*Por Pedro Willmersdorf
Trata-se de uma armadilha cruelmente democrática: ao lançar um álbum elogiadíssimo pela crítica e adorado pelo público (tanto fãs de longa data quanto novatos na idolatria), corre-se o risco de haver, no capítulo seguinte ao êxito, a exigência generalizada pela manutenção da excelência. Infelizmente, os britânicos do Metronomy se tornaram vítimas de tal arapuca.
“Love Letters”, álbum lançado no início de 2014, foi o carro-chefe do show da banda, dia 20, no Circo Voador. No entanto, se mostrou visível a falta de força do trabalho em meio a pérolas também executadas na noite, tanto de “Nights Out” (2008), melhor CD do grupo, quanto de “The English Riviera” (2011), mais popular e pop álbum de sua carreira. Inegável que todos os pontos altos da apresentação do Metronomy ocorreram em faixas dos dois trabalhos anteriores, como “Holiday” (música de abertura), “Heartbreaker”, “A Thing For Me”, “The Bay”, “Everything Goes My Way”, “Radio Ladio”, “The Look”, “Corinne” e a deliciosa “Some Written”.
Em meio a esse desfile de hits, bons momentos, do último CD, como “I’m Aquarius” e “Reservoir”, ficaram diluídos, espalhados em meio a um set poderoso e não exibiram a energia que poderia surgir de versos tão frescos nos ouvidos do público. Até mesmo o bis ignorou “Love Letters: Love Underlined” (The English Riviera)” e “You Could Easily Have Me” (“Pip Paine”, de 2006, disco de estreia da banda) fecharam a noite.
Ao longo de todo o show, com duração de quase 90 minutos, na mente de várias pessoas que estavam na plateia com certeza veio à tona a passagem da banda por aqui em 2011, no auge da popularidade com “The English Riviera”. Naquela ocasião, não fosse pelo público extremamente mal educado que ocupou o Circo Voador em uma noite de setembro, o Metronomy poderia ter feito história (lembram do Franz Ferdinand de 2006?). Semana passada, em mais uma oportunidade, Joseph Mount, Oscar Cash, Gbenga Adelekan e Anna Prior, apesar de todo o carisma latente e conquistador aliado ao esmero técnico já conhecido (com direito a rodízio de instrumentos), novamente não conseguiram o feito quase alcançado há três anos.
Dessa vez, não por conta de alguns “perdidos” do lado de cá, mas pela escolha quase grosseira feita pela trupe ao “esconder” seu filho caçula sob as asas de seus grandes hits, apequenando suas últimas criações. Tal estratégia denotou duas consequências antagônicas, ao fim da apresentação: não houve chance de alguém sair do Circo Voador sem ter a certeza de que “Nights Out” e “The English Riviera” são grandes obras, mas também convencido de que “Love Letters”, apesar de flertar com o eletrônico casual do início da carreira do Metronomy, trata-se apenas de um álbum mediano com (raros) espasmos de brilhantismo.
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