Em seu segundo filme, Camila Márdila brilha pelo talento aliado aos pés no chão e diz: “O longa ‘Que horas ela volta?’ levanta importantes questões”


A brasiliense de 26 anos garante que as premiações e a possível indicação ao Oscar não a deslumbram. “Não fizemos pensando nisso, mas, a partir do momento que chegam, é um aval do trabalho pensado e realizado em conjunto”, afirma

foto-1252015-191448-Menina-de-filmeCamila Márdila tem 26 anos, é brasiliense, e, ao lado de Regina Casé, protagoniza o premiado “Que horas ela volta?”. Durante a pré-estreia do filme, terça-feira, Camila esteve no Cinépolis Lagoon e conversou com HT sobre todo o processo de construção de sua personagem, Jéssica, uma menina pernambucana que vê a mãe se mudar para São Paulo para trabalhar como babá de Fabinho (Michel Joelsas), um menino que tem quase a sua idade. “Eu e a Regina tivemos que construir uma relação baseada em um passado inteiro de saudade, mágoa e afastamento”, contou a atriz.

Ao longo da passagem de tempo, a personagem Jéssica cresce e a relação com a mãe – que nunca voltou ao Nordeste, fica complicada com o afastamento. As atrizes, que não se conheciam, aproveitaram a falta de intimidade para construir a história de suas personagens. “Usamos isso a favor do filme, já que a Jéssica e a Val estão afastadas há muito tempo. A Anna (Muylaert, diretora e roteirista do filme) colocou um pano preto entre nós duas antes de a gente se conhecer e fez um roteiro de ligações telefônicas. Então, a gente construiu um passado muito bacana desde a Jéssica criança, perguntando quando a mãe volta, até a adolescência e a juventude, quando ela fica magoada, desinteressada”, explicou a atriz, que, em seu segundo longa (o primeiro foi O outro lado do paraíso), não se deslumbra com prêmios e uma possível indicação ao Oscar – o maior prêmio do cinema internacional.

Camila e Regina Casé em cena de "Que Horas Ela Volta?"

Camila e Regina Casé em cena de “Que Horas Ela Volta?”

“Desde que filmamos, nós tínhamos certeza de um trabalho muito bom nas mãos. Não fizemos pensando nos prêmios, mas, a partir do momento que eles são conquistados, é como se fosse um aval de que conseguimos chegar ao lugar que queríamos. É muito legal que tenha acontecido, porque, agora, o filme estreia no Brasil com a expectativa bacana”, disse, ansiosa, elegendo ainda uma cena favorita entre tantas. “A cena mais emocionante foi quando a Jéssica contou um segredo pessoal dela para a mãe. É o que marca o grande encontro das duas, a primeira vez que elas se veem claramente, se olham nos olhos, se emocionam juntas. Exigiu muita concentração para chegarmos a essa emoção tão importante”.

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Camila Márdila contou que, ao longo de todo o processo de filmagem, sentiu-se segura e à vontade para improvisar nas cenas. “Nós, do elenco, conversamos muito com a Anna. Ela tem muita propriedade para falar de cada cena, por onde a gente precisava passar, que emoções deveríamos alcançar. Então, nós podíamos criar a partir disso, como ela gosta que seja”, explicou. A jovem não era a primeira opção da diretora Anna Muylaert para o papel, já que o roteiro descrevia a personagem como uma mulata pernambucana, mas ela foi tão bem nos testes que conquistou seu espaço. “No final deu tudo certo”, riu Camila, que se mudou do Rio de Janeiro, onde morava há dois anos, para São Paulo.

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As atrizes estavam ansiosas para assistir ao filme nos telões brasileiros (Foto: AgNews)

Desde cedo a brasiliense estudou teatro em oficinas e, mais tarde, cursou publicidade na UnB ao mesmo tempo que frequentava a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Foi ao trabalhar com produção que ela se apaixonou por cinema. Pelos papéis no longa, Camila e Regina Casé dividiram o prêmio de melhor atriz em filme estrangeiro no Festival de Sundance, um dos mais prestigiados do mundo.

O filme, que já gerou muitas discussões no exterior, chega ao seu país de origem acendendo uma luz na discussão sobre o papel das empregadas domésticas. Camila acredita que quando a história entrar nas salas de cinema brasileiras, a reflexão será ainda mais intensa. “Podemos ver a figura da babá, da empregada doméstica como um catalizador de muitas questões sociais e políticas que se concentram nessa mulher que cuida da casa. É um trabalho, mas ao mesmo tempo há uma relação afetiva que se confunde nesse espaço. O filme fala muito dessa questão do ‘quase da família’, que é um grande problema que a gente vive hoje em dia, de como fazer essa separação. Deve-se valorizar o trabalho da doméstica como um emprego”, opinou a atriz, que tem diarista em casa. “Não é que a trabalhadora doméstica não possa ter uma relação afetiva com a família com quem trabalha, mas ainda vivemos socialmente uma desvalorização dessa atividade, que é quase maternal”, opinou a atriz. Esperamos vê-la brilhando muito pelos telões mundo afora.