*Por Brunna Condini
Estamos na semana que lança luz para o Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no país e enfatizando a urgência de continuarmos denunciando todo tipo de violência, um crime que destrói e marca vidas para sempre. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), diariamente cerca de 80 crianças e adolescentes sofrem algum tipo de abuso ou violência. A data é importante para marcar uma luta que, na verdade, deve ser diária para a proteção de quem só deveria ser acolhido. O silêncio não ajuda. É preciso falar, denunciar, compartilhar vivências como desabafo e alerta.
Alguns artistas aproveitaram a visibilidade em suas redes sociais para falar do tema, como a atriz Jéssica Ellen, mãe do pequeno Máli, de 5 meses, fruto do seu casamento com o também ator Dan Ferreira. “É muito importante que a gente cuide das nossas crianças, estejamos atentas. E que as escutemos e validemos suas vozes. Infelizmente esse é um tipo de crime muito comum em nosso país, que acontece o tempo todo, e 90% dos casos acontecem dentro de casa, com parentes, vizinhos, amigos da família. A partir do momento que me tornei mãe, esse assunto ficou ainda mais latente em mim. Então, estou vindo aqui fazer esse alerta , dizer que é muito importante que a gente formalize as denúncias. Muitos casos acontecem e ninguém fica sabendo, porque não tiveram um registro oficial. Peço que quem se sentir à vontade. Protejam suas crianças”.
E outras artistas, corajosamente, já relataram abusos sofridos neste período da vida para conscientizar outras pessoas. Porque a violência não se apaga, mas a fala pode libertar e criar uma rede de amor potente neste compartilhamento que até se torna escudo para outras, outros. Ao revisitarem suas próprias histórias, elas possibilitam que quem foi vítima do mesmo tipo de violência, reconheça.
Jessica Ellen faz alerta no Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (Foto: Sergio Zalis)
Xuxa falou pela primeira vez sobre os abusos sofridos ao ‘Fantástico’, no quadro ‘O que Vi da Vida’, em 2012. E depois, em 2019, em uma revista, a apresentadora tocou no assunto novamente, relatando que o primeiro abuso aconteceu na casa da família: “Por que fui a escolhida? Não sei, mas me lembro de um cheiro de álcool de alguém, uma barba que machucou o meu rosto e algo que foi colocado na minha boca. Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e meus irmãos disseram que eu tinha sonhado. Essa foi minha primeira experiência com abuso sexual”, contou, também recordando um o episódio com um professor que se masturbou diante dela: “O ouvi gemer e depois se limpar”.
Ela contou ainda que foi atacada dentro de casa, por um amigo do pai. “Ele colocou suas mãos por debaixo da minha camiseta, eu estava de biquíni e tentou me beijar. Lembro que chovia e eu saí correndo pela rua, chorava muito, peguei um punhado de areia e passava no meu corpo para limpar toda sujeira que estava impregnada há anos. Até hoje tomo de três a quatro banhos por dia. Sempre achei que era eu que estava fazendo alguma coisa. Ou era minha roupa ou era o que eu fazia que chamava a atenção. Eu tinha vergonha, me calava, me sentia suja, errada. E se eu não tivesse uma mãe, se eu não tivesse o amor dela, eu teria ido embora”, desabafou ao ‘Fantástico’.
Xuxa Já relatou ter sofridos alguns abusos na infância e adolescência (Reprodução/ Globo)
Gabriela Priolli revelou em entrevista ao jornal O Globo que sofreu abuso sexual aos 7 anos de idade através de um adolescente que frequentava sua casa. “Ele era mais velho que eu e tocava minhas partes íntimas. Não contei para ninguém na época, achava que era uma brincadeira. Só comecei a ver que havia um problema quando percebi que essa era uma memória que me causava muito incômodo. É como se você tivesse menos valor. Pois você não entende direito o que aconteceu e em alguma medida pensa que, por não ter contado para ninguém, ou resistido com firmeza, a culpa é sua. Mas não é, você era uma criança. É um assunto que eu ainda trabalho em terapia e tem que trabalhar mesmo. Estou fazendo as pazes com as minhas dores”, dividiu a apresentadora. do ‘Saia Justa’, do GNT.
A apresentadora Gabriela Priolli recordou em entrevista o abuso sofrido aos 7 anos (Divulgação/ GNT)
Em entrevista à emissora portuguesa SIC no início de 2022, Luana Piovani contou que foi abusada sexualmente aos 8 anos por um vizinho. Na época, não entendia que precisava pedir socorro à mãe, mas acreditava que algo estava errado. “Foi na minha infância em Jaboticabal. É um assunto que ainda hoje tenho dificuldade de falar. Também tenho dificuldade de falar de sexo com os meus filhos, apesar de já ter iniciado por conta da minha lembrança. Pelos dados que temos, sabemos que grande parte das crianças acaba sendo molestada por pessoas muito próximas da família. Foi isso que aconteceu comigo”.
Luana Piovani também compartilhou o fato de ter sido molestada na infância (Foto: Reprodução/ Instagram)
Luiza Brunet já expôs em algumas entrevistas os abusos que sofreu quando tinha 13 anos. “Depois que comecei a falar, me senti mais leve. Vejo que agora as meninas estão se encorajando a denunciar”, disse ela, que contou ter sido violentada por um vizinho quando saiu de Mato Grosso do Sul para trabalhar como empregada doméstica em uma casa no subúrbio do Rio de Janeiro. “Ele sabia quando eu ficava sozinha em casa, entrava e ia direto onde eu dormia. Não consigo e nem quero lembrar o que ele falava, mas me encostava na parede e eu ficava imóvel. Isso me trouxe dores profundas e muito medo”, lembrou Luiza, que é uma das embaixadoras do movimento #AgoraVcSabe, do Instituto Liberta, que dá voz às vítimas de violência sexual na infância e na adolescência, e promove um levante virtual para falar sobre um problema que diz respeito a 75% dos casos de violência sexual no país, cometidos contra crianças e adolescentes, a partir do relato de vítimas adultas.
Luiza Brunet já contou ter sofrido violência sexual, e fez protesto na Marquês de Sapucaí durante o Carnaval deste ano (Foto: Luciana Tecidio / gshow)
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