*Por Brunna Condini
Prestes a lançar um novo DVD em março, “É tempo de inovar”, Padre Reginaldo Manzotti, celebra seu trabalho de evangelização e as parcerias na música, como as que realizou neste trabalho, com Naiara Azevedo, o sertanejo Gustavo Mioto, e o encontro com o DJ Alok.
Ele conta que o single com o Alok, “Vou para o alvo”, foi lançado em janeiro, com o objetivo de atrair um público jovem para a igreja. “Trazer a inovação da batida eletrônica para o ritmo que eu quero cantar é um presente de Deus”, comemorou.
Essa parceria com o DJ Alok é um tanto inusitada, como surgiu? “Foi na escolha do repertório. Quando ouvi essa música logo pensei no Alok, e claro, sempre fui muito fã do trabalho dele, ouço muito suas músicas. O trabalho dele de levar dignidade humana as pessoas, levar paz e amor é muito edificante e as batidas eletrônicas do Dj Alok vieram somar ao trabalho de evangelização pela música e inovar”, diz, dando significado ao título do novo projeto.
Com 25 anos de sacerdócio, ele também é escritor, músico, compositor, cantor e apresentador de rádio e TV e se diz satisfeito de utilizar as mídias para atingir e inspirar cada vez mais pessoas. Sobre as críticas dos mais conservadores em relação às parcerias musicais, ele responde com naturalidade. “É preciso acabar com a visão equivocada que tem que ser um cristão triste. Papa Francisco tem mostrado que precisamos mudar, precisamos evangelizar de uma forma simples e acessível”, analisa. “Quando comecei a idealizar este novo projeto, meu objetivo era atingir aquele público que não está frequentemente nas missas. Por isso, um dos motivos para me unir às novas vozes é atrair o público jovem para a igreja, mostrando que dá para ser cristão e se divertir. Convidar o Dj Alok, a Naiara Azevedo e o Gustavo Mioto vêm de encontro a este objetivo: evangelizar com novos métodos para atingir novos corações”.
Qual é a principal mensagem que deseja passar com este DVD? “Este trabalho é um agradecimento a Deus que despertou minha vocação, pois acabo de completar 25 anos de sacerdócio. Principalmente pela vocação especial de evangelizar pelos meios de comunicação e, claro, pela música. Inovamos nos ritmos, nos arranjos, no repertorio, no cenário e na ambientação, mas principalmente, inovamos para atrair, nem que seja inicialmente por curiosidade, quem precisa ser evangelizado. Para tocar o coração de quem está sedento por Deus”.
Aos 51 anos, ele conta que a música faz parte da sua rotina, em ritmos bem variados, e não se priva, inclusive, de admitir que gosta de funk. “O que me atrai muito no funk são as batidas, o ritmo animado. Mas, infelizmente, as letras das músicas utilizam cada vez mais termos libidinosos. Então, por isso, acaba ficando fora da minha playlist”.
Que outros artistas na música escuta e é fã? “O Guns N’ Roses. Ainda no rock, eu também escuto muito o U2. Gosto do sertanejo, da sofrência e também tenho um grande interesse por música clássica, como Vivaldi e Beethoven”, revela.
Com 2,5 milhões de seguidores no Instagram, ele acredita na religião acompanhando seu tempo para comunicar e no alcance das redes para isso. “Os meios de comunicação são extremamente importantes para falar diretamente com as pessoas. Através do rádio falo para mais de 1600 pessoas todos os dias e entro na casa delas, na intimidade do lar, levando a Palavra de Deus e, por muitas vezes, o consolo, esperança e a força na superação de um problema que parecia não ter solução”, acredita. “As pessoas estão sedentas de Deus. Estão depressivas, pensam em suicídio, usam cada vez mais drogas, traem, enfim… o mundo está assim. E só Deus é a salvação de tudo. Levamos um conteúdo de evangelização gratuito para todos através do rádio, da TV e das redes sociais. Como já temos duas gerações que nasceram na era digital, busquei uma nova forma de me comunicar e utilizar essas ferramentas para evangelização. Eu relutei no início, mas entendi e aceitei que as redes sociais, sem dúvida, são os novos espaços a serem ocupados pela evangelização. A tecnologia é um caminho sem volta, avançando cada dia mais e mais. Então é preciso apresentar um conteúdo evangelizador, motivacional e ao mesmo tempo catequético”.
Como descobriu a sua vocação? “A tradição católica vem da minha família. Eu ia sempre à missa, participava do teatro infantil e do coral. Na catequese, sempre procurei participar ativamente, reunia todos para o teatro, onde encenamos a vida de Jesus Cristo. Com isso, fui criando o gosto pelas coisas da Igreja’, recorda. “Quando convivi com o padre da minha paróquia, Monsenhor Séttimo Giacobo, um excelente sacerdote, senti uma enorme admiração por ele, pois era um homem culto, pregava muito bem, com uma ótima oratória. Então, assim destacou para mim a figura de sacerdote como um exemplo a ser seguido e eu pensei: “Quero ser como esse homem”. E partir de então, unindo com a minha formação católica, tomei a decisão de entrar no seminário, aos 12 anos”.
