Dr. Alessandro Martins fala sobre a prevenção dos profissionais de saúde na linha de frente do combate ao Covid-19


Em sua coluna quinzenal, o cirurgião plástico que está ajudando a salvar vidas de pessoas em unidades de tratamento intensivo de hospitais afirma: “A rotina de quem está na linha de frente do tratamento de pacientes com coronavírus depende de ter total amparo para o exercício da profissão com equipamentos de proteção, muita disciplina para que não dissemine a doença, não se contamine e não contamine ambientes da unidade hospitalar”

*Por Dr. Alessandro Martins

Os profissionais de saúde que estão lidando com os pacientes internados com Covid-19 e estão atuando na linha de frente do combate ao coronavírus, seja no atendimento das emergências ou nas unidades de terapia intensiva, cumprem uma rotina de cuidados seguindo normas que devem ser observadas atentamente. O trabalho das equipes tem sido ininterrupto para salvar vidas. Todos os cuidados com esses profissionais também são vitais, pois quando contaminados há uma diminuição do contingente nos hospitais e todos devem pensar também que há uma família que está em contato com quem atua full time para o bem do próximo.

A proteção para que não haja uma contaminação vertical entre os profissionais de saúde e os pacientes é de extrema importância. Além disso, existe o controle de infecção entre os próprios pacientes. Então, temos que ter cuidado na hora da manipulação de um paciente para outro. Não é porque todos os pacientes foram diagnosticados positivo para o Covid-19 que os cuidados não devam ser extremos, porque os pacientes internados mais dias por conta do coronavírus também são candidatos a infecções bacterianas e elas mudam de intensidade de paciente para paciente. Então, todo cuidado é pouco para que não haja a disseminação de bactérias de um paciente internado para outro.

Dr. Alessandro Martins (Foto: Vinicius Mochizuki)

Esses cuidados que temos vão desde a paramentação para que o profissional possa trabalhar dentro da unidade – utilizando as máscaras com filtro de pelo menos 95% (N95), máscara de proteção cirúrgica, óculos, capacete facial, capote e aventais impermeáveis e de mangas longas e luvas. É como se fosse a segunda pele do profissional e assim ele deve trabalhar dentro das normas evitando o contato com as partículas do vírus.

É de extremo cuidado a manipulação da via aérea dos pacientes. Por exemplo, os pacientes que não estão entubados, respiram no ambiente. Então o risco de propagação de aerossol é muito maior. Por isso, técnicas que fazem macronebulização, nebulização com vapor d´água não podem ser utilizadas nestes pacientes, porque isso aumenta a disseminação do vírus. Então, são utilizados os circuitos fechados de oxigênio, cateter de oxigênio, que não provocam o que chamamos de névoa.

Com relação aos pacientes submetidos à ventilação mecânica, temos que ter extremo cuidado quando o tubo é manipulado. As pessoas estão conectadas ao respirador através de um tubo orotraquial. Portanto, toda vez que há troca dos filtros, que são colocados não só para evitar contaminação do paciente – um dos maiores problemas é a possibilidade de desenvolver uma pneumonia com as bactérias chegando diretamente ao pulmão pelo equipamento – como do respirador e do ambiente, eles precisam ser clipados para que o fisioterapeuta, enfermeiro ou médico que manipulam esse tubo não recebam uma carga de aerossol com partículas de vírus e venham a se contaminar. Ou seja: são usadas pinças forte para clampear o tubo impreterivelmente quando houver necessidade de troca de ventilador/ circuitos para reduzir a aerossolização e evitar a contaminação de todo o ambiente e da equipe.

É importante ressaltar que quando o profissional de saúde sai de um setor como o do Covid-19, que a gente chama de área quente, e passa por uma área não contaminada, a fria, não pode utilizar a mesma vestimenta e equipamentos de proteção. Então, deve tirar toda aquela paramentação que ele está, lavar as mãos, passar álcool nas mãos, tirar a toca que protege o cabelo, os protetores de sapatos para que possa entrar em outro ambiente. Caso não haja essa precaução, toda a propagação da doença atinge o hospital que se transforma em uma grande área quente.

Portanto, a rotina de quem está na linha de frente do combate ao Covid-19 e salvando vidas depende de ter total amparo para o exercício da profissão com equipamentos de proteção, muita disciplina para que não dissemine a doença, não se contamine e não contamine ambientes da unidade hospitalar.

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