*Por Brunna Condini
Linda, leve e livre. Foi bem neste mood que Luana Piovani deu entrevista para o site, direto de Portugal. Aos 47 anos, recém-comemorados, ela identifica a chegada da plenitude. Vilã na novela portuguesa ‘Sangue oculto’, transmitida pela emissora SIC (com direito à morte na trama esta semana), a atriz também está na quinta temporada da série lusa ‘O Clube’; além de de pilotar a segunda temporada do programa ‘Luana é de Lua’, já no terceiro episódio no canal E!. A atriz também está toda-toda, porque agora é garota-propaganda de um perfume que celebra o prazer feminino (Her Code, de O Boticário), e conseguiu patrocínio para o seu projeto de stand up biográfico-musical. Ela ainda está às voltas com o projeto de escrever uma biografia…quer mais? Ela também. “Tenho muitos planos e coisas pra fazer ainda, mas me sinto plena. Acho que minha maior angústia está prestes a ser sanada, que era o meu litígio com o meu ex-marido (o surfista Pedro Scooby, pai de seus três filhos, Dom, 11, Liz e Bem, 8). Conseguimos chegar a uma mediação positiva para os dois. Agora estamos fazendo a parte da conciliação, que significa judicializar o que foi conversado”, revela Luana.
“Fora isso, o que sinto são angústias do dia a dia de uma mulher independente, mãe de três filhos, correndo atrás do seu. Também estou sem trabalho no momento, na entressafra. Mas isso é uma coisa que nunca me angustia, porque confio muito em Deus e na vida, e também confio que sou um ‘produto’ bom, e que daqui a pouco alguém vai querer/precisar. Trabalho porque não tenho fonte de renda, só ganho quando estou em atividade. Mas como nosso tempo não é o da vida, estou aqui ‘mexendo o meu docinho’ para o meu stand up sair com galhardia. Se Deus quiser, em maio do ano que vem. Primeiro por aqui, em Portugal, e depois quem sabe levar para o Brasil”.
Luana afirma que os 47 anos foram muito bem vividos até aqui e revela o desejo de escrever uma biografia. “Estou louca para fazer. Queria escrever o primeiro ato até os 50 e, depois, o segundo ato. Mas não tenho dinheiro para dar um adiantamento para um escritor fazer, porque é um trabalho fenomenal. Cinquenta anos vividos como eu, estamos falando pelo menos do equivalente a uns 85 (risos). Então, quem vai escrever vai trabalhar aí pelo menos um ano, mas não tenho como investir nisso agora”.
Sou uma artista autônoma mesmo. Não vivo de publicidade, de contrato com grandes empresas de monopólio. Levo uma vida confortável, mas não posso me dar determinados luxos como pagar para alguém escrever minha biografia, adoraria. Preciso que alguém invista para acontecer – Luana Piovani
Ainda sobre uma possível narrativa da sua vida, ela visualiza: “Quero falar de tudo e ir pelo começo. Eu, uma menina saindo de Jaboticabal (interior do estado de São Paulo) muito crua, chegando na grande São Paulo e tendo acesso a uma realidade muito diferente da minha. De maiores possibilidades financeiras, de todas as opções do mundo social oferecidas, e de como existe um lugar da boa criação e da boa intuição que acabam fazendo tudo dar certo. Porque comecei muito nova, poderia ter dado tudo errado comigo, poderia ter feito escolhas muito ruins. E todas elas foram apresentadas para mim. Mas graças à educação da minha mãe e à minha intuição, fiz as escolhas certas”.
E não se esquiva de falar também dos arrependimentos. “Os tenho, claro, mas aprendi a me perdoar há muitos anos. Me beijo, me adoro, me cuido. Tenho uma tatuagem na minha coluna que diz: ‘Tudo o que tenho está em mim’. É um outro nível de consciência. Não temos nada na vida que não esse corpinho nosso. Meus filhos não são meus, as minhas propriedades não são minhas, minhas felicidades não são minhas. De meu, só meu instante e meu corpo. Então acho que isso ajuda no entendimento desse autoperdão”, analisa.
Sei que fiz o que podia fazer até aqui. Além disso, minhas pisadas de bola foram até tranquilas, nunca prejudiquei realmente ninguém, então está tudo certo – Luana Piovani
Polêmica ou polemizada?
Ela não tem ‘papas na língua’ e não se melindra em se posicionar. Pelo contrário. Sempre que possível faz uso da sua visibilidade para levantar discussões ou chamar atenção para temas que acredite ser relevantes. Por que acha que consideram suas opiniões quase sempre polêmicas? “Porque tem muita gente ignorante dando palco para otários que viram ‘ídolos’. As pessoas precisam parar de fazer imbecis famosos. A gente é praticamente ‘dono’ da internet no planeta, só que não temos acesso honesto à cultura e educação. Então, somos um povo de muito fácil manipulação. Quem manda ainda são as cabeças que desejam que o rebanho pense como elas querem… Aí é óbvio, quando tem uma mulher que se posiciona como homem na sociedade, não é bem vista. Porque os homens ainda querem ser os donos da situação no mundo em que vivemos”, pontua.