O padre responde ao HT:
Tem medos? Com o que se preocupa?
“Sim, o medo é inerente a todas as pessoas e eu não sou exceção. Porém, não se trata de um medo patológico, mas sim de uma sensação que me faz agir com prudência. Sei da confiança que as pessoas depositam em mim, e isso às vezes assusta. Mas, ao mesmo tempo, me move a fazer o melhor possível”, admite. “Por estar à frente da “Associação Evangelizar é Preciso” e pela própria crise financeira que nosso país enfrenta, todos os meses temos a preocupação de honrar com nossos compromissos, preocupação com nosso quadro de funcionários, porque sei que muitas famílias dependem de nós. Preocupação em transpor obstáculos que surgem e avançar. O que também me preocupa muito é a violência. Os números divulgados pelos nossos representantes me assustam e me preocupam. Não podemos aceitar que a violência, a injustiça e até mesmo a morte façam parte da cultura do brasileiro. Precisamos criar uma cultura onde a paz e a justiça se abracem. E podemos começar com pequenas atitudes, principalmente através da educação oferecida às nossas crianças”.
Quais são os maiores desafios da sua atividade hoje?
“Sem dúvida, meu principal desafio é fazer com que mais pessoas conheçam e façam uma real experiência com a pessoa de Jesus Cristo. Por isso, consumo a minha vida na evangelização. O mundo hoje está carente de referências, de valores cristãos, como o amor, a paz, a fraternidade, o respeito e a justiça”
Se não fosse padre seria… “Não me vejo em outra profissão. Ser padre é uma grande dádiva de Deus e eu sinto que fui escolhido para esta missão”
O que ainda falta realizar?
“É ousado dizer, mas desejo muito gravar uma música com o rei Roberto Carlos”
O que não deveria ter acontecido na história da humanidade?
“Com certeza as grandes guerras tiraram milhares de vidas inocentes nos últimos séculos. Acredito que os dois acontecimentos devem ser utilizados como um lembrete para pôr fim aos tristes conflitos que ainda existem em diversas regiões do mundo”
Como encontrar a paz hoje?
“A oração é a melhor forma para você encontrar a tranquilidade e a paz interior. Quando você reza, você se aproxima de Deus. E, através da oração, você pode abrir seu coração e contar todos seus medos e inquietações a Deus e pedir sua ajuda. Com toda certeza, Deus responde às orações e oferece paz e conforto espiritual a quem o procura”.
Se pudesse mudar algo em você, o que seria?
“Estou em constante mudança. Busco sempre o crescimento espiritual, pessoal e emocional”
Melhor conselho que já ouviu e de quem?
“Recebi vários bons conselhos. Um que sigo até hoje recebi de Dom Frei Wilson Santini, quando eu ainda era seminarista me aconselhou a nunca ir dormir tarde, quando no dia seguinte tivesse que rezar missa cedo. Disse-me ele que fiéis merecem um padre descansado, não um padre desconcentrado, sonolento, bocejando durante a missa”.
Qual foi a maior extravagância que já fez na vida?
“Evangelizar através dos meios de comunicação, principalmente nas redes sociais. Sei que isso pode não ser considerado uma extravagância, mas eu relutei em acreditar no potencial destas plataformas”
Qual será sua próxima viagem e o que fará no destino?
“Em maio, vou realizar uma peregrinação pela Terra Santa e Itália. Durante a viagem, irei celebrar Pentecostes em locais Sagrados, como a Casa de São Pedro, que foi o local da multiplicação dos pães, e o Monte das Bem-Aventuranças. É um momento incrível de renovação espiritual e reavivamento da fé”
Muita gente precisa da sensação de felicidade como combustível para viver. Na sua opinião, como se permitir sentir dor e tocar a vida?
“Temos que perder o medo de desmoronar. É raro conhecer alguém que nunca se arrependeu, que nunca encarou a angústia depois de um erro ou nunca se sentiu em carne viva pelo remorso. Nós nos acostumamos com a rotina e com as nossas atitudes, muitas vezes erradas. Mas o que realmente nos desafia mentalmente, emocionalmente e fisicamente são as pedras pelo caminho. Devemos acreditar que coisas boas sempre acontecerão quando somos retos. Claro que obstáculos aparecerão, mas mantenha-se firme no seu propósito e reconheça que o mundo pode ser um lugar incrível de viver e que você é merecedor da felicidade”
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