O Aeroporto Santos Dumont parou nessa quarta-feira, 14, mas nada de pane. O embarque foi de fashionistas e celebridades, ávidos para assistir desfiles das mais consagradas marcas brasileiras em uma passarela para lá de inusitada: a pista de pouso do aeroporto parte integrante da história do Rio de Janeiro desde a década de 30. O fashion show ficou nas boas mãos do diretor criativo Paulo Borges, com quem o site HT já bateu um papo exclusivo, e mostrou um preview das criações Outono-Inverno 2016 de grifes como Ellus, Alexandre Herchcovitch, Lenny Niemeyer, Gloria Coelho, Patrícia Viera, Osklen, Iódice e Água de Coco. Modelos do naipe de Carol Ribeiro, Carol Trentini, Isabeli Fontana, Laís Ribeiro, Luciana Curtis, Marcelle Bittar, Fabiana Milazzo, Aline Weber, Renata Kuerten, Daiane Conterato e outras riscaram a passarela. Todas deslumbrantes e, sem exceção, destacaram a importância de fazer parte de um desfile com formato tão inédito e que marcou o ano da moda no Rio de Janeiro. Paulo Borges, que assinou a direção dos desfiles, destacou que a moda brasileira cresce mesmo em tempos de crise. “A indústria da moda consegue se reinventar, mesmo com o país politicamente parado. O Brasil tem um tamanho gigantesco, a industria é plural e ela consegue fazer a roda da economia girar, mesmo nas circunstâncias mais complicadas. O brasileiro tem a capacidade de se reinventar, mesmo em momentos difíceis”, disse.
O clima lúdico começou logo nos guichês devidamente adesivados, onde os convidados formavam fila para pegar as pulseiras do desfile. Em seguida, todos foram encaminhados para o embarque, que contava com champagne, música e ônibus. Todo o procedimento de uma viagem, com direito a inspeção na Polícia Federal, transportava o público ao universo conceitual do desfile. Para falar de história, só faltou a voz de Iris Lettieri anunciando os vôos como no passado. Além da direção criativa de Paulo Borges e da curadoria de Susana Barbosa, a ficha técnica contou com nomes poderosos como o maquiador Daniel Hernández, styling de Flavia Pommianosky e Davi Ramos e produção DreamFactory. Susana Barbosa, que também é diretora de redação da Elle, disse que o evento é mais uma prova da capacidade do Rio de Janeiro em criar tendências. “Todo ano, o Rio dita rumos e orienta a moda, seja nos modismos das areias ou nas novelas. Elas podem até não dialogar com o high fashion, mas falam diretamente com o grande público. Se voltarmos no tempo, Leila Diniz pode ser um bom exemplo. Depois dela, exibir a gravidez deixou de ser um tabu”, analisou. Para ela, o carioca não ficou órfão do Fashion Rio. “Acho que o Brasil não comporta duas semanas de moda. O Fashion Rio já estava perdendo fôlego. Talvez mostrar o resort e o beachwear seja o formato ideal para uma cidade solar”, sugeriu.
O avião estrategicamente posicionado no início da passarela (Foto: AgNews)
O backstage
Entre pincéis, cosméticos, secadores, sucos naturais e araras repletas de looks incríveis, a sensação das modelos era uma só: felicidade por desfilar em um evento que marca a história da moda na cidade. A top Renata Kuerten definiu o sentimento que parecia ser geral: “Quem não daria tudo para estar aqui?”, questionou. Mesmo com a felicidade, o friozinho na barriga existe. “Estamos em casa, o lugar onde todos nos conhecem, então tem mais pressão, sim. Dá uma tensão na hora de entrar na passarela”, disse ela, que define seu estilo como esporte-chique e garantiu que já adotou uma das principais tendências das semanas de moda internacionais. “Amei que o branco veio com tudo! Uso muito”, destacou.
