Em papo com HT sobre a mulher contemporânea, Marisa Orth diz: “Poliamor e o lesbianismo recreativo dão uma dissolvida nas fantasias românticas”


A atriz, que vive uma personagem que leva um fora do amante no musical “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, ainda falou: “Eu já sofri, sim, por amor. Acho que algumas mais do que eu, porque tive longos casamentos, estou em uma relação há sete anos, mais velha, aprendi um pouco”

Marisa Orth vive uma mulher abandonada pelo amante no musical “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, que chega ao Rio de Janeiro no Teatro Oi Casa Grande. A personagem, Pepa, que leva um fora do grande amor de sua vida por secretária eletrônica, porém, não é amargurada como se espera e o drama chega a ser cômico. Assim é também Marisa na vida. Transformando tudo em risadas, ela garante: prefere ser mulher em quantas encarnações existirem. Apesar disso, a atriz sabe: “Se algum dia pretendemos ter a igualdade entre os sexos é preciso que não se ensine só pra um dos sexos a fantasia romântica, porque para os homens se é ensinado a usar o sexo como moeda de troca enquanto nós, mulheres, esperamos o entrelaçamento’”. Aliás, essa fala é emprestada da história do musical, inspirada na obra de Pedro Almodóvar. Marisa assina embaixo: “Repito sempre, porque concordo muito. É como se fossemos lançadas ao mercado atrás de príncipes encantados mas ninguém avisou aos meninos que eles precisam ser os príncipes encantados, então a gente vai procurar uma coisa que não tem”, analisa.

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Marisa Orth vive Pepa nos palcos (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Mãe de menino, ela garante: tenta ensinar ao filho a ser esse príncipe. “Quase rogo maldição de ‘se você tratar mal mulheres isso volta para você’ (risos). Nem sei se é verdade, mas é uma certa lei do carma que eu gostaria mesmo que fosse verdade. Que acontecesse isso com homem canalha. Mas tento ensinar meu filho a ser legal, um cara sincero”, diz ela que, criando um menino, aprendeu muito dos “bastidores” masculinos. “Sou mãe de menino, né, então vejo o ‘making-of’ de um homem e tenho uma vontade de avisar para as meninas tipo ‘garotas, ele não está pensando tudo isso que vocês pensam que ele está pensando’, porque a gente fica viajando. Eu viajava desde os 12, achava que eles eram mais articulados e ligados do que realmente são”, entrega.

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Juan Alba e Marisa Orth são Ivan e Pepa em “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Apesar de encenar uma peça de 1980, Marisa Orth acredita veementemente que pouca coisa mudou de lá para cá. “Profissionalmente mudamos bastante, mas em relação aos homens nós, mulheres, não mudamos nada. As pessoas se identificam muito na platéia. Tem risada identificativa e sempre alguém dá um grito, tipo ‘não acredito’”, conta. Mas será mesmo que não existem mulheres menos princesas em pleno 2016, Marisa? “Até tem, mas me arrisco dizer que poucas. A liberdade sexual aumentou, mas tem umas fantasias românticas que continuam. Só que o poliamor e o lesbianismo recreativo dão uma dissolvida nelas. Mas acho, ainda assim, que a estrutura se mantém”, opina ela, que arrisca: “Acho que a mudança pode vir mais dos homens, eles podem se assumir mais românticos”.

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Marisa em cena na peça de Pedro Almodóvar com direção de Miguel Falabella (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Como Pepa, Marisa sofre e mostra o auge da sensibilidade feminina no palco. E na vida? A intérprete já sofreu muito por amor? “Que mulher nunca? Eu já sofri, sim, por amor. Acho que algumas mais do que eu, porque tive longos casamentos, estou em uma relação há sete anos, mais velha, aprendi um pouco”, brinca ela, que está prestes a encarnar outra mulher poderosa: dessa vez na televisão, em “Haja coração”, remake de “Sassaricando” e próxima novela das 19hs. “É um texto que fala de liberação feminina também. Minha personagem é uma mãe de quatro filhos, feirante, que o marido sumiu. É batalhadora, abriu barraca e criou os quatro e continua guerreira, vaidosa, bonitona… mulher é fogo né? Se desdobra em 1400s”, analisa ela, que faz questão de ressaltar: “Pode dizer aí que eu continuo muito fã das mulheres. Não sou daquelas que na próxima encarnação quer vir homem não. Acho incrível ser mulher. Muito mais animado!”, garante. Sendo Marisa, a gente concorda e assina embaixo.