*Por Dr. Gabriel Basílio
Hoje, a reabilitação das crianças que nascem com essa deformidade é completa. Não precisa ser mais uma sentença de muito trabalho ou uma deformidade permanente para quem tem o diagnóstico, ainda na gravidez, de que seu filho vai nascer com a fenda labial ou palatina. Na verdade, existe uma sequência de tratamento que começa desde o nascimento, por isso é importante fazer o diagnóstico o quanto antes. Hoje, com os ultrassons tão modernos, conseguimos identificar isso e, em seguida ao nascimento, começar a fazer o acompanhamento com o cirurgião plástico, que vai encabeçar uma equipe multidisciplinar, formada por pediatria, fonoaudiologia e odontologia. Então, desde o nascimento, a criança pode ter todo esse acompanhamento e vai conseguir ter a sua reabilitação plena dentro de um protocolo que começa com algumas medidas, como uma fitinha no lábio, uma plaquinha no palato para ajudar na sucção. Então, vamos acompanhando com a pediatria e quando ela tiver por volta de quatro ou cinco meses, operamos clinicamente o lábio.
A primeira cirurgia é o lábio, por volta de quatro a seis meses. Então, se o paciente só tem a fenda labial, só terá essa cirurgia. Se ela tem a fenda labial e a fenda palatina, por volta de um ano se opera o céu da boca. Continua-se acompanhando depois da cirurgia do lábio com cirurgião plástico, pediatra, dentista, fono, para poder desenvolver as habilidades pertinentes do desenvolvimento facial dessa criança. Por volta de um ano a um ano e meio, opera-se o céu da boca. Lógico que existem casos e casos, já que é uma deformidade com vários aspectos. Podem ser mais brandas ou mais complexas. Então, você operando nessa fase de um ano e meio, você permite a criança falar e se alimentar de uma maneira adequada, se a cirurgia for bem realizada com a reposição da musculatura do céu da boca, que vai fazer a oclusão da parte da boca, do nariz e da garganta.
Continua-se acompanhando essa criança, principalmente com a fonoaudiologia, porque como a musculatura estava posicionada de maneira errada, ela precisa conseguir falar e se alimentar direito. Para mim, o mais importante na reabilitação é exatamente a fala. Onde você consegue, após a cirurgia do lábio e do palato, reposicionar a musculatura e fazer a criança falar, se comunicar e se alimentar de maneira adequada, sem comprometer o crescimento facial. É nessa fase, até os dois anos de idade, que 80% do crescimento facial acontece. Você continua o acompanhamento dela até os seis, sete anos, quando os dentes caninos começam a crescer dentro do osso da maxila e você tem que preparar uma cirurgia que se chama enxerto ósseo alveolar, quando você tira um pedacinho de outra região, geralmente da bacia, e coloca na região do arco dos dentes, onde vai nascer o canino, para ele ter suporte e conseguir crescer de uma maneira adequada. Você faz essa cirurgia por volta dos seis aos oito anos, logo antes do canino sair no céu da boca.
A última cirurgia ou é uma cirurgia de nariz para a adequação da ponta nasal, da columela, que é essa parte de baixo onde nasce o nariz, ou do dorso nasal, para fazer uma adequação ou uma cirurgia maior, chamada de cirurgia ortognática, onde faz uma adequação dos ossos da mandíbula e da maxila, que podem ter tido o seu desenvolvimento comprometido durante a infância, que a gente opera por volta dos 16 aos 20 anos. Então, é uma sequência de tratamento que é feito no mundo todo. Hoje, a gente sabe que através de três a cinco cirurgias em média e mais o acompanhamento durante a infância e a adolescência, o (a) paciente pode ser totalmente reabilitada, exercendo plenamente as suas funções, como artistas que foram pacientes fissurados ou presidentes ou médicos e até mesmo cantores. O tratamento da fenda labial e palatina hoje é uma realidade, que deve ser compartilhada para todo mundo poder se comunicar e se expressar plenamente.
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