Enquanto Paulo Borges, a cabeça pensante por trás do show inédito, repassava as coordenadas para as tops, Isabeli Fontana destacou a importância do Elle Fashion Preview no cenário fashion. “Estamos sempre nessa eterna criação para a renovação da moda no geral. Então, queremos ser impactantes. Um evento desse porte, em um aeroporto conceituado, leva a moda a lugares fenomenais e isso é algo único. Nunca ninguém desfilou aqui, é uma criação de Paulo Borges. Vai chamar bastante atenção e esse é o intuito. Queremos mostrar que a moda está sempre prevalecendo. Todo mundo ama, toda mulher, os artistas. Isso que estamos fazendo é arte, afinal”, disse.
Carol Ribeiro, que roubou a cena ao desfilar para a Balmain na Paris Fashion Week após 12 anos longe das temporadas internacionais, ressaltou que estar na passarela do Elle Fashion Preview é algo único, mas confessou que também adoraria assistir ao show. “A experiência da pista do aeroporto é inédita. A produção está trabalhando muito, tem tanta regra, mas vai ser incrível, estou só imaginando a vista. A minha vontade era estar na primeira fila e vendo tudo”, declarou ela, que definiu seu estilo como clássico. Perguntada sobre o recente trabalho na Balmain, ela fez um balanço do meio atualmente. “Foi legal me recolocar nesse lugar, mas a moda mudou muito. Vi como está funcionando e é bem diferente da minha época. Foi um presente, uma surpresa e eu ainda abri o desfile. Mas é algo pontual para mim. As meninas, o jeito de lidar com o business, tudo mudou demais”, analisou.
Carol Trentini estava bem atenta às explicações de Paulo Borges e justificou: “Tem que se concentrar para não errar, porque é bem complicado”. Ela, que tem anos de experiência, declarou a felicidade em desfilar no evento. “É um estímulo para a moda do Brasil, ainda mais com gente tão importante. Já fiz parte do Elle Fashion Preview uma vez, eu estava grávida, foi muito legal. Estou feliz demais de estar aqui de novo, vai ser um grande evento. É incrível desfilar nessa pista, nunca fiz nada nem parecido. Uma vez eu até saí de um avião em um desfile da Chanel, mas não era uma pista nem nada, aqui é tudo grandioso demais”, elogiou, endossada pela amiga Aline Weber: “É a primeira vez que eu faço isso, dá um nervosismo maior. É uma novidade para todas as meninas que estão aqui e dá um friozinho na barriga bem interessante. Óbvio que há o medo de errar, mas já vi o desenho da passarela, a explicação. Não ensaiamos antes do desfile, mas estou segura”, garantiu. Na opinião de Aline, a moda carioca já decolou faz tempo. “Não falta nada, amo a pegada praia, o crochê, a leveza”, disse ela, que, no dia a dia, costuma misturar o estilo rock ‘n roll com uma pegada hippie.
Laís Ribeiro, que alcançou o posto de angel da Victoria’s Secret, contou que a sensação de desfilar em casa é única. “Sempre que posso volto ao Brasil. É o lugar onde meus amigos estão e também onde comecei. Sinto menos pressão, porque sou muito bem acolhida”, disse ela, que acredita veementemente na moda do Rio de Janeiro. “Olha esse desfile maravilhoso. Nós temos muitos talentos e só precisamos de investimento e acreditar no povo brasileiro”, falou.
Daiane Conterato, que brilhou no Minas Trend na semana passada, foi mais uma que destacou a recepção calorosa do povo brasileiro. “Amo desfilar em casa, estou até passando mais tempo aqui. Conhecemos todo mundo, é uma relação de família deliciosa”, disse, endossada por Fabiana Milazzo, que ainda lamentou a falta do Fashion Rio nessa temporada. “Trabalhar aqui é maravilhoso, fiquei triste sem o Fashion Rio, porque amávamos desfilar para os cariocas. Amo a cidade e as marcas”, declarou ela, ansiosa para cruzar a pista de pouso e decolagem em seu primeiro desfile no Brasil após o nascimento do filho. “É uma passarela longa e logo que descemos do avião tem um canhão de luz no rosto. Só enxergamos do chão, então a produção contou os passos que temos que dar”, explicou. Perguntada qual a tendência que mais gostou nos desfiles internacionais, Fabiana confessou a preferência por Nova York. “É mais meu estilo, bem cool e descontraído, menos arrumadinho. Amei DKNY e Calvin Klein e acho que o branco vai pegar”, apostou.