Recentemente Luana criticou em seu Instagram o tema ‘A Dona Aranha‘ em música da cantora Luísa Sonza. Na ocasião, a atriz publicou nos stories trecho do clipe da canção, com a legenda: “O que você faria se pegasse seu(ua) filho(a) ouvindo isso? Tenho ojeriza de quem gosta desse som – sim, porque música, para mim, é outra coisa”, postou. Sua opinião viralizou rapidamente pelos sites, o que acha disso? “É mesmo? Que bom! Estou correndo tanto que nem vi. Mas fico muito contente, porque as pessoas precisam parar para pensar. Ali eu disse exatamente o que eu queria dizer: acho um absurdo, tenho ojeriza a quem consome, quem dá palco e a quem faz. Porque é uma ‘cadeia alimentar’, um não existe sem o outro. E não é nada pessoal com ela, até porque estamos em um momento de compaixão. Meu pai do Céu, quantas escolhas erradas seguidas, mamma mia. Passasse uma semana comigo lá em casa eu dava um jeito, mas tudo bem (risos). Falo dela no caso desta música e de todas as pessoas que fazem isso. Deveriam ter leis, pagar multa, cair a música do Spotfy… de todas as plataformas”, se indigna.
Da mesma forma que tem aquela fotinho lá do feto apodrecido no maço de cigarro, deveria ter a foto de uma criança que tenha sofrido abuso antes de uma música dessas – Luana Piovani
E completa sobre o assunto: “Sempre tive a preocupação com o que os meus filhos consomem. Fui uma criança abusada, sei do que estou falando. Já dancei ‘na boquinha da garrafa’, mas isso com 17 anos. Quando eu era da idade dos meus filhos, não ficava rebolando na frente da câmera, estava brincando de ‘passa o anel’, ‘pique esconde’. Meus filhos também brincam. Mas só eu sei e tantas outras mães, o quanto a gente sofre com o inimigo dentro de casa, fantasiado de ovelha.
A internet, as redes sociais nas mãos de crianças, nada mais são do que um lobo mau fantasiado de ovelha. E as pessoas não entendem isso – Luana Piovani
Degustação biográfica e sonhos
Sobre o stand up ela adianta. “Esse projeto é pela primeira vez completamente pessoal e um texto meu. Vou contar histórias, passagens da minha vida, que serão costuradas com canções. É entretenimento, porém como tudo na minha vida, tem um quê do público sair com algo dentro para pensar a respeito. Até porque a vida é questionamento, e um stand up nada mais é que o dia a dia de um artista, trocando com seu público de forma bem-humorada. Pelo menos é assim que eu vejo. É uma degustação de passagens da minha biografia”, divide.
Luana também revela um sonho: “É ter um espaço de encontro, onde pudéssemos ter várias vertentes femininas. Uma loja de biquínis e lingeries, uma sala para fazermos ‘Oráculos’ semanais, projeto social que idealizei e gostaria de fazer outras edições apoiadas por alguma empresa. Também adoraria que nesta casa tivesse um bar, para encontrar os amigos, onde se pudesse comprar um presente especial. E poderia ser ainda um lugar para leitura de textos, recitais de poesias, novas composições. O nome desse bar seria ‘Motel’, adoro a ideia de falar: “Comprei seu presente no motel” ou “Vamos encontrar lá no motel?’. Ter um espaço assim de troca seria incrível”.
A maternidade hoje
Na mediação que fiz para acabar com o litígio com o pai dos meus filhos, a mediadora, que é uma psicanalista, falou um pouco sobre essa coisa da criança exposta na internet. E me bateu um ‘sino’. Como eu e Pedro divergimos sobre as questões da internet, me bateu um alarme, Deus me jogou uma luz e eu falei: “E se a gente não postar mais as crianças na internet? Porque daí não temos mais divergência. Cara, foi a melhor coisa que fizemos. E você percebe que mesmo assim ainda consegue dividir suas emoções com eles, sem usar a imagem pra isso – Luana Piovani
Ainda sobre os anseios e preocupações da maternidade, ela conclui: “São aquelas angústias de mãe, de querer o melhor para os filhos, pensando se estou cedendo demais, sendo rígida demais…é sempre muito difícil, porque fico sozinha com eles e completamente exausta, com medo de estar sendo muito dura, porque estou exausta, e ao mesmo tempo sendo permissiva pelo mesmo motivo. Mas são angústias de mãe, como diz a mediadora, está precificado”.
Sempre tive a preocupação com o que os meus filhos consomem. Fui uma criança abusada, sei do que estou falando – Luana Piovani
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