Charlie Brown Jr. já dizia na letra de uma música que ‘para quem tem pensamento forte, o impossível é só questão de opinião’. Já Marcelo Serrado provou isso na prática. O ator descobriu a profissão por acaso, mas transformou seu ofício em um campo de batalha. Sua mais recente empreitada? O papel de um homem bem machista e que vai causar polêmica no novo folhetim das 9, O Sétimo Guardião. E entre um set de gravações e outro, ele atendeu ao pedido do site HT para ser o personagem principal de um editorial fotografado no Rio Othon Palace. Com beleza de Stephanie Farah, cliques de Pedro Garrido e styling de A-produção, o artista além de posar para as fotos, falou sobre seu envolvimento com política, preocupação com a segurança dos filhos, haters da internet, homofobia e muito mais. Vem com a gente!
Para entender o privilégio que é desfrutar do tempo de Marcelo Serrado, sente só o grau de ocupação do ator em 2018: duas novelas, Pega Pega, escrito por Claudia Souto, e O Sétimo Guardião, de Aguinaldo Silva, e ainda marcou presença em seis longas, como Albatroz, dirigido por Daniel Augusto, Crô em Família, de Cininha de Paula, e Chacrinha – o Velho Guerreiro, de Andrucha Waddington. Além disso, apresentou o programa de reality e decoração da GNT, Reforma Para Dois, ao lado de Mariana Santos. O ator também apostou nos seriados ao atuar em Sob Pressão, de Andrucha Waddington, e em Amores Roubados. Este último é uma das portas do ator para a internacionalização de sua carreira. Apesar de ter sido produzido pela Globo, o produto audiovisual foi comprado pela rede de televisão latina Telemundo. O seriado foi refilmado em espanhol e contou com a presença de atores do Peru, Porto Rico e Colômbia. “Gosto de trabalhar e, ao mesmo tempo, preciso, porque vivo disto. As pessoas estão demonizando os atores achando que nós vivemos através de regalias do governo, mas não sabem do que estão falando. Eu necessito fazer teatro, série e cinema, porque recebo o meu salário assim. Ao mesmo tempo, já me apresentei gratuitamente para ONGs. Vivo da minha arte”, afirmou o artista.
Em O Sétimo Guardião, ele interpreta o Nicolau, marido de Carolina Dieckmann e pai de quatro filhos, três meninas e um menino, com o qual tem uma grande divergência devido ao sonho de se tornar dançarino. “Nicolau possui este discurso, infelizmente comum, da homofobia. Ao mesmo tempo em que ama os filhos, é rude com eles e, inclusive, ameaça bater no rapaz caso prossiga com a carreira de dançarino. É um cara machista e misógino, ao ponto de criticar o fato das mulheres trabalharem na sociedade atual. Manda a esposa transar com ele com a justificativa de querer fazer um filho homem, ‘porque o meu nasceu com defeito’. O papel é muito real e bem forte”, salientou.
Do preconceito à pluralidade. O ator também está em cartaz nos cinemas com um personagem completamente diferente ao que vive agora. No longa dirigido por Cininha de Paula, Marcelo interpreta o famoso Crô, papel que conquistou o grande público tendo saído das telinhas para ganhar as telonas. “Todo ator sonha em fazer um personagem que atinja o público, deixando a figura do artista de lado para ser esta outra pessoa. Sou muito grato pelas oportunidades que tive graças ao Crô”, comemorou. Crô em Família já é o segundo longa-metragem no qual o artista vive este figuraça. De acordo com o artista, ele esperava números ainda mais pujantes, mas a faixa atual de espectadores não deixa de ser satisfatória. “Acho que estamos batendo uma boa marca para a atual conjuntura, afinal, o Brasil está em crise e todo gasto acaba sendo relevante. O longa está fazendo um caminho honesto dentro do que ele se propõe”, analisou.
A pluralidade da carreira de Marcelo Serrado é seu maior trunfo. O ator consegue facilmente ir do choro ao riso, entregando personagens com inclinação tanto para o drama quanto para a comédia. “Eu fiz sucesso com o meu personagem na Record que era hétero, machista e bem maluco. A partir daí, o Aguinaldo Silva me convidou para fazer o Crô. Muita gente achava que não conseguiria fazer. Devo muito a ele”, afirmou. E ele entregou mesmo. Não é por acaso que o papel já rendeu tantos desdobramentos.
Além da atuação, Marcelo se destaca, também, no cenário de produção no Brasil. Até o momento, ele já produziu cerca de sete peças de teatro como Tom & Vinícius – O Musical, Os Vilões de Shakespeare e, inclusive, ATORmentado, monólogo idealizado pelo próprio Marcelo que o levou a viajar por vários lugares do país. “Como produtor, sou um cara que realizo. Gosto de tocar projetos autorais e pessoais”, garantiu. O ator também já trabalhou na direção de cinco peças, mas garantiu não ter vontade nenhuma de retornar para esta área. “Me achei péssimo. Acredito que mandei muito mal em um espetáculo que fiz, por isto parei”, contou.
Toda esta trajetória marcada começou nos palcos do Tablado. O ano era 1984. O ator, na época, tinha uma banda de rock, mas viu no teatro uma forma de lidar com a timidez e a gagueira. A atuação o deixou mais solto, mas também revelou uma paixão que ele nem ao menos imaginava. “Ser ator não era um desejo meu. Acabei indo na onda, na verdade. Acho muito importante usar o teatro como alicerce para ajudar quem é muito tímido. Realmente foi fundamental para mim e acabei me apaixonando”, contou. O menino músico se tornou um artista de alta qualidade. Desbravou a TV logo cedo, começando na Manchete a chegando à Globo. Chegou a trabalhar com o talentoso e controverso Zé Celso no Teatro Oficina, em São Paulo. “Esta foi uma grande virada da minha carreira, porque percebi que poderia experimentar e errar. Foi importante para virar uma chave do ofício, no qual o percebi menos formal. Existe uma loucura importante”, salientou.