Luciana Curtis também está no time das que apostam na cor. “Adoro, sempre usei e acho que já pegou, todo mundo está aderindo”, disse ela, que acredita que a moda carioca define a mulher brasileira. “O Rio de Janeiro é muito importante no mundo, é o cartão-postal do Brasil. As tendências daqui tem tudo a ver com a mulher sexy, que se cuida”, analisou. A expectativa de cruzar uma passarela inédita, de acordo com ela, desperta uma ansiedade necessária. “Achei a ideia muito legal, é a passarela mais longa da minha vida. Tem que dar aquele nervosinho, se não perde a graça. Quando gostamos do nosso trabalho ficamos tensas porque queremos fazê-lo bem. Esse aeroporto é lindo, pena que não dá para ver tanto a vista à noite”, disse.
Marcelle Bittar concorda e confessou que adoraria estar na primeira fila para admirar a beleza do show e da vista – claro, com atenção. “Quando estamos na passarela não temos noção da proporção. Adoraria assistir esse desfile, seria divertido. Quando estou na plateia reparo em tudo, sei o que os outros estão passando”, contou. Para ela, desfilar em seu país é uma oportunidade de reencontrar os amigos. “Acaba sendo o momento de colocar o papo em dia, já que a vida é sempre tão agitada. Estamos bem ansiosas, porque a passarela é gigantesca, tudo fora dos padrões normais. Mas é um desafio empolgante, porque estamos acostumados com o de sempre”, contou. Seu look preferido? “Calça jeans preta, camiseta e sapato oxford. É perfeito para qualquer lugar e ocasião. Me vestiria assim todos os dias, até por que sou tímida e não gosto de chamar atenção”, confessou.
Presença poderosa no backstage: Lenny Niemeyer chegou roubando a cena (Foto: AgNews)
Assim como todas, Alicia Kuczman também estava ansiosa, mas confessou um detalhe em especial que a faz tremer. “O salto, né. Tem que prestar bastante atenção. Mas é uma experiência indescritível, que envolve tanta gente. É algo que nunca imaginei na vida”, falou.
Se todas estavam tensas, não teve quem fizesse feio na passarela, vamos aos fatos.
O desfile
A música ao vivo e o jogo de luzes no espaço aberto já dava aos convidados uma noção do que estava por vir. A plateia recheada de celebs, como Cláudia Leitte, Bruna Marquezine, Adriane Galisteu, Yasmin Brunet, Preta Gil, Monica Iozzi, Sophia Abrahão, Carol Castro, Ludmilla e muitos outros, só tinham olhos para o avião estrategicamente posicionado no começo da passarela, de onde as modelos saíram exibindo looks que prometem fazer a cabeça das mais antenadas no Outono-Inverno 2016.
Ellus
Carol Trentini abriu os trabalhos com maestria, como não poderia deixar de ser. A marca trouxe uma coleção inspirada no Arizona e um ar folk. Franjas, tons de vermelho e preto, estampas de bandana e botas de saltos bloco foram a aposta da marca. As peças eram utilitárias, com muitos bolsos e zíperes.
Alexandre Herchcovitch
O estilista, que acaba de lançar um livro que contempla sua vida e carreira, apostou em muito brilho e texturas metalizadas. Destaque especial para as peças animal print de paetês. Geanine Marques, musa e presença indispensável nos desfiles de Alexandre, surgiu na passarela com sua chancela ao desfilar, sempre.
Lenny Niemeyer
Os célebres maiôs com pegada resort chique que podem ser usados em qualquer lugar no mundo e já se firmaram como objeto de desejo apareceram em tons terrosos, versões com estamparia e mangas longas. A mulher Lenny está sempre com salto 15, seja no pós-praia ou qualquer ocasião. Shorts de cintura alta, macacões que acentuam as curvas femininas, assimetrias e tecidos fluidos também tiveram lugar na passarela. A estilista, que, durante conversa no backstage, reafirmou o orgulho que tem de ser brasileira, relembrou outro desfile icônico ao ar livre. “Todas as coleções que faço acabam sendo novas e me encantam, mas a comemoração dos meus 25 anos de moda na Lagoa Rodrigo de Freitas foi incrível”, destacou Lenny, que acredita que a moda brasileira conquistou seu espaço internacionalmente. “As marcas cada vez mais se firmam em seus segmentos. Hoje em dia, temos o lugar de formadores de opinião lá fora. É importante e cada vez mais o povo respeita as criações locais. Estamos em um caminho positivo e para frente. Eu acredito muito no Brasil e na moda brasileira e tenho orgulho de ter meu lugar aqui”, afirmou.
