*Por Dr. Alessandro Martins
Em 2019, a cirurgia plástica foi marcada por algumas novidades. Certos procedimentos ganharam espaço na mídia e nos consultórios, outros foram reavaliados e também pudemos observar mudanças de conceitos. Como em todos os anos, as especialidades cirúrgicas tiveram novidades e ajustes de técnicas. Nesse ano, podemos destacar a harmonização facial. Muitas personalidades falaram a favor ou fizeram harmonização facial, o que levou a prática a aparecer muito na mídia. Trata-se de um procedimento excelente realizado com o uso de ácido hialurônico, em que tentamos equalizar as proporções faciais tornando as medidas do esqueleto ósseo mais harmônicas com o uso de um preenchedor.
O procedimento foi muito questionado em relação aos exageros, especialmente na volumização da face. Como em todas as especialidades, é possível se chegar a resultados não-harmônicos, exatamente o oposto da proposta – harmonizar. O aumento excessivo de regiões, como da maçã do rosto, o abuso no aumento dos ângulos da mandíbula (principalmente em homens), mulheres masculinizando a face quando deveria ter sido feito um preenchimento mais sutil, lábios preenchidos demais – tudo isso foi questionado e criticado. Ficou o aprendizado de que menos é mais e que, por isso, é bom que a harmonização seja feita com produtos absorvíveis, pois o efeito tem um tempo de duração. Ou seja, caso fique exagerado, podemos usar a Hialuronidase, enzima que derrete o ácido hialurônico fazendo com que ele seja absorvido, permitindo ao cirurgião corrigir exageros e assimetrias.
Outro procedimento muito falado nesse ano foi a rinomodelação, técnica de preenchimento que melhora o contorno do nariz (ponta caída, giba nasal etc) com o uso de preenchedores. Os resultados estéticos são realmente agradáveis e é importante lembrar que não mexe na parte funcional do nariz, apenas no contorno externo/estético. Mas também pode ter as suas complicações, principalmente se for aplicado de forma incorreta ou no plano incorreto. Os preenchedores devem ser aplicados num plano profundo, bem próximo do osso e das estruturas do nariz, e não em áreas superficiais da pele, para não levar a necroses. Também não se devem usar produtos não-absorvíveis, como o polimetilmetacrilato. O único produto utilizado deve ser o ácido hialurônico, que é uma substância absorvível. Com isso, reduzimos muito os problemas, principalmente com relação à cateterização de vaso pelo ácido hialurônico, porque se ele for infundido, inadvertidamente, dentro de uma artéria, temos o recurso da Hialuronidase para dissolver o ácido e corrigir a obstrução arterial. É muito importante estar atento a qual produto está sendo utilizado nesse procedimento.
A lipoaspiração de alta definição, ou HD, em que se tenta simular os gominhos da musculatura abdominal, também foi muito comentada. Os gominhos que tentam copiar o abdômen definido são feitos de gordura. É preciso ressaltar: nem todo paciente é candidato (pessoas com flacidez e sobrepeso não devem se submeter a esse tipo de lipoaspiração). Aprendemos esse ano que, quando o paciente engorda, a área da lipoaspiração engorda também, e isso pode levar a uma deformidade da parede abdominal, já que os gomos são de gordura e não de músculo. A longo prazo, podem surgir complicações caso o paciente não mantenha dieta, atividade física e controle de peso.
Entre as tecnologias, destaque para o ultrassom microfocado, que foi utilizado para a face por um tempo e, em 2019, teve aplicação em áreas do corpo, diminuindo a flacidez de abdômen, do braço. É uma tecnologia que ainda está em liberação para se saber qual é o resultado a longo prazo no contorno corporal.
Os bioestimuladores, substâncias injetadas no rosto bem próximas à pele, que tentam estimular a produção de colágeno, estiveram na ordem do dia. Entre eles, o carro-chefe foi o ácido polilático, que estimula a matriz celular a produzir colágeno, melhorando a qualidade de pele. Esse ano também foi liberado para ser utilizado no corpo e tem sido muito comum utilizá-lo no bumbum, para melhorar a pele, a elasticidade e as celulites. No entanto, a função dele não é de volumizador, mas de bioestimulador. Ou seja, tem a função de estimular o colágeno para deixar a pele mais firme e mais bonita, diminuindo a flacidez.
Vale destacar também vários itens do mercado da cirurgia plástica que vieram com dupla aplicação. A matriz dérmica tem sido usada nos pacientes queimados e melhorou o resultado das cicatrizes e diminuiu as perdas com a aplicação precoce, inclusive as sequelas das queimaduras. Na área da estética, vieram na cobertura das próteses de silicone, em pacientes que tinham complicações com contraturas capsulares graves, e que já tinham sido reoperados várias vezes mas continuavam formando a mesma contratura capsular. Com a utilização das matrizes dérmicas envolvendo as próteses, não há a formação da cápsula. Com isso, acaba também o problema da contratura. Foram amplamente utilizadas nas reconstruções de mama pós-câncer. Muitas vezes pelo efeito da radioterapia, que é um tratamento do câncer de mama que, quando irradiada, a mama com uso de próteses de implantes, leva a uma alta taxa de contratura capsular. A matriz térmica também resolve esse problema, melhorando a cobertura da prótese, com bom resultado para esses pacientes.
As transferências de gordura, tanto para fins estéticos como reparadores, também marcaram 2019. Os enxertos de gordura estiveram nas regiões da face, melhorando os resultados das cirurgias da face; estiveram nos preenchimentos de lábios; na correção de cicatrizes; nas reconstruções de mama, melhorando a naturalidade com o uso da gordura, que faz com que a mama pareça mais solta, mais parecida com a natural; estiveram na estética na região glútea, com o aumento de bumbum. Até nas próprias mamas estéticas, os enxertos de gordura têm sido utilizados. E têm sido usados como forma de melhorar cicatrizes de queimaduras, com queloides e outras cicatrizes não-estéticas pela presença de células pluripotentes, que podem se transformar e causar regeneração de tecidos.
O ano de 2020 está chegando e, com ele, novas tecnologias surgirão. Provavelmente, alguns procedimentos ou tecnologias que tiveram grande sucesso nos últimos cinco anos poderão ser reinterpretados e julgados não tão bons ou terem sua prática ou sua metodologia de uso alteradas. Assim a cirurgia plástica evolui no decorrer dos anos. Técnicas e materiais novos aparecem, antigos se transformam. Importante é estarmos sempre atualizados para levar o melhor resultado e a melhor informação para nossos pacientes.
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