Em dias de feijoadas momescas, chef Luciana Plaas decreta: “Recém-formado metido a estrela pendura o avental em três meses!”


Entre bolonhesas e rabadas, HT conversa com a responsável pela Casa Vieira Souto que é contra frescurites na cozinha e condena a glamorização descabida do ofício, apostando na simplicidade aliada ao bom gosto!

Em dias de carnaval, quando a sofisticação gastronômica precisa encontrar válvula de escape junto à praticidade das operações de guerrilha culinária – para os camarotes na avenida e os restaurantes da cidade poderem dar vazão à demanda inflada –, HT bate um papo esperto com Luciana Plaas, a jovem chef da recém-reformada Casa Vieira Souto, em Ipanema. A moça, que estudou e morou em Londres, tendo se formado pela Leiths School of Food and Wine, é contra o processo de “emperequetação da postura de um chef de cuisine” (conforme ela mesma afirma) e decreta que o cozinheiro estelar está com os dias contados: “Essa turma recém-formada que acha que cozinhar é coisa de estrela da TV não vai durar muito tempo. Aliás, bastam três meses de labuta por trás de um restaurante para o cara desistir ou cair na real. É só a casa começar a dar um movimentinho extra grande, tipo carnaval, e o cozinheiro ter que ir para pia ajudar a lavar prato para dar vazão ao fluxo, que o nariz empoado vai para o espaço. Tenho dois meninos que vieram da Estácio estão aqui e eles estão segurando uma bela onda!”

Luciana Plaas: apesar do sobrenome gringo e de ter estudado em Londres, chef aposta a simplicidade das receitas da vovó (Foto: Divulgação)

Luciana Plaas: apesar do sobrenome gringo e de ter estudado em Londres, chef aposta a simplicidade das receitas da vovó (Foto: Divulgação)

Luciana vai além: “Esse pessoal novato é como aquela galera que se forma em escolas de moda e acha que vai sentar na primeira fila dos desfiles, com óculos escuros de grife e fazendo carão. Isso não existe. Antes vai grudar muita fita crepe em solado de sandália para não marcar quando a modelo anda”, ela ri, reforçando a comparação: “Não existe glam na cozinha. Se existe glamour, é no resultado do prato, e mesmo assim isso acaba na primeira garfada do cliente, quando, na hora de comer, ele desmancha aquela arrumação bonitinha que chegou para ele na mesa. No máximo são esculturas voláteis, meu bem. Ainda bem que existem selfies para registrar”, se diverte a moça.

À frente da Casa Vieira Souto, o restaurante na orla de Ipanema que acaba de ser reestruturado com maquiagem esperta da arquiteta Bel Lobo, Luciana faz coro com Alexandre Lalas, que comanda o segundo andar da casa, um wine club. Para Alexandre, o importante é se sentir bem: “A gente queria quebrar essa relação sisuda restauranteur e cliente. Investimos na dupla anfitrião-convidado, muito mais sincera, mais verdadeira, sem frescuras. Aliás, acho esse papo de experts em vinho levantando sobrancelha uma chatice. A melhor coisa, que é saborear, acaba indo para o espaço com essa verve empostada”. De fato, a casa tem uma carta de vinhos e champanhes da melhor qualidade, nem sempre aqueles mais badalados, mas certamente produtos do primeiro time, pois Alexandre curte também alguns produtores que remam contra a maré, mas que conseguem oferecer vinhos geniais em sua simplicidade.

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Entra em cena portanto um espaço gastronômico simples, mas cheio de bossa, que continua tendo o suporte do veterano Claudio Mendonça, na casa desde o início. Luciana aposta nos pratos autorais, mas não abre mão daquilo que ela chama de cozinha caseira: “É meio como comer na casa da vovó. Sabe aquele desenho animado da Pixar, “Ratatouille”, em que o crítico de gastronomia redescobre a infância perdida na hora de experimentar um prato simples, mas sensacional, criado pelo ratinho cozinheiro? É meio isso!”

Da cozinha saem sugestões bacanas, a preços honestíssimos, como o gravlax de salmão com aneto, creme azedo e torradas de foccacia (R$ 35) ou o tira-gosto das linguicinhas com melaço e gergelim (R$ 23), de viciar. Mas surge também uma rabada desfilada com polenta de trigo de targana e agrião (R$ 59), um picadinhos (R$ 42, sempre ele!), a moqueca baiana de peixe do dia (R$ 52) e ainda o bacalhau com húmus e tapenade (R$ 69), favorito de HT.

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Nas sobremesas, o cheesecake de goiaba (R$ 23) é divino, assim como a salada de frutas boleadas com lichia e flor de laranjeita (R$ 15), mas HT vai na onda simplista da casa e elege o pudim de leite com favas de baunilha (R$ 15) como imperdível.

Pudim de leite com favas de baunilha: resgate da culinária da vovó, mas com visual charmosíssimo de restaurante chique (Foto: Divulgação)

Pudim de leite com favas de baunilha: resgate da culinária da vovó, mas com visual charmosíssimo de restaurante chique (Foto: Divulgação)

Serviço:
Avenida Vieira Souto, 234, Ipanema. Tel.: 2267-9282/2267-0468. 70 lugares.

De terça à sexta-feira, de 19h à meia-noite; sábado, de 12h à 1h; e domingo, de 12h às 18h. Fecha às segundas.

CC todos. Manobrista.www.casavieirasouto.com.br