Gloria Coelho
O minimalismo que já é identidade da estilista continuou firme e forte nesse desfile. Destaque para o preto e muito couro. Franjas, jaquetas, cintura marcada, hot pants e coletes de pele sintética também apareceram nos looks. A mulher Gloria Coelho é chique, prezando sempre pelo conforto. Detalhes metalizados davam o toque futurista.
Patrícia Viera
Nossa dama do couro apostou em jaquetas com cintura marcada e saias cortadas a laser. O material com o qual Patrícia tem tanta intimidade apareceu em formatos diferentes, como estrelas e tiras. “Nessa coleção fomos para o deserto do Atacama e foi muito bacana. O lugar é único, parece que estamos na lua, há um respeito enorme pelo planeta, que é intocavel. Águas borbulhando, fervendo, a imensidão, o céu azul e a aridez mexeram muito com a gente”, contou a estilista. Super no clima da aviação, as modelos usavam toucas estilo caps. Marcelle Bittar surgiu deslumbrante em um longo negro com transparências e aplicações que davam a sensação de pele de cobra colada ao couro. “Como faço muito manual, fábrica e indústria e tenho essa opção forte da alta costura, tudo isso somado aos 20 anos de Company de streetwear batem no liquidificador”, explicou Patrícia, adiantando que, enquanto no Elle Fashion Preview os tons sóbrios dominaram as peças, em São Paulo os coloridos virão para se juntar à coleção. Para ela, a moda brasileira evoluiu muito em poucos anos. “Hoje, somos estilistas mais confiantes e até pela comunicação rápida, mais observados. Fizemos um movimento ótimo de maturidade aliada à tecnologia. Pedimos respeito, ficamos sérios”, analisou.
Osklen
Aline Weber abriu o desfile de vestido e sobretudo que adiantou o que estava por vir: muito veludo e tons sóbrios como preto, chumbo, bordô e mostarda. Mais adianta, vestidos com pantalona por baixo, macacões com calças amplas e claras referências aos anos 70. Luciana Curtis surgiu linda a bordo de um longo de fenda e estampa de bolhas e um sobretudo preto de veludo.
Iódice
O inverno de Valdemar Iódice vem com frescor de tecidos finos, vestidos com fenda, mistura de listras com renda e seda. Carol Ribeiro, super querida por todos no backstage por ter arrasado no desfile da Balmain, em Paris, cruzou a passarela da Iódice a bordo de tons neutros. Nos pés, as modelos usavam sapatos abotinados e vernizados de salto bloco. Na primeira fila, Adriana Galisteu prestigiou o sogro ao lado do marido, Alexandre Iódice.
Água de Coco
Se Carol Trentini abriu os trabalhos pela Ellus, Isabeli Fontana fechou na Água de Coco. Na passarela, tons terrosos, estampas de girafas e zebras, maiôs com decotes nas costas e mangas longas, hot pants, shorts caramelo e tops tomara que caia. A pantalona cropped estampada apareceu como saída de praia e os saltos de cor tartaruga também marcaram a coleção.
O show
Ao final dos desfiles, os quase 2 mil convidados comemoraram em um show super animado de Anitta, que, em seu setlist, cantou clássicos da carreira e o novo sucesso “Bang”, do qual ela falou com exclusividade para o site HT aqui. Depois, o animado after party teve set exclusivo dos DJS belgas Richard Colburn & Chris Geddes e da dupla escocesa Belle and Sebastian e não deixou ninguém parado.
Como o show tem que continuar, às 6h, a pista já estava completamente limpa para a próxima decolagem.
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