytê Piragibe (também da casa dela), Hugo dá dicas de filmes e séries, para entreter o espectador no período. “O objetivo é aproximar as pessoas dos artistas, das produções. Não gosto de chamar de crítica, porque vira outra coisa. Não é sobre gostar ou não, é sobre aproximar o espectador das escolhas dos artistas, para aproveitarem melhor o conteúdo”, esclarece. E aproveita para indicar a escolha da vez: “Estou vendo a série “Hollywood”, na Netflix. A atuação é o ponto alto. Trazem aquela coisa dos anos dourados de Hollywood. A série é rápida, dinâmica, as coisas vão acontecendo numa velocidade alucinante. Parece que estão construindo uma Hollywood que não aconteceu, mais próxima da de hoje, com diversidade. E o elenco também é super diverso, com diferentes nacionalidades, origens, orientações”. E revela, animado: “Fui convidado para ser um dos jurados do Emmy Awards que acontece em novembro. Fiquei feliz. Estão com conteúdos interessantes, diversos. Então, ainda que pareça que não, acho que nós, como sociedade, estamos caminhando para algo melhor. Preciso pensar assim”.

Hugo também faz questão de falar sobre a importância histórica do Mês do Orgulho LGBTQIA+, celebrado agora em junho.“ A comemoração neste mês é por conta do que ocorreu em Stonewall, em Nova Iorque, um momento em que se prendia pessoas gays. Foi horrível o que aconteceu, entraram neste bar (Stonewall Inn) prenderam pessoas aleatoriamente, as mulheres mais femininas foram abusadas, as outras agredidas. Os homens gays também foram agredidos, e outros, que eles escolhiam achando mais masculinos, iam sendo liberados”, contextualiza. “Em algum momento uma mulher trans, negra, saiu algemada, mas reagiu e conseguiu dominar um policial. Ela gritou para todos os homens gays: “vocês vão ficar só olhando? Não vão fazer nada? Ali, começou uma revolta e um movimento. Tomaram conta das ruas e se sentiram livres para estarem na rua. A parada LGBT nasceu ali. As pessoas nascem diferentes e ponto, têm que ser respeitadas, a única coisa que você ensina é a ter caráter ou não. Esse mês é para as pessoas dizerem: temos orgulho de como nascemos, embora digam o contrário. A ideia é: essa cidade é nossa também, nos orgulhamos de quem somos. Sinto que as coisas estão melhorando, quero acreditar nisso. E quando vejo uma pessoa homofóbica, se debatendo, gosto de acreditar  que é o último suspiro da homofobia. Quero acreditar que a homofobia esteja morrendo, porque não é humano”.

“Quando vejo uma pessoa homofóbica, se debatendo, gosto de acreditar  que é o último suspiro da homofobia. Quero acreditar que a homofobia esteja morrendo, porque não é humano” (Foto: Sergio Santoian)