De Dubai, estilista brasileiro veste poderosas sherazades em todos os Emirados!


Primavera árabe fashion: Vincenzo Visciglia e seu sócio Ahmad Ammar revolucionam as passarelas locais, vestindo as ricas com seda brasileira. Em entrevista exclusiva, o designer brazuca conta o que existe por debaixo do chador!

O arquiteto e designer brasileiro Vincenzo Visciglia é o queridinho da moda na terra dos califas. Formado pela Esmod Fashion School do Líbano, junto com seu sócio, o engenheiro civil Ahmad Ammar, ele abriu um sofisticado escritório de design sediado em Dubai, a AAVVA. Nesta garrafa fashion de “Jeannie é um Gênio”, os dois, que se conheceram nos Emirados Árabes há três anos, tocam um business que anda sacudindo a endinheirada comunidade local com seus looks refinados ou casuais com sofisticado acabamento. Sim, moda no golfo pérsico é negócio das Arábias.

As bilionárias da terra do petróleo que o digam. Neste último final de semana, por exemplo, a grife vestiu Rasha Al Danhan, importante celebridade local, premiada a mulher do ano pela segunda vez. A coisa é tão séria, que a bonita recebeu o Arab Woman Awards das mãos do próprio presidente e estava lá, toda bonita, vestindo AAVVA da cabeça aos pés para receber a láurea. A grife é super conhecida dentro do Oriente Médio por ser uma das empresas favoritas no seleto grupo de afortunados locais, e sua marca registrada é a forma como concilia tradição e modernidade. Pelo jeito, Lawrence da Arábia não foi o único enfant terrible por lá“Entrei no mundo da moda como modelo e me sinto à vontade para mostrar minhas próprias criações. Nos inspiramos em formas, arquitetura e cores para desenvolvermos nossos looks, criando roupas para uma mulher feminina, forte, independente, sexy, feliz e desafiadora,” explica Vincenzo, que faz questão de acentuar que o fato de ser um arquiteto brasileiro e seu sócio um engenheiro libanês permite uma diversidade cultural que agrada a gregas e troianas, ou melhor, a mulheres modernas e tradicionais. “Brasil e Oriente Médio se comunicam pelo apreço por cores e formas, ainda que de formas distintas, mas a exigência com qualidade e acabamento é igual em qualquer lugar”, completa.

Fotos: divulgação

Aliás, é essa heterogeneidade, mais a capacidade de equilibrar a estética, olhando para o futuro, mas respeitando as tradições, que tem levado a grife ao sucesso, apresentando sua primeira coleção no próximo Fashion Foward Dubai, agendado para abril de 2014. Por falar nisso, as semanas de moda por lá ainda são novidade, mas a proximidade da Península Arábica com a Europa faz com que o mulherio fique todo ouriçado com o assunto, até porque costumam viajar para fora, mandando ver nas compras, sempre em contato com os designers de Paris, Londres e Milão. “Aqui em Dubai está tudo muito atrasado ainda, o evento começou ano passado e, assim, as agências trazem modelos de fora. Mas já temos duas edições anuais do evento e estão todos correndo atrás para que o padrão venha a se tornar internacional”, afirma Vincenzo.

Enquanto o evento não vem, o estilista e seu partner, ansiosos, vão alinhavando pouco a pouco seu prestígio junto às bilionárias locais, literalmente costurando para fora, atendendo mães e filhas em todo o Oriente Médio. Sim, o negócio é haute couture e, por isso, não tem foco em faixa etária, com os rapazes se desdobrando para dar cabo de tanta solicitação. A dupla ressalta que, entre as consumidoras mais jovens, existe gente antenada, de diferentes tribos, e que eles procuram seguir as tendências de moda, mesmo com o fator da religião pesando. “Elas buscam a atualidade, não estão isoladas do mundo moderno. Viajam, compram fora e têm suas marcas favoritas. E, independente de idade, a única diferença entre as muito ricas e a classe média (que também tem alto poder aquisitivo) é o fato de que as primeiras usam alta costura o dia todo, da hora que acordam ao final do dia, sem medo nenhum de ostentar. Uma beleza”, confirma Vincenzo, enfatizando que só se preocupa em não ser over, mesmo desenvolvendo os aviamentos de forma personalizada e artesanal. Mas, será mesmo possível não carregar a mão em um trabalho como esse logo nas Arábias?