Com uma renomada e sólida carreira no meio artístico, Marcelo já atuou em cerca de 42 programas de televisão, 21 filmes e 28 peças de teatro. Visando a expansão cada vez mais deste número, nem cogita se afastar dos holofotes, mesmo com todos os problemas que o universo das artes está enfrentando atualmente. “O mercado está crescendo demais, mas a competição é grande. Não dá para ser mais ou menos. Mesmo eu já tendo uma carreira sólida, preciso entregar muito bem os meus protagonistas. É possível viver de arte no país, mas é necessário ter sorte. Este, na verdade, é um elemento essencial na vida de qualquer artista. Graças a Deus, consegui ter este privilégio. Eu estava preparado quando surgiu a oportunidade. Não existe milagre, não adianta ficar esperando em casa o telefone tocar. Temos que correr atrás. Sorte e benção”, afirmou. O ator acredita, inclusive, que esta pitada de sorte tem muito a ver também com a religião e o destino. Ele adiantou ser uma pessoa religiosa e a prova disto são os textos que compartilha nas redes sociais com citações de santos como São Francisco.
Marcelo Serrado está cada vez mais engajado politicamente. Antes das eleições, o ator chegou a fazer uma reunião em sua casa com a presença do deputado Marcelo Freixo. O encontro tinha o objetivo de fomentar a criação de uma bancada cultural no governo. “Existe a do armamento e dos ruralistas, várias… Chegou a hora de ter uma que represente a essência do brasileiro através da cultura. A minha energia está voltada para isto”, afirmou. Ao seu lado, está contando com a ajuda de atores, como Odilon Wagner, e de políticos, como a deputada federal Jandira Feghali, o diplomata e agora deputado Marcelo Calero e o deputado federal Alessandro Molon. “O povo está criticando muito os artistas, mas acho importantíssimo se informar sobre isto. Nós, atores, geramos muitos empregos. Somos uma indústria e o Brasil é muito grande. Trabalhamos muito e não nos aproveitamos da Lei Rouanet”, adiantou. Para Marcelo, é fundamental que o povo continue renovando os políticos que estão no Senado e na Câmara dos Deputados visando trazer mais pluralidade e novas vozes.
Além de manter os olhos abertos para o desenrolar da política brasileira, o ator também se preocupa com a segurança do país. Atualmente, Marcelo está criando dois filhos Felipe e Guilherme, ambos de 5 anos, no Rio de Janeiro. O artista comentou se preocupar constantemente com a segurança dos pequenos. “Passei um tempo morando em São Paulo e fiquei com vontade de me mudar. Não consigo andar às 2h da manhã sozinho nas ruas do Leblon e de Ipanema. Ando tenso. De certa maneira, eu tinha uma tranquilidade maior nas ruas paulistanas. Se nós sofremos um assalto, atualmente, servimos unicamente para entrar na estatística”, lamentou.
Da mesma forma como expôs a sua opinião na entrevista para o site HT, Marcelo Serrado também gosta de falar aquilo que pensa nas redes sociais, mas já adiantou logo que não tem nenhuma paciência para os famosos haters. “Gosto de postar todos os dias alguma coisa, pois é uma maneira das pessoas continuarem acompanhando o meu trabalho. Quando vejo alguma crítica, procuro não responder. Sinceramente, sou pai de família e tenho muitos projetos para tocar, não tenho tempo. A internet realmente deu voz aos idiotas, tem muita gente que se esconde através da tela do computador. Não perco o meu tempo. Às vezes, quero discutir com alguém sobre a Lei Rouanet e ela não sabe nem a Lei Áurea. Não dá”, garantiu.
Marcelo é um homem de princípios. Basta conversar um pouco com ele para entender que é um cara que batalha por aquilo que acredita. “Aprendi a ser quem sou com a minha família e a educação que tive com o meu pai e a minha mãe. Eles podem ter uma opinião totalmente contrária a minha, mas nunca apontarei um dedo para eles”, afirmou. O ator veio de uma família de classe média. Apesar de sempre ter tido tudo aquilo que precisava para sobreviver, não vive à custa de ninguém e busca passar toda a sua garra e perseverança para os seus filhos. “Tento fazer a minha parte. Estipulo horários dentro de casa, tendo tempo de estudar e para brincar. Tento ler um livro com eles e sentamos à mesa para jantar”, contou. Além de Felipe e Guilherme, o artista também é pai de Catarina, que mora em São Paulo com a mãe.
Além da arte, uma das coisas que mais lhe dá prazer é passar um tempo com os seus filhos. “Sou um cara muito família. Amo estar com os meus amigos e praticar esportes como tênis e surf. Também tenho os meus momentos de música, nos quais toco piano em casa”, contou. Apesar de ainda cultivar o gosto pelo universo musical, o artista garantiu que preferiu deixar o seu passado com a banda no passado. No entanto, ainda procura explorar esta vertente para ajudá-lo na atuação de filmes e musicais que possuam alguma trilha sonora. Mas tudo ao seu tempo, mesmo que tudo ao mesmo tempo e agora. “ Vou tentando encaixar tudo, mas pretendo descansar por dois meses ao final de O Sétimo Guardião para voltar pesado à rotina”, finalizou.
Equipe:
Fotos: Pedro Garrido
Grooming: Stephanie Farah
Styling: A-Produção
Assistente de fotografia: Bruno Seta
Agradecimentos:
Rio Othon Palace
Piny Montoro
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