* Por Carlos Lima Costa
Após integrar o elenco de José do Egito, A Terra Prometida, Jezabel e Gênesis, tramas bíblicas da Record TV, o ator Edu Porto atualmente está no elenco da série Reis, onde interpretou o vilão Finéias, na primeira fase, e se prepara para retornar na quinta fase da produção, como Abiatar, servo de Samuel, bisneto do personagem que deu vida no início da trama. Mas, além do entretenimento, ele considera importante usar a arte com temas sociais. Ao término do atual trabalho, planeja retornar ao teatro com o espetáculo Era Só Por Uma Noite – Guerra Doce, escrito, produzido e encenado por ele, que aborda um casal com o vírus HIV.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 1º de dezembro de 2021, Dia Mundial de Luta Contra a Aids, somente no ano passado, 45 mil pessoas iniciaram a terapia antirretroviral e 694 mil pessoas estavam em tratamento contra o HIV, no Brasil. De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids de 2021, 20.917 novos casos foram notificados no país, com uma queda de 20% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, não se pode deixar de lado a gravidade da doença, para a qual, apesar dos esforços, não existe vacina.
Edu explica que existe um certo estranhamento das pessoas, quando descobrem que esse projeto teatral foi levantado por ele. “Querendo ou não as pessoas falam: ‘Um rapaz jovem escrever um texto denso, que fala de HIV na década de 90. Qual o estímulo, por quê?’. É um espetáculo de utilidade pública. Apesar de ser apaixonado por comédia e de ter feito muitos espetáculos desse gênero, creio na função de responsabilidade social do teatro, que ajuda a modificar a vida das pessoas. Esse foi um dos estímulos”, explica o ator, que vai completar 38 anos, em novembro.
Edu já apresentou a peça, no Rio. Quando planejava rodar o Brasil com o espetáculo, não pôde por conta da pandemia da Covid-19. E agora, se prepara para voltar com mudanças. A ideia do espetáculo surgiu após uma conversa informal. “Tenho uma amiga que tinha um amigo gay que contou a história dele. Fui pra casa com aquilo na cabeça. Era uma história sobre a vida de um casal que contrai o HIV, um acha que um passou para o outro. Esse foi o meu gatilho, levei seis meses para desenvolver a peça. Fiz um estudo bem elaborado sobre como as pessoas enxergavam o vírus a partir da década de 80/90. Havia muito preconceito. Muitas pessoas tinham medo de ficar próximas dos soropositivos”, relata. E completa: “A doença está aí””
Após as apresentações, recebia o público e ficávamos uma hora conversando. “Vinham pessoas mais velhas, novas, que nos falavam no canto do ouvido: ‘Meu irmão passou por isso’, ‘eu passei por isso’. Então, munidos de informações sobre a doença, ficávamos uma hora trocando figurinhas. Algumas choravam com a gente enquanto contavam histórias da vida delas, de um amigo, de um parente, do companheiro, da companheira, então, tinha esse feedback no final”, explica ele, que na TV, a única trama não bíblica da qual participou foi Malhação – Sonhos, como o bad boy Braun, lutador de muay thai, na Globo.
RESPEITO ÀS RELIGIÕES
Apesar de todas as tramas nas quais vem atuando, conhecendo mais a fundo as histórias da Bíblia, Edu não mudou a forma como encara a religião. “A maioria da nossa sociedade segue o catolicismo, então, frequentei a igreja, mas de uns tempos pra cá simpatizei com o espiritismo, que tem relação com a minha comunicação com Deus. É algo silencioso. Não frequento lugares, nem levanto bandeira para nenhum dos lados, digamos assim. Na minha cabeça, existe algo além da vida. Não tem como só morrer e acabar aqui. Acredito que estamos nesse mundo para uma evolução”, ressalta.
E reflete: “Nos dias de hoje, com tantas informações, a intolerância religiosa é algo que já tinha que estar superada. As pessoas deviam enxergar com respeito o que cada um quer seguir. Essa mistura de religião com política acredito que seja só no sentido de massa de manobra. Não tem que misturar. Utilizam a religião para ganhar votos ou algo parecido. São coisas antagônicas, que, de alguma maneira, estão tentando homogeneizar. Não sou a favor”, critica.
EMPREENDEDORISMO CONTRA INSTABILIDADE DA PROFISSÃO
Consciente da instabilidade da profissão do ator, Edu também é empresário, um empreendedor, para ter um dinheiro garantido todo mês. “Cada personagem que surgia, eu abria um negócio. A minha vida estava dessa maneira. Agora, dei uma segurada, para conseguir administrar tudo. A minha vida é uma loucura. Como, às vezes, preciso me ausentar, sempre tenho sócios”, conta ele, que, por exemplo, passou um mês fora, gravando José do Egito, no Deserto do Atacama, e com Jezabel, permaneceu um período no Marrocos. “Tenho muitas frentes de negócios, porque para ter um emprego só hoje em dia, a pessoa tem que ter coragem, ser bem remunerada, feliz no trabalho e tem que segurar, porque todo mundo está trabalhando com uma, duas, três coisas alternativas, aquela velha história de matar um leão por dia”, explica.
Essa mistura de religião com política acredito que seja só no sentido de massa de manobra. Não tem que misturar. Utilizam a religião para ganhar votos ou algo parecido – Edu Porto
Há cinco anos, por exemplo, Edu é dono do Sushi 7, delivery de comida japonesa, no Santo Cristo, onde em menos de um mês planeja abrir um espaço para receber as pessoas. “No início, um sushiman nos deu uma consultoria e eu coloquei a mão na massa em tudo, passei um mês abrindo peixe, fazendo Yakisoba, todos os produtos. Tive que aprender na marra”, lembra. Ele também tem uma marca própria de açaí, a Seven Açaí, comercializada em um trailer no mesmo bairro, onde, em breve, vai abrir um espaço para eventos. “Concentrei aqui, porque eu sempre emprego amigos de infância, colegas. Este é um bairro de comunidade, tem muita gente desempregada. Quero justamente fomentar o bairro onde nasci e fui criado”, acrescenta.
Ao contrário das crianças de hoje em dia que vivem envolvidas com eletrônicos, internet, Edu foi criado soltando pipa, no Santo Cristo. “Esse velho hábito de soltar pipa ou jogar bola na rua, naturalmente foi perdendo espaço para a tecnologia. Mas aqui no Santo Cristo, muita gente ainda solta pipa. Eu ajudo a ativar isso aqui. Pego um dia, compro cem pipas, dou linha pra molecada, para reativar essa questão, que está sendo bem aceita, mas a briga com a tecnologia é desleal. Uma época, estava tendo um jogo, o Free Fire, onde ninguém ia mais pra rua, ficava todo mundo com a cara no celular jogando, era uma febre. Até a galera mais velha jogava. Via cinco pessoas juntas na rua, com o celular na mão, jogando online contra a pessoa que estava ao lado dela, então, a tecnologia é um pouco assustadora nesse sentido”, reconhece.
Ser ator foi quase por acaso. Edu era professor de Educação Física. O dono de uma academia onde ele trabalhava como personal trainer, ia abrir outra unidade e o chamou para fazer uma publicidade. “Quando acabou, dez horas da noite, eu estava exausto, mas o dia tinha sido maravilhoso. A partir daí, comecei a fazer cursos de TV, de teatro, cinema aos domingos, único dia em que eu não trabalhava. Todo mundo indo à praia e eu estudando. Fiz cursos com Fátima Toledo, Antônio Amâncio, Daniel Hertz e comecei a participar de campanhas publicitárias, fui guardando dinheiro e pedindo demissão de algumas academias, liberando alunos de personal, até que chegou um momento que deixei de vez”, diz ele, que recentemente esteve em cartas noz cinemas com o filme Quatro Amigas Numa Fria, interpretando um stripper argentino, ao lado de nomes como Fernanda Paes Leme.
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