E, sobre a dificuldade de fazer seu trabalho em um lugar onde a moda está engatinhando de maneira profissional, já que tudo costumava vir de fora, sem poder contar com matérias-primas e tecnologias que seriam usuais nos Estados Unidos, Europa e até mesmo aqui no Brasil, ele acentua que compensa tudo com criatividade, focando na sua visão pessoal do mercado local. “Elas têm acesso ao melhor do mundo pelo dinheiro que dispõem, conhecendo os melhores criadores. Por isso, não me preocupo muito com críticas, faço meu trabalho e mando ver, sem dar pelota para comentários”.

Correndo atrás da qualidade, a dupla acaba de fechar parceria com a fiação de seda artesanal O Casulo Feliz, sediada em Maringá, no Paraná, que atende a gente bacana como Osklen, Vivienne Westwood, Hermès, Vanessa Montoro e Fernanda Yamamoto. Vincenzo ressalta o fato de que os eventos esportivos sediados no Brasil vão chamar atenção do mundo nos próximos quatro anos, inclusive dos árabes, que são fascinados por futebol. “Eles amam os times brasileiros e têm fascinação pelo Barcelona, lá na Europa. Por isso, brinco dizendo que levar a seda do Brasil para os Emirados é um gol de placa”. A partir de agora, portanto, a realeza e o crème de la crème da sociedade árabe vão passar a usar a matéria prima do Vale da Seda, encurtando mais ainda a distância entre as duas culturas.

No fundo, as árabes não são tão diferentes assim das brasileiras, todas são vaidosas de uma forma geral. Segundo Vincenzo, a diferença está nos costumes, em não poder se mostrar em público, mas só em casa, diante do marido e dos familiares, onde têm os mesmos cuidados que qualquer mulher do mundo, intensificado pelo fato de serem bem-nascidas ou  bem-casadas. “Nas festas e casamentos, os homens e as mulheres formam grupos separados, e elas vão querer exibir o que há de melhor no mundinho delas, sempre querendo arrasar”. Pelo jeito, nos haréns e reuniões sociais, a disputa rola solta entre elas. “É coisa de muito luxo. Elas respeitam as tradições, mas são mulheres, não é mesmo? Adoram cristais, gostam de carregar”, completa Vincenzo.

E, nesse exagero, se comparadas às brasileiras, a única diferença está mesmo em usarem a abaya sobre as roupas em público, sem se expor, e de se cobrirem muito mais que as latinas. Dependendo da mentalidade, algumas são mais rígidas quanto aos códigos. Outras, dependendo da família, têm menos apego aos valores tradicionais, mas uma coisa é certa: todas gostam de ser femininas e sexies, amam bordados e pedraria, vestidos trabalhados nos decotes e colarinhos, quase nunca abrindo mão de voluptuosas silhuetas sinuosas, estilo sereia. Por debaixo dos panos, é uma loucura. “Geralmente, são justamente as mais poderosas que estão mais contidas, pois, são as famílias mais ricas que preservam as tradições, mas, por essa razão, elas capricham na beca e investem horrores no brilho e na maquiagem, já que é o rosto de fica de fora, com os cabelos cobertos pelo chador. Elas gastam os tubos em make, embora os cabelos sejam tratadíssimos e existam, por aqui, muitos spas para esse tipo de tratamento”. Bom, com essa primavera árabe fashion com que os meninos da AVVAA estão revolucionando o mercado local de moda, daqui a pouco não vai haver make up suficiente para dar cabo de tudo e completar o visual.