*Com Bell Magalhães
Depois do sucesso de audiência, o Teatro Claro Rio, em Copacabana, apresenta a segunda temporada do projeto ‘Novos Caminhos’, gravado no palco do teatro e transmitido ao público pelo canal no YouTube do teatro e para os assinantes da Claro TV no canal 500. Durante três dias, o apresentador Frederico Reder media a conversa que tem como objetivo inspirar e realizar uma reflexão sobre novos caminhos e a busca da felicidade e renda revertida em prol do Retiro dos Artistas. No primeiro encontro, Zezé Motta e Elba Ramalho discutiram sobre ‘As Conquistas do Poder Feminino’, tema do programa.
Após ‘Gostoso Demais’ na voz de Elba, a conversa se iniciou com a temática das mudanças e realizações e a cantora teceu elogios à amiga atriz, que a acolheu no período em que chegou ao Rio de Janeiro nos anos 70. Na fala, disse que as mudanças foram essenciais para que se tornasse quem é hoje. “Quando cheguei ao Rio, dormi na praia e passei fome. Zezé Motta me acolheu. Caminhei e atravessei o rio a seco, mas acho que isso me fez muito forte. Desde então, não sou a mesma mulher, a mesma mãe ou a mesma cantora que eu era. Vamos juntando experiência e ficando cada vez menos ansiosa com os desafios da vida. Nunca imaginei que chegaria onde cheguei. Foram lutas fortes, principalmente essa que estamos vivendo hoje. A persistência é muito importante”, comentou Elba.
Ao ser perguntada por Frederico sobre quais eram as conquistas femininas que achava mais importantes, Zezé ressaltou o direito ao voto, garantido no Código Eleitoral no ano de 1932 e presente na Constituição desde 1934. “Foi uma conquista para todas e foi o primeiro passo. Hoje, apesar de ainda termos algumas frustrações, as mulheres conseguiram ocupar vários espaços. Vemos que cada setor ou departamento de uma empresa é cada vez mais ocupado por mulheres. Tenho muita alegria de ver um set de filmagem com mais de 50% de mulheres ou uma divisão igualitária de cargos”, disse.
As oportunidades também são conquistas. A atriz fala sobre como uma bolsa de estudos mudou a sua vida durante a passagem pelo curso de Maria Clara Machado n’O Tablado: “Tive o privilégio de estudar com Maria Clara Machado. Como as coisas deram certo para mim, fiquei preocupada com os poucos negros com o espaço em cena, fora a questão social”. Por esse motivo, criou o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan), um curso de artes dramáticas em comunidades carentes fomentado pela iniciativa do projeto de Ruth Cardoso (1930-2008), que lhe rendeu a indicação ao Prêmio Nobel da Paz coletivo em 2005. “Demos o curso no Cantagalo, Andaraí, Chapéu-Mangueira e outras comunidades. Quando vou ao cinema ou ao teatro, sempre me emociono. Alexandre Rodrigues, que foi o Buscapé em ‘Cidade de Deus’ (2002), se formou na primeira turma do meu curso. Foram 12 anos de projeto até acabarem com o patrocínio”.
Por ambas as convidadas serem ativas nas redes sociais, não demorou para que o tópico da conversa se tornasse o ‘cancelamento’, ou ‘cultura do cancelamento’, que é o hábito de excluir uma pessoa ou um grupo, geralmente famosos ou influenciadores, por conta de atitudes consideradas questionáveis pelos usuários da web. Sobre o assunto, Zezé afirmou que ‘em todos os movimentos têm umas ‘cabecinhas’ mais estreitas’, e diz que alguns debates que surgem na sociedade são ‘absurdos’: “A discussão entre chamar de ‘negra’ e ‘preta’ é um absurdo que não leva a lugar algum. Não ligo de ser chamada de um ou de outro, só não gosto de ser chamada de parda, que é o que está no meu registro de nascimento (risos). Acho que é uma conversa de pessoas que não têm o que fazer”.
Sobre os movimentos das redes sociais, Elba relembrou o caso de Juliette Freire, vencedora do Big Brother Brasil 21 e que foi vítima de xenofobia dentro e fora do programa. “Sou paraibana. Sei como é passar pela rua e ser xingada e ofendida. A Juliette sofreu muito no BBB e foi muito bom entrar nessa discussão em um programa em TV aberta. Dessa forma, mais pessoas são educadas a não repetir pensamentos xenófobos e podem ver o quanto isso é errado e desumano”. Sobre o uso da própria naturalidade como um termo pejorativo, a cantora é direta: “Me chame de paraíba, porque é o que eu sou. Quanto mais regional, mais universal. Se sou chamada para cantar em outros países, é porque canto forró”, afirmou.
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