A atriz Maria Ribeiro nunca escondeu sua forte oposição com relação ao machismo na sociedade. Em seus trabalhos, sempre procura levantar, de alguma forma, a bandeira feminista em defesa dos direitos das mulheres. Coroando este pensamento, foi mais do que óbvio a mesma ter sido escolhida para protagonizar o longa Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, que rendeu a ela o Kikito de Melhor Atriz. “Como Nossos Pais é o filme da minha vida, não sei se terei outra personagem tão maravilhosa como a Rosa. Sempre tive uma admiração muito grande pela Laís, queria muito trabalhar com ela e quando surgiu a oportunidade, agarrei com todas as forças. Gosto, também, de falar sobre relacionamentos em sociedade, por isso prefiro fazer cinema de autor, como é o caso desta produção, acho mais gostoso. Se algum dia eu tiver coragem de entrar na praia de escrever longas, vou por este caminho do pequeno drama”, afirmou a atriz.
Sua personagem é uma mulher que precisa desempenhar diferentes funções ao mesmo tempo como a de cuidar da casa, dos filhos, do marido, do emprego e da mãe. Sendo assim, a figura de Rosa representa algumas situações cotidianas que as pessoas do gênero feminino precisam lidar todos os dias. “Ela é mais uma. A Joana, moça que trabalha comigo, pega quatro conduções todos os dias, sendo duas horas para ir e mais duas para voltar. Está difícil para a Rosa, mas existem pessoas com um fardo ainda pior que não tem marido, uma escola forte e ninguém para ajudar”, lamentou Maria.
Ao contrário do que se possa pensar, este problema estrutural não está localizado apenas no Brasil. O longa já rodou alguns países do exterior e semelhanças não faltaram. “Achei que na Europa não fossemos chamar tanta atenção porque os caras chegam mais juntos. Porra nenhuma. As mulheres todas vinham falar comigo. Tanto em Paris quanto Berlim. É uma coisa que está no universo”, criticou.
No entanto, o filme não traz um homem desocupado que não ajuda com as tarefas domésticas. A atriz contracena com Paulo Vilhena que faz o papel de um pai dedicado e amoroso. “Sou apaixonada pelo Paulinho. Ele é o maior amigo que tenho, o cara mais franco que conheço, excelente amigo, simples e um ator absolutamente generoso. A verdade é que se faz de garotão para ser gentil e não parecer tão maravilhoso”, comentou sobre a parceria com o ator.
O filme grande vencedor de prêmios no Festival de Cinema de Gramado, rendeu a Maria seu primeiro prêmio como atriz por lá. “A primeira vez que vim a Gramado foi há 15 anos, eu estava grávida do meu primeiro filho e mostrei meu primeiro curta como diretora naquela edição de 30 anos. Tem um gosto muito especial mostrar este filme aqui”, relembrou.
Maria fala abertamente sobre o feminismo em diversos lugares. Através dos canais de comunicação, ela busca conscientizar as pessoas do que acredita ser certo. No entanto, a atriz garante que sua forma de falar é completamente natural, sem a intenção de ser apelativa. “A pessoa pode ser atriz e não se expressar politicamente, eu falo, porque para mim é natural. Não tem regra. Adoraria não ter esta vontade de falar tanto, mas tenho, é a minha natureza. Faço, porque sinto prazer e me faz bem, não é apenas uma forma que encontrei de deixar o mundo melhor para as próximas gerações. Por isso gosto de fazer cinema contemporâneo que fale sobre a nossa sociedade”, explicou.
O momento mais pontual de discussão sobre o tema foi no programa Saia Justa, do GNT, onde debatia constantemente com Barbara Gancia sobre questões femininas. No entanto, as debatedoras foram substituídas devido a rumores de uma suposta briga no início deste ano o que, para a atriz, foi algo mal esclarecido. “De fato, eu e Barbara tivemos um desentendimento, mas estávamos bem na semana seguinte. A briga entre mulheres é sempre colocada em evidência, isto nunca teria acontecido no Papo de Segunda com os homens. Quando fomos tiradas, a diretora me ligou dizendo que achava melhor nos trocar por outras, porque era normal as mulheres brigarem com as outras neste programa e isto podia atrapalhar. Mas eu também brigo com o meu marido, filho e amigos”, criticou a atriz sobre colocar mulheres contra as outras.
Atualmente existem várias vertentes do feminismo o que pode parecer confuso. No entanto, Maria garantiu que não existe um lado certo e errado já que o movimento foi se alterando e modificando ao longo dos dias. “Acho que não existe um feminismo porque é uma história que nasceu há muito tempo de mulheres que lutaram para votar. As pessoas falam que o movimento está muito radical, mas tem que ser assim no começo. Faz parte do processo, daqui a pouco acalma. Tem um excesso ou outro, mas faz parte. O chega de assédio e o mexeu com uma mexeu com todas foi muito inspirador para todas as atrizes e mulheres, espero que isto tenha, cada vez mais, uma repercussão maior”, afirmou. A forma que ela usa de se manter antenada no que está acontecendo é acompanhando alguns atores e atrizes. “Sou muito fã da Antonia Pellegrino que tem o blog Agora É Que São Elas na Folha de São Paulo. A Camila Pitanga que está sempre lutando pela mulher. Dira Paes que foi homenageada aqui no Festival. Gosto de dar valor aos homens que homenageiam as mulheres como Domingos Oliveira e Woody Allen”, selecionou. Viva, Maria!
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