Quem esteve presente no desfile da Amapô – marca essencialmente paulistana – neste último dia de São Paulo Fashion Week (17/4), pode conferir o carioquérrimo funk de Valesca Popozuda dominando a área, invadindo a trilha sonora e sacudindo a animada plateia. De certa forma, um termômetro daquilo que aconteceu nessa edição comemorativa dos 20 anos do evento. Afinal, nunca as grifes do Rio participaram de forma tão avassaladora do evento, desde Osklen, Salinas, Sacada, Animale, Isabela Capeto e Patricia Viera até a fenomenal estreia de Lenny Niemeyer no line up da semana de moda, mostrando aquilo que a Cidade Maravilha faz de melhor: moda de primeira embalada por show de emocionar. Isso sem falar naquelas grifes que são sediadas fora do Rio, mas que se fizeram desfilando no Fashion Rio: TNG, Juliana Jabour e até Colcci por um bom tempo.
HT circulou pelos corredores da SPFW durante a semana colhendo opiniões, tal qual uma abelhinha coleta pólen, indo de flor em flor. Aliás, fina flor da moda. E perguntou: a moda carioca deve estar presente no evento? Devem existir duas semanas locais ou somente uma plataforma aglutinadora da moda nacional? De que forma? E quem está fazendo falta? Confira o que eles pensam sobre o assunto.
Mariana Weickert se criou e cresceu na SPFW. Hoje apresentadora do GNT, ela continua mantendo aquele ar de criança faceira que está descobrindo o mundo. E dá a opinião: “Ah, não curto bairrismos. No mundo atual, a ordem é somar para superar crises, dificuldades. Nada de moda carioca ou paulista. Moda nacional. As marcas do Rio são super bem vindas aqui, ué! Que venham mais!”
Voz da experiência, Gloria Kalil enxerga esse movimento como normal: “Sempre houve marcas do Rio desfilando aqui e marcas daqui desfilando lá. Isso é comum, é o fluxo da moda, e acontece também fora do Brasil. Então, vejo como algo absolutamente sincero e genuíno”.
Nascido na faixa de Gaza entre o Leme e Copacabana que os cariocas chamam de Lido, Zé Pedro se tornou figurinha emblemática da noite na primeira metade dos anos 1990 no finado Resumo da Ópera, casa noturna de Ricardo Amaral que se encarregou de lançar um panteão de criaturas fashion, como o próprio DJ e Felipe Veloso. De lá para cá, se mudou para São Paulo, conquistou a TV através de Adriane Galisteu, fez fama, jamais deitou na cama. E revolucionou o universo das trilhas sonoras nos desfiles, junto com Felipe Venâncio. “É fundamental unir forças e derrubar esses rótulos de Rio e São Paulo. A moda é brazuca, meu!”
Cada vez que surge em uma edição da SPFW, Marta Suplicy é como um Vesúvio prestes a expelir pura lava fashion. Afinal, ela considera importantíssimo fomentar a indústria da moda: “Esse segmento é gerador de riquezas e trabalho. Não estou tão profundamente a par da questão entre os eventos cariocas e paulistas, mas considero a turma de lá super bem vinda aqui!”
Beldade loura que animou os fashionistas dando o ar de sua graça neste SPFW – já que andou um tempinho sumida (ou desfilando menos pelo Brasil) – Barbara Berger prova que tem opinião e que aquele papo de que loura não pensa é balela de gente invejosa: “Em todos os países do mundo existe uma cidade-sede dos lançamentos da moda. Não existe, por exemplo, Milão Fashion Week e Roma Fashion Week. E, se for para ser São Paulo, óbvio que os cariocas devem desfilar aqui. Tem muita gente boa no Rio”.
Samuel Cirnansck ficou uma temporada de fora do evento e voltou nessa edição em grande estilo. Ciente dos custos de se por um desfile de pé, vê com ótimos olhos a companhia dos cariocas: “Uma semana de moda tem que ser plural e acho bem bacana a companhia de gente ótima que cria no Rio. E ainda tem a questão das verbas. Se um evento já é uma fortuna, imagina duas estruturas! Duas semanas saem caro e a união faz a força. A troca é boa e isso fortalece o todo”.
A dália negra Jéssica Córes é atriz, mas tem shape de modelo. Tanto que fez parte da trupe global de “Verdades Secretas” que circulou e desfilou na SPFW gravando cenas da próxima novela de Walcyr Carrasco. E, mesmo sem ter conhecimento profundo do assunto, a Lyris da nova atração deu seu parecer: “São Paulo tem dinheiro. Então acho ótimo as marcas do Rio virem ganhar dindim por aqui”.
Raphael Sander é modelo internacional e queridinho de gente como Giorgio Armani. Quem vê seu aspecto de Don Juan de Marco nem imagina o quanto fofo e doce é o mancebo. E, muito aventureiro no trabalho, mas nunca nas conquistas afetivas, o marido de Carol Castro agora começa a se lançar também como ator. Assim mesmo, sem medo de cair de cabeça. Como alguém que vive a vida com fidelidade ímpar, ele fala sobre o troca-troca das marcas pelas semanas de moda do Rio e SP: “Não vejo com maus olhos. Se o lançamentos está acontecendo em uma praça, é preciso mostrar o produto, todo mundo tem que faturar. É o ciclo da exposição. Mas é necessário mais do que nunca vender para manter a engrenagem funcionando”.
Adriane Galisteu brota moda pelos poros. Se alimenta do assunto, vive o assunto, se bobear se desmancha em seda e neoprene, tal o amor pelo assunto. E, casada com Alexandre Iódice, viu a marca do sogro e marido migrar de Sampa para o Rio e voltar à terra da garoa. Por isso, é objetiva, mas contundente: “Acho que isso sempre vai acontecer. Marcas daqui lá e grife de lá aqui. É cíclico. E entendo que São Paulo tem uma força grande, mas também vejo o Rio como um imenso cartão de visitas para quem olha lá de fora. Um assunto polêmico, ainda a ser muito averiguado, questionado, discutido”.
Jeíza Chiminazzo começou quase bebê no mundo da moda, estourando pré-adolescente no mercado. Agora com 30 anos, mostra que não é preciso espelho mágico, Creme Ponds, nem pacto com criaturas das trevas para manter a tez esticada feito lycra tensionada em tenda de circo. Com toda essa vivência de mercado, ela é sincera: “A crise na moda é global, sei disso porque moro e trabalho lá fora. Mais do que nunca é preciso por egos de lado e dar as mãos para trabalhar em conjunto”.
Herdeira da chiquitude da mãe, Costanza Pascolato, mas repleta de vida própria e de um dos sorrisos mais doces do mundinho fashion, Consuelo Blocker é firme em sua opinião: “Vejo como natural uma plataforma única de lançamentos de moda no país. E o Rio, que faz moda praia como ninguém e também dispõe de algumas marcas valiosas, pode e – deve! – estar presente aqui, claro! Existem outros eventos, como o Minas Trend, mas é preciso encará-lo como uma poderosa feira de negócios que também realiza desfiles das coleções comerciais de quem expõe por lá. Isso é outro assunto”.
Bamba absoluto do styling quando o tema é multiculturalidade, Paulo Martinez é cabeça pensante das mais interessantes no universo da moda. Ele vaticina: “Nada de moda paulista, carioca, recifense, manauara, potiguar, gaúcha ou de onde quer que seja. A moda é brasileira. Vamos pensar assim, respeitando particularidades locais, mas impulsionando o país, não é mesmo? Temos um Brasil incrível, gigante, enorme, com características regionais e isso pode ser incentivado na criação. Mas nos lançamentos, é preciso se unir”.
Editora de moda da Marie Claire, Larissa Lucchese enxerga de maneira cosmopolita esse fluxo: “Se temos um evento importante aqui, é crucial que grifes significativas com sede no Rio estejam mostrando o que fazem de melhor em São Paulo. Que venham mais! Torço por Blue Man e Mara Mac estarem aqui também!